quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Populismo autoritário e democracia

Quarta, 3 de janeiro de 2010
 Por Ivan de Carvalho
No fim do mês passado li, no Blog do Noblat, um interessante artigo do jornalista Jackson Diehl, diretor da seção de Opinião do jornal The Washington Post. Apresentando o artigo do jornalista americano, que sustenta o fracasso de Hugo Chávez, o blog sintetiza: “Fiasco em Honduras, vitória de Piñera no Chile e crises energética e cambial sinalizam seu ocaso”.
O artigo de Diehl começa com dois parágrafos definidores de quase todo o escrito: “Enquanto o mundo se preocupava com a crise no Haiti, a América Latina passava sem alarde por um momento crucial no conflito ideológico que polarizou a região - e paralisou a diplomacia americana - durante a maior parte da década”, diz o primeiro parágrafo, seguido pelo outro: “O sentido é esse: o "socialismo do século 21" de Hugo Chávez foi derrotado e está a caminho do colapso”.
A partir daí Diehl desenvolve uma análise dos fatos, anotando que “imediatamente antes e depois do terremoto” no Haiti, Chávez “foi obrigado a desvalorizar a moeda venezuelana e a impor – e, em seguida, revogar – cortes significativos de energia na capital, enquanto o país sofria uma severa recessão, com uma inflação de dois dígitos e o possível colapso de sua rede elétrica”. Em seguida lembra o total fracasso da política de Chávez em Honduras em defesa do aliado Manuel Zelaya.
Jackson Diehl fala ainda da eleição do presidente Sebastian Piñera no Chile (derrota da chamada esquerda). Lembra que durante a campanha eleitoral, Piñera disse que “A Venezuela não é uma democracia” e acrescentou: “Dois grandes modelos surgiram na América Latina: um liderado por pessoas como Chávez na Venezuela. Acho que o segundo modelo será melhor para o Chile. Este modelo é o que adotaremos: a democracia, o estado de direito, a liberdade de expressão e a alternância no poder, sem caudilhismo”. A certa altura, escreve Diehl: “Honduras representa o fim da cruzada de Chávez para a exportação de sua revolução. Bolívia e Nicarágua permanecerão seus únicos aliados”. Aqui parece que Dihel esqueceu o Equador ou prevê seu desalinhamento em relação à “ideologia” de Chávez.
Jackson Dihel finaliza sua análise: “... a popularidade de Chávez continua caindo – está abaixo de 50% na Venezuela e de 34% no restante da região. O momento crucial na batalha entre o populismo autoritário e a democracia liberal na América Latina já passou – e Chávez perdeu”.
Bem, as coisas estão cada vez mais complicadas na Venezuela. O governo de Chávez, depois de mudar o regime de câmbio, provocando uma forte desvalorização do bolívar (o que força o aumento de preços dos produtos), acaba de determinar o fechamento temporário (entre duas e 24 horas) de 1.900 empresas por “remarcação de preços e especulação”. Imagino que devem estar em plena ação os “fiscais do Chávez”, como estiveram no Brasil, nos primeiros dias do Plano Cruzado, os “fiscais do Sarney”. Povos enganados.
Ah, e o Colégio Nacional de Jornalista, o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa e o Círculo de Repórteres Gráficos divulgaram um comunicado em que qualificam a liberdade de imprensa como “área de desastre” na Venezuela e dizem que não é "tempo para ser covarde" e sim para se exercer a cidadania com "integridade e dignidade".

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano