Segunda, 16 de maio
Por Ivan de Carvalho

Não
é que o PMDB não goste de Kassab ou esteja momentaneamente aborrecido com ele.
O partido – que chegou ao auge de seu poder da segunda metade da década de 80
até o fracasso do Plano Cruzado, já em meados do mandato presidencial de José
Sarney (que deveria ser o mandato de Tancredo Neves, se não viesse a Roda Viva
e levasse o destino prá lá) – percebeu afinal, com clareza, que corre risco de
morte.
Esta
percepção tornou-se realmente clara ante os resultados das eleições de 2010 –
principalmente para a Câmara dos Deputados e para os governos estaduais – e
está sendo profundamente analisada pela cúpula do partido e nos setores
intermediários. Presumo que as bases municipais não ignorem o problema, mas, até
onde se nota, ainda não ocorre um debate sério nem mobilização alguma nesse
nível.
Nos
altos escalões, e nos intermediários, sim. O PMDB está discutindo seu destino,
tentando, com as imensas dificuldades de um partido multifacetado em idéias e
interesses, costurar uma estratégia de sobrevivência e recuperação. Olha para o
DEM, ex-PFL, e exorciza a idéia de que “eu sou você, amanhã”. Mas para realizar
exorcismos são necessárias uma fé e uma determinação inquebrantáveis – duas
características que o PMDB não tem revelado há mais de 15 anos, pelo menos.
Mas,
e o projeto de Kassab, o que tem com o PMDB? Muito. O PMDB, em 2008, apoiou
Kassab para prefeito e Kassab esperava ter o PMDB apoiando o candidato do PSD a
prefeito nas eleições de 2010. E apoiando ele próprio, Kassab, se Deus quisesse
e o PMDB tivesse força para se descolar do PT e do governo federal, nas
eleições para governador em 2014.
Mas
nas articulações de uma estratégia de reconstrução, o PMDB parece estar
considerando seriamente a idéia de que “time que não disputa campeonato não faz
torcida”. Daí que já anunciou, certamente com mais de um objetivo, dois
possíveis nomes para presidente da República em 2014 – o do vice-presidente da
República, Michel Temer e o do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
E
em São Paulo?
Em São Paulo,
o homem que controlava a máquina do partido há décadas, o ex-prefeito de
Campinas, ex-senador e ex-governador Orestes Quércia, sempre na oposição ao
petismo, morreu. Deixou um vazio. A direção do PMDB trata de preencher esse
vazio voltada para o futuro próximo. Daí que Michel Temer convidou o muito bem
votado e popular deputado Gabriel Chalita, que já foi do PSDB antes de mudar
para o PSB, para ingressar no PMDB e ser candidato a prefeito. Chalita topou e
já no PMDB, lançado candidato, mesmo sob risco de perder o mandato parlamentar,
para o qual parece estar se lixando.
Mas
o PMDB não parou aí. Foi buscar também no PSB (este partido está em evidente
maré vazante em São Paulo)
o empresário Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo, para entrar no PMDB e ser candidato a governador em 2014 (a não ser
que haja algum problema com Chalita, caso em que Skaf já concorrerá
logo a prefeito em 2012). Skaf foi o candidato do PSB a governador paulista no
ano passado. Com Chalita e Skaf, Kassab não pode pensar no PMDB como aliado.
Nem o PT. Isto no primeiro turno, claro, porque o segundo turno, se não é outra
eleição, é, pelo menos, outra história.
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Este artigo foi publicado
originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.