Domingo, 28 de novembro de 2010
Deu no site "Auditoria Cidadã da Dívida" Os jornais deste final de semana noticiam a retomada, pela polícia e as forças armadas, dos Complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, sendo que o Governador do Estado anuncia que “o Rio de Janeiro está virando uma página”, e que “Estamos recuperando o Rio de Janeiro de uma situação de décadas de mazelas, de crise econômica, social, de falência política”. Já o Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anuncia que fará uma forte ofensiva de serviços sociais na Penha e no Alemão, com a reforma de escolas, construção de creches e clínicas, e a coleta de lixo.
Ou seja: o governador do Estado do RJ dá a entender que uma operação 
militar em um local específico significaria a melhoria das condições 
gerais de vida no estado, enquanto o Prefeito da cidade do Rio de 
Janeiro propõe uma "invasão de serviços sociais" nestes bairros. 
Porém, cabe ressaltar que as carências sociais de toda a população fluminense – e do país como um todo – são enormes.
Saneamento  
Segundo os últimos dados do IBGE
 (pág 41) no Estado do Rio de Janeiro, apenas 49,2% dos domicílios são 
atendidos por rede geral de esgoto, enquanto no Brasil como um todo, tal
 percentual é ainda menor: 44%. Ou seja: dos 57,7 milhões de domicílios 
brasileiros, ainda restam 32 milhões para serem atendidos.
Os gastos com saneamento em 2009 no Orçamento Geral da União representaram 444 vezes menos que os gastos com a dívida pública.
Educação
No caso da educação, segundo dados recentes do IBGE e do IPEA,
 baseados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009,
 somente 10,6% da população possuem curso superior. Da população de 15 a
 17 anos (população potencial do ensino médio), somente 50,9% está no 
nível de ensino adequado, ou seja, a outra metade está atrasada em seus 
estudos. Dentre os 20% mais pobres, onde estão os habitantes das 
favelas, este percentual é de somente 31,3%, o que significa que muitos 
jovens pobres tem poucas chances de prosperar em seus estudos, até 
porque apenas 66,6% dos alunos que entram no ensino médio conseguem 
concluí-lo. Nas faixas de renda menores, tal percentual deve ser bem 
menor, devido à precariedade do ensino médio público e das condições de 
vida da população mais pobre.
E dos que conseguem concluir o 2º grau, uma pequena fatia consegue entrar na Universidade. Conforme comentado em edição anterior desta seção , no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), cada 30 estudantes disputam uma vaga nas Universidades Federais. 
Segundo o IPEA, os 20% mais ricos têm 5,2 anos de estudo a mais, em média, que os 20% mais pobres.
O que mostra a necessidade de se investir mais tanto no ensino 
público básico como também no ensino público superior, melhorando as 
condições de trabalho dos professores e disponibilizando vagas para 
todos. Porém, os gastos com o endividamento público no Orçamento Geral 
da União de 2009 consumiram mais de 5 vezes o valor de todo o FUNDEB 
(Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de 
Valorização dos Profissionais da Educação), ou 23 vezes mais que os 
gastos federais com educação superior no ano passado.
Emprego
A dificuldade de acumular mais anos de estudo e a necessidade de 
trabalhar leva muitos jovens pobres a um círculo vicioso. Segundo o IBGE,
 na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em outubro de 2010, nada 
menos que 27,9% dos jovens de 15 a 17 anos estavam desempregados. Por 
outro lado, jovens em melhor condição, que não precisam trabalhar, não 
fazem parte da População Economicamente Ativa e por isso não são 
contados como desempregados.
Tal percentual era de 33,1% no mês de outubro de 2002, ou seja, pouca coisa melhorou para os jovens brasileiros nestes 8 anos.
Segurança Pública
Boa parte das armas e drogas que chegam ao Rio de Janeiro – e a 
muitas outras cidades do país – entram pelas fronteiras, onde a 
fiscalização é absolutamente insuficiente, também devido ao 
endividamento público. Em 2008, nada menos que R$ 5 bilhões do FUNDAF - 
Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de 
Fiscalização – foram destinados para o pagamento de amortizações da 
dívida, por força da Medida Provisória 435/2008. Conforme diz o Decreto 
Lei 1.437/1975, o FUNDAF é “destinado a fornecer recursos para 
financiar o reaparelhamento e reequipamento da Secretaria da Receita 
Federal, a atender aos demais encargos específicos inerentes ao 
desenvolvimento e aperfeiçoamento das atividades de fiscalização dos 
tributos federais e, especialmente, a intensificar a repressão às 
infrações relativas a mercadorias estrangeiras..."
Cabe também destacar outras ações do governo federal da área de 
segurança pública, cujos recursos disponíveis não são executados, devido
 à política de priorização de recursos para o endividamento.
Conforme dados do Orçamento Geral da União, dos R$ 24 milhões programados para 2010 para “Construção e Ampliação de Bases Operacionais e Unidades da Polícia Rodoviária Federal”, apenas foram gastos 0,4% até 17 de novembro. Já a ação de “Monitoramento, Controle e Fiscalização Eletrônica da Malha Rodoviária Federal” somente executou 2,5% dos 3,6 milhões programados, e na ação de “Implementação do Projeto de Policiamento Especializado de Fronteira (PEFRON)” nenhum centavo foi aplicado, dos R$ 5 milhões programados.
Além do mais, nesta semana a futura equipe econômica e vários 
governadores mostraram que vão trabalhar contra a aprovação da Proposta 
de Emenda à Constituição (PEC) nº 300 na Câmara dos Deputados, que cria 
um piso salarial nacional para os policiais dos estados. A alegação é 
sempre a mesma: “falta de recursos”, mesmo que a PEC não preveja nenhum 
valor para tal piso, apenas dispondo que o Poder Executivo, num prazo de
 180 dias após a promulgação da PEC, enviará um Projeto de Lei ao 
Congresso estabelecendo tal valor, que pode jamais vir a ser aprovado.
Os recursos federais para a Segurança Pública em 2009 foram 58 vezes menores que os gastos com a dívida.
Como virar esta página? 
Para, de fato, virar a página da exclusão social no país, são 
necessários urgentes e vultosos investimentos sociais, que somente podem
 ser feitos se for enfrentado o endividamento público. Levar saneamento,
 educação, saúde, e muitos outros serviços essenciais a toda a população
 deveria ser uma prioridade maior que o pagamento de uma questionável 
dívida, que deveria ser auditada, segundo a Constituição Federal.
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