Quarta, 1 de agosto de 2012
Por Ivan
de Carvalho

Bem,
o ex-presidente, que já se qualificou como uma “metamorfose ambulante” sem
pedir licença e nem pagar direitos autorais aos sucessores de Raul Seixas, está
procurando manter a coerência, pelo menos no vídeo gravado para a campanha do
candidato. Ambos são do PT e Lula atualmente não é presidente da República e,
portanto, está absolutamente desembaraçado – ressalvados esforços demasiados
por conta de sua recuperação do tratamento de um câncer na laringe – para atuar
em favor dos candidatos de seu partido. Entre eles, Pelegrino, que durante um
certo período do primeiro mandato de Lula teve o destaque de líder do PT na
Câmara dos Deputados.
Há
coerência em Lula também quando diz que não só vai pedir votos para Pelegrino
como, se votasse em Salvador, votaria nele. Seria espantosamente surpreendente
se, votando aqui, pedisse votos para Pelegrino e votasse em algum outro
candidato a prefeito. O vídeo é um primor de rendundância. Provavelmente, nunca
antes neste país se “redundou” tanto em tão pouco tempo numa frase tão curta.
Mas
não importa isso ao candidato da coligação liderada pelo PT. Importa que Lula
falou e Lula programa a vinda, que até pode não ser a única da campanha, pois
nos bastidores comenta-se que ele virá à capital baiana duas vezes durante a
campanha eleitoral. Além de ajudar seu partido e o respectivo candidato, Lula
ao mesmo tempo atende à conveniência política e eleitoral do governador Jaques
Wagner, que luta pelo PT e aliados na capital – considerada fundamental – e no
interior.
O
governador, diferentemente de outras fases do seu período no governo, que acaba
de completar cinco anos e sete meses, está, assim como a campanha de Pelegrino,
precisando de ajuda. Houve desgastes do governo estadual e um desgaste popular
acentuado do próprio governador, se valerem os dados publicados esta semana
pelo Correio da Bahia, dando conta da pesquisa que o jornal encomendou à
empresa Futura.
A
greve da Polícia Militar, a greve dos professores, o aumento da criminalidade e
da violência mostrada amplamente pelos programas policiais de várias emissoras
de televisão – reforçando continuadamente a sensação de insegurança da
população baiana e especialmente da Região Metropolitana de Salvador; uma
retração da economia nacional (diferentemente do que aconteceu durante o
primeiro mandato do governador Wagner e segundo mandato de Lula), que levou a
restrições orçamentárias sérias no Estado, dificultando o investimento em obras
e serviços públicos, desgastaram popularmente o governador e seu governo, que
em termos de marketing político talvez não tenha muito a oferecer ao candidato
a prefeito de Salvador.
Assim,
a participação de Lula (e eventualmente de Dilma, com quem Wagner tem amizade
consolidada, mas tem um problema na existência de um candidato de partido
aliado em Salvador, Mário Kertész, do PMDB) vem mesmo a calhar para a campanha
de Pelegrino. E para o governador, que depende muito das eleições deste ano
para preparar as de 2014.
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Este artigo foi publicado
originalmente na Tribuna da Bahia.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.