Terça, 24 de julho de 2012
Por Ivan de Carvalho

Ele ainda se deu ao luxo de argumentar que,
segundo pesquisas, está bem avaliado no interior do Estado, atribuindo isso à
administração que faz na capital e ao trabalho feito por seu pai, João Durval,
quando foi governador. Assim, João Henrique considera “natural” uma caminhada
para o Palácio de Ondina. Numa estocada implícita, mas evidente, no governador
Wagner, às voltas com a greve dos professores, lembrou que o senador João
Durval, quando governou a Bahia, valorizou o funcionalismo, um exemplo que João
Henrique diz ter seguido na capital. Quer dizer: já começou a campanha para
2014.
É uma hipótese razoável que João Henrique possa
estar pensando tanto em suceder a Jaques Wagner quanto numa cadeira de senador
ou mesmo de vice-governador. Mas ele fixa o alvo preferencial e deixa os outros
como meras alternativas.
Hoje, é costume dizer que o futuro político dele não
existe – pelo menos quanto às eleições majoritárias de 2014 –, mas só negará
que o prefeito é um visionário e se considera um predestinado quem não o
conhece. “Eu, que sou cego, mas só peço luzes, que sou pequeno, mas só fito os
Andes”, dizia em seus versos o poeta Castro Alves. João Henrique deve ter lido
isso. Só olha para cima.
E sobe. Vereador, com atuação de destaque,
inclusive (os adversários dizem que sobretudo) na mídia. Deputado estadual,
também com destaque, como simples vice-presidente da Comissão de Defesa do
Consumidor. Soube usar o mandato e o cargo para tornar-se conhecido, com
impressionante senso midiático, como defensor dos consumidores.
E então, sem que ninguém previsse com razoável
antecedência – a não ser, provavelmente, ele próprio – lançou-se candidato a
prefeito por um pequeno partido na Bahia, o PDT. Deu o grande salto quando,
percebido como grande oportunidade pelo PSDB, ganhou o apoio deste partido. Com
isso, a candidatura adquiriu credibilidade política e assegurou tempo
confortável na propaganda eleitoral “gratuita” na televisão e no rádio. O apoio
tucano facilitou novas adesões partidárias. E assim ele chegou ao Palácio Thomé
de Souza.
Na reeleição, estabeleceu-se um consenso geral de
que era impossível. Ele fez uma manobra política impressionante, entrando no
PSDB e ganhando a ajuda do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima,
para obras na cidade e para a campanha, além do tempo do PMDB para TV e rádio.
Foi reeleito, enfrentando o PT e aliados, o governo do Estado, o governo
federal e até o PSDB, com o qual já estava rompido. Foi um caso de passarinho
comer onça.
Pois aí está João Henrique outra vez, com a sua
rejeição, tão falada em 2008. Interessante é que, não podendo o governador
Wagner disputar nova reeleição, o PT está sem candidato natural. Na aliança
governista existiriam alternativas fora do PT, mas aposto a pele que o PT não
abre mão da candidatura própria ao governo. Nas oposições o panorama também não
é animador – ACM Neto, se estiver na prefeitura teria dificuldade em deixá-la
e, se não estiver, poderá disputar o governo, mas após ter perdido duas
eleições seguidas para prefeito. Paulo Souto se desmobilizou. Geddel e o PMDB
precisariam crescer muito. Se fica assim, tudo japonês, porque não João
Henrique, ele pensará – ou já está pensando.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.