Quinta, 24 de fevereiro de 2011
Da Agência Brasil
Isabela Ribeiro - Repórter
Rio
de Janeiro - A percepção dos moradores do Complexo do Alemão – conjunto
de favelas na zona norte do Rio de Janeiro - em relação à prestação de
serviços públicos na comunidade melhorou pouco com a instalação de uma
unidade de polícia pacificadora (UPP), no ano passado. A avaliação sobre
o tratamento dado pela polícia aos moradores também está abaixo da
média de outras regiões da cidade.
As constatações são do Índice
de Percepção da Presença do Estado divulgado hoje (24) pela Fundação
Getulio Vargas (FGV). A pesquisa entrevistou, em duas etapas (outubro e
janeiro), 1,2 mil moradores de três áreas da cidade: o Complexo do
Alemão, zona A (zona norte e oeste - com exceção da Barra da Tijuca e
Santa Teresa) e zona B (zona sul, Barra da Tijuca e Santa Teresa).
"O
cidadão não percebeu a atuação do Estado nas áreas de infraestrutura
básica, educação e saúde, por exemplo", disse um dos coordenadores da
pesquisa, Fernando de Holanda Barbosa Filho. Por outro lado, foi
observado uma melhora nas áreas de justiça e segurança pública. “Isso
indica que o cidadão não percebeu o Estado entrando para valer,
ampliando a oferta de água ou a coleta de esgoto", explicou.
De
zero a 100, os moradores do Alemão subiram a nota dos serviços de
educação de 59 pontos para 62 pontos entre outubro e janeiro. A nota da
saúde ficou praticamente estável (34 pontos) e a de infraestrutura
básica caiu de 54 para 52 pontos. As notas das zonas A e B para os
mesmos serviços foram de 52 e 47 para educação; 32 e 34 para saúde, e 69
e 72 para infraestrutura.
No indicador que avaliou a segurança
pública, a pesquisa chama atenção para o fato de a comunidade avaliar
que não é bem tratada pela polícia. Embora 72% do moradores aprovem a
UPP e os pontos para ação policial na comunidade tenham passado de 32
para 57, a nota para o tratamento recebido pelos moradores é 49 -
inferior ao das zonas A (68) e B (73).
"A ação policial foi bem
avaliada. É tão bem avaliada no Alemão quanto no restante da cidade. Mas
você não observa o mesmo ocorrendo com o tratamento policial. O morador
do Alemão ainda acha que o tratamento que a polícia dá a ele não é
igual ao que dá no restante da cidade", disse o economista Fernando de
Holanda Barbosa Filho.
A pesquisa da FGV avaliou a percepção dos
cariocas sobre 12 dimensões. Na comunidade pacificada da zona norte,
também identificou pequenos avanços nos indicadores de cidadania como
acesso à justiça, inclusão social e preconceito de gênero. Em
infraestrutura, destaca o aumento da nota de cultura de 45 para 58, o
que deve refletir a inauguração de uma sala de cinema.
"Em todas
as vezes que fomos até o local o cinema estava lotado", contou o
pesquisador. No entanto, segundo ele, somente com a próxima pesquisa,
que deve ser realizada em julho, é que os dados poderão ser confirmados.
"Na próxima leitura saberemos se o aumento das notas está ligado a
euforia da população [com as mudanças trazidas pela pacificação] ou a
melhora nos serviços".