quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Oposição ganhou o dia

Quarta, 3 de agosto de 2011 
Por Ivan de Carvalho
Ontem, a oposição conseguiu 27 assinaturas para criar no Senado Federal a CPI da Corrupção – uma comissão parlamentar de inquérito destinada a investigar as graves denúncias de irregularidades no Ministério dos Transportes e em outras três pastas. O senador Reditario (sic) Cassol, do PP de Rondônia e suplente em exercício do senador Ivo Cassol, do mesmo partido governista, foi o último a assinar.
 
    A oposição já anunciara há alguns dias que recolhera 23 assinaturas e manifestara muita esperança em obter as quatro que faltavam para apresentação de um requerimento com os requisitos que tornam automática a criação da comissão. Se o governo não conseguir reverter a situação, convencendo alguém a desassinar (o neologismo é plenamente justificável ante o que se tem visto reiteradamente no Congresso), a CPI estará criada.
 
    Se a oposição contava com 23 assinaturas, a conjuntura de forte descontentamento na base governista tornava provável a obtenção das outras quatro necessárias. Uma delícia especial para os baianos é que, entre os quatro governistas que assinaram ontem, está o senador baiano João Durval, do PDT. Zezé Perrella, do PDT de Minas Gerais e Ricardo Ferraço, do PMDB do Espírito Santo, completam o quarteto rebelde, melhor dizendo, os que parecem não aceitar que o Congresso passe ao largo das denúncias de corrupção em vários ministérios.
 
    Resta saber, se ninguém desassinar o requerimento da CPI da Corrupção, quanto vai catimbar o presidente do Senado, José Sarney, para segurar a instalação da CPI, na tentativa de suprir a falha política do governo, que mesmo com ampla maioria não conseguiu impedir que se completasse a coleta de assinaturas. Assim, ainda que não servindo à nação, que tem direito à transparência financeira da administração e à sua investigação por uma CPI, estará o maranhense do Amapá servindo a um governo que não quer nem que ministros e outros altos funcionários sejam convocados por comissões técnicas do Congresso para explicar as denúncias, muito menos que seja criada uma CPI. Dizia Ulysses Guimarães que “uma CPI, a gente sabe como começa, mas não sabe como acaba”.
 
    Certamente que é uma coisa não vista nas últimas décadas uma CPI ser criada já no sétimo mês de um governo federal. E é desconfortável para um governo que está precisando de tranquilidade para acertar as coisas (algumas delas, polêmicas) da Copa do Mundo, para se ajustar à crise internacional na economia e nas finanças, considerando-se obrigado a subir os juros para tentar conter a inflação, o que desvaloriza o dólar, valorizando o real e prejudicando as exportações.
 
    Para completar, anda por aí o ex-presidente Lula a desprender a língua em comentários de que a presidente Dilma deveria dialogar, ser menos linha dura, afagar os congressistas e partidos, mostrar-se maleável. Isso não só deixa mal a presidente como estimula descontentamentos, na medida em que se sugere que nada se faz para atenuar insatisfações. Lula quer que Dilma faça como ele fazia, mas Dilma não é Lula. Não chama para conversar política, o que não lhe apetece, manda Ideli Salvatti, que não salva coisa nenhuma. Tanto que ontem, além da CPI, os sete senadores do governista PR – sem esperar e, portanto, contrariando a Executiva Nacional, que ia se reunir para avaliar as conseqüências do que acontece no Ministério dos Transportes – assinaram documento em que rompem com o bloco de apoio ao governo no Senado, embora mantendo a posição governista. Mas de fora do bloco, com autonomia. E cobram do governo tratamento tão severo quanto ao que vem sendo dado ao PR para outras legendas também alvejadas por denúncias.
 
    O governo não vai fazer isto, não é chegado a um seppuku, mas só a cobrança dos senadores do PR já deixa a oposição feliz da vida.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.