Segunda, 24 de outubro de
2011
Por Ivan de Carvalho

A observação do
ex-governador de Brasília, cargo para o qual, na ocasião, foi eleito pelo PT, é
oportuna, adequada, afiada. Mas nada tem de genial. Eu mesmo, há dias, já havia
pensado isto e se não escrevi a frase neste espaço foi por falta de
coincidência entre o momento do pensamento e o momento em que sentei diante do
computador para redigir, perdão, digitar. A memória não me socorreu.
De resto, estou certo de
que, antes mesmo do senador registrar seu pensamento no Twitter, milhares de
cidadãs e cidadãos brasileiros já haviam chegado à conclusão a que ele chegou
sobre a incompetência ou inutilidade do “pessoal da Inteligência” da
Presidência da República.
E se milhares já haviam
chegado a essa conclusão, certamente milhões, muitos milhões de cidadãs e
cidadãos já haviam pelo menos percebido que somente depois de denúncias feitas
pela mídia ou por intermédio dela a presidente toma conhecimento dessas coisas
feias. Ressalvando-se que tomar
conhecimento não é sinônimo de dar uma solução. Às vezes a solução, mesmo
incompleta, vem dias depois da denúncia, a exemplo dos casos Palocci, Wagner
Rossi, Pedro Novais. Outras vezes, além da demora, a solução, mesmo incompleta,
porque limitada ao afastamento do cargo, só vem depois de alguma peremptória
afirmação de confiança no denunciado (caso, por exemplo, do ex-ministro dos
Transportes, Alfredo Nascimento, presidente do PR).
Nesse caso do ministro do
Esporte, Orlando Silva, patrocinado e escorado pelo PC do B, a queda deve
acontecer, pois a mídia vem acrescentando denúncia sobre denúncia e o
procurador geral da República aponta “fatos”, mas vem sendo adiada porque não
se quer irritar mais ainda o PC do B, antigo e fiel aliado do PT. Então,
espera-se que os denunciantes apresentem “as provas”, enquanto se ignora que os
“fatos” estão aí disponíveis para exame, alguns já há alguns dias.
Mas, afinal, se as
denúncias aguardam “as provas” – aliás, já prometidas e anunciadas pelo
principal, mas não único, denunciante – e os “fatos” do procurador geral
Roberto Gurgel estão aí, o que é que faz a Agência Brasileira de Inteligência,
a ABIN, que só existe para obter informações e passá-las, analisadas, à
presidente da República?
Seria mesmo o caso de a
presidente Dilma Rousseff “demitir seu pessoal de Inteligência”, como sugere o
senador Cristovam Buarque, a não ser, no que naturalmente nem eu nem você,
leitor, estaremos querendo acreditar, que esse pessoal esteja cumprindo
zelosamente seu dever e não esteja encontrando correspondência. Será que, com
suas afirmações de que ministros denunciados devem ter “casco duro” e suas
intimações ao ministro Orlando Silva e ao PC do B para que resistam, o
ex-presidente Lula está sabotando a ABIN nos efeitos do seu trabalho?
Bem, mais deixa pra lá. Que se danem. Em um país onde proliferam espertas e contraditórias ONGGs (Organizações Não Governamentais Governamentais, que surrupim o dinheiro público), não há que se surpreender-se com uma ABINB - Agência Brasileira de Inteligência Burra.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.