Segunda, 3 de janeiro de 2011
Por Ivan de Carvalho

Em princípio, estava tudo tranquilo, havia praticamente um consenso de que, sendo o cargo ocupado por homem ou mulher, a palavra seria presidente, por ser o vocábulo usual e por ser neutro, aplicando-se assim aos dois gêneros, masculino e feminino. Além disso – e apesar dos gramáticos dizerem que tanto presidente quanto presidenta são formas corretas –, talvez por não ser usual, presidenta dói nos tímpanos, pelo menos nos meus.
Durante a campanha eleitoral, no entanto, as pesquisas mostraram com insistência que a candidatura Dilma tinha melhor desempenho entre os eleitores homens do que junto às mulheres eleitoras. Os estrategistas da campanha, especialmente Lula e o setor de marketing comandado por João Santana, recomendaram a Dilma que usasse sempre o termo presidenta, um dos modos de buscar uma aproximação com o eleitorado feminino. Tanto Lula quanto a campanha passaram também a fazer isso.
Mas, ainda que adotado como parte de uma estratégia de marketing político-eleitoral, o termo presidenta continuou soando um tanto estranho. Aparentemente, até mesmo para a própria Dilma Rousseff. Sinal disso é que, mal terminara o segundo turno, talvez mesmo na primeira vez que fez declarações públicas após ser eleita, Dilma vacilou ligeiramente, deu uma paradinha de um segundo para pensar, e disse “presidente”, referindo-se a ela. A eleição passara, já podia.
Mas logo depois terá entrado novamente em cena o setor de marketing e o padrinho político Lula e nos dois discursos do dia 1º de janeiro Dilma Rousseff referiu-se sempre a ela mesma como “presidenta”, consolidando a opção por uma forma feminina da palavra, em detrimento da forma neutra. Fico pensando no caso de ela ser sucedida por um homem que também rejeite a forma neutra e, optando por uma forma ostensivamente masculina, resolva autodenominar-se de “presidento”.
Com esse novo sistema gramatical, a palavra presidente não teria mais lugar no país e seria uma vítima do marketing político.
Mas deixando considerações vernáculas de lado, até porque não sou especialista no assunto, a opção por “presidenta” é uma de diversas decisões ou atitudes bastante notórias para cortejar mentes e corações femininos e eliminar aquela resistência revelada pelas pesquisas eleitorais. Mas é claro que o jogo não pára por aí. Vale lembrar que o eleitorado feminino não foi mais resistente que o masculino somente a Dilma.
Essa resistência maior que a masculina tem sido oferecida pelas mulheres também ao Partido dos Trabalhadores. Então interessa tanto à presidente Dilma – que ela desculpe a teimosia – quanto ao PT as decisões, discursos e atitudes que ressaltam e até homenageiam o lado feminino da população. Busca-se fazer do limão uma limonada.
Este artigo foi publicado na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.