Quarta, 13 de outubro de 2010
Por Ivan de Carvalho

É praticamente consenso nos meios políticos – nos quais o que se declara à mídia costuma ser diferente do que se pensa ou mesmo se diz em privado – que a pesquisa Datafolha foi ruim para Dilma Rousseff. É que ela, na votação do primeiro turno, obteve, quanto aos votos válidos, uma vantagem de 14 pontos percentuais sobre José Serra, candidato da coligação liderada pelo PSDB. Mas na pesquisa Datafolha, realizada quase imediatamente após o pleito, essa diferença, tendo em conta só os votos válidos, caiu para oito pontos percentuais. Considerando todas as intenções de voto, a vantagem de Dilma baixou para sete pontos percentuais.
Considerando a pesquisa Datafolha e comparando seus resultados com os do Vox Populi, pode-se avaliar que estes últimos foram bons para Dilma Rousseff: computando-se só os votos válidos, a candidata recuperou um ponto percentual de sua vantagem original (os 14 pontos de frente obtidos na eleição), passando de oito (no Datafolha) para nove (no Vox Populi). Quando se leva em conta a totalidade das intenções de voto, Dilma Rousseff apresenta vantagem de oito pontos (um a mais que no Datafolha, que apontara 48 por cento para Dilma e 41 por cento para Serra).
Ora, o aumento de um ponto na vantagem da candidata petista, em comparação com os números do Datafolha, não é significativo. Está dentro da tal margem de erro e, nas circunstâncias das duas pesquisas, pode ser tido como praticamente irrelevante. O que é relevante é outra coisa: entre uma pesquisa e outra (se ambos os institutos mediram corretamente a posição dos eleitores) parou de aumentar a veloz redução da desvantagem de Serra, passado o tempo da largada. Dilma conseguiu estabilizar-se ou Serra não conseguiu continuar crescendo – ou as duas coisas. Os dois candidatos, entre a pesquisa Datafolha e o dia 11, pelo menos, na questão da intenção de votos, estariam virtualmente paralisados.
2. Em outra frente, a candidata do PT teve um dia atribulado. Reuniu-se com evangélicos aliados e estes lhe propuseram que assine uma carta aberta aos brasileiros, comprometendo-se a, caso eleita presidente, não mandar ao Congresso ou, se este aprovar, apor o veto presidencial a qualquer projeto de lei – bom lembrar que no caso de emenda constitucional o (a) presidente não precisa propor e não pode vetar – que modifique, ampliando ou “flexibilizando, o artigo 127 do Código Penal, que criminaliza o aborto. A carta sugerida pelos evangélicos aliados incluiria também outras questões que têm provocado muita polêmica. Dilma disse que vai estudar a proposta da carta.
3. Enquanto isso, o ex-governador do Rio de Janeiro e deputado mais votado no Estado (695 mil votos), Anthony Garotinho, do PR (partido da coligação liderada pelo PT) e evangélico da Assembléia de Deus, condicionou seu apoio a Dilma Rousseff à revogação imediata, pelo presidente Lula, do decreto editado por ele mesmo, que instituiu o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Ressaltou que a questão do aborto não é o único problema do PNDH-3, assinalando que este também propõe a legalização da prostituição e obriga os hospitais conveniados ao SUS a fazer operação de mudança de sexo, sob pena de perder o convênio. “É um absurdo esse tipo de exigência", disse Garotinho.
Garotinho, na prática, deu um ultimato.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.