Segunda, 13 de setembro de 2010
Por Ivan de Carvalho

Se fosse candidata às eleições presidenciais deste ano, Cacareco talvez usasse o nome de Cacareca, já que a candidata a presidente Dilma Rousseff escolheu ser proclamada candidata a presidenta, palavra que não existe (ou não existia) no vocabulário português.
Presidente é uma palavra neutra, não varia segundo o gênero, mas Lula, Dilma e o marketing da campanha dela resolveram que chamá-la de candidata a “presidenta” a identificaria melhor com o eleitorado feminino, que andava meio arisco em relação a Dilma quando essa decisão foi tomada.
No entanto, do Palácio do Planalto já foram lançados nos últimos oito anos tantos insultos ao idioma de Camões que essa história de “presidenta”, salvo por uma certa dor de ouvido, vem sendo assimilada com bastante naturalidade. Atentado maior contra o vernáculo cometeu o presidente ao decretar o tal acordo ortográfico, que tem se revelado, em nível internacional, um total desacordo, pois tanto Portugal quanto os demais países que usam o idioma português recusam-se até aqui a aplicá-lo.
Tenho a impressão de que o acordo ortográfico foi adotado aqui no Brasil como uma espécie de facilitário. É que há uma imensa parcela da população que enfrenta dificuldades grandes com o idioma. Então, junto com uma ou outra coisa correta – a exemplo da reinclusão das letras K, W e Y e da queda do trema, que já estava mesmo praticamente em desuso – decidiram por simplificar coisas que a muitos pareciam extremamente complexas, a exemplo do uso da crase.
Mas deixa pra lá. Voltemos à Cacareco. A revista Time abriu-lhe espaço e até citou a opinião de um eleitor: “É melhor eleger um rinoceronte do que um asno”. Aliás, deixa também a Cacareco pra lá, já escrevi a respeito. E devo lembrar ainda o Macaco Tião (nome dado em homenagem ao padroeiro do Rio de Janeiro, São Sebastião), que em 1988 teve 400 mil votos para a prefeitura carioca, ficando em terceiro lugar entre 12 candidatos. Está no Guinness World Records como o chimpanzé que recebeu mais votos no mundo.
Agora ninguém pode votar em Cacareco ou no Macaco Tião (ambos já morreram, aliás), mas ainda é possível, para os paulistas, votar em Tiririca para deputado federal. O palhaço está filiado ao PR em coligação com o PT e o PC do B, é considerado “puxador de votos”. Ele aparece em primeiro lugar em São Paulo no conjunto de pesquisas do Ibope para a Câmara dos Deputados. É governista, mas seu slogan é “Pior que tá num fica, vote Tiririca”. Ele pede: “Vote no abestado”. Pode até ser o deputado mais votado do Brasil em 3 de outubro. Candidato “abestado”, eleitor abestado...
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.