terça-feira, 18 de setembro de 2012

História sem fim

Terça, 18 de setembro de 2012
 Por Ivan de Carvalho

A revista Veja publicou uma reportagem baseada, segundo informou, “em revelações de parentes, amigos e associados” de Marcos Valério, um dos operadores financeiros do Mensalão. O conteúdo da reportagem publicada na edição desta semana da revista é bombástico e, entre as várias informações que o constituem, a mais explosiva é a de que o ex-presidente Lula não apenas sabia do esquema chamado de Mensalão pelo presidente do PT, Roberto Jefferson, mas detinha o comando do esquema. E que esteve com Marcos Valério do Palácio do Planalto.

           A repercussão nacional da reportagem foi instantânea e não poderia ser diferente. Dois fatos tornam a reportagem ainda mais crítica do que seria normalmente – a proximidade das eleições de 7 de outubro e o julgamento, em curso, do escândalo do Mensalão (Ação Penal 470) pelo STF. São certamente esses fatos duas das principais razões pelas quais a mídia nacional e até mesmo os partidos de oposição estão tratando com cautela máxima e notória discrição a reportagem-denúncia de Veja. Outras razões talvez existam. Pelo que contém a reportagem é intuitivo que sim.

            A reportagem recebeu três desmentidos importantes até a noite de ontem. Um, esquisito, do advogado de Marcos Valério. Primeiro, disse que não desmentiria nem confirmaria a reportagem, porque “não houve entrevista” de Valério. Depois, disse que conversou com Valério e este desmentiu tudo, incluindo o conteúdo da reportagem. Diante disso, a Veja e a credibilidade de sua reportagem – que seria seguida por algumas outras matérias aprofundando o mesmo tema – ficam numa posição incômoda.

            No domingo, o jornalista Reinaldo Azevedo, em seu blog abrigado no site de Veja, insistiu com os “petralhas” para que cobrassem da revista a divulgação da “fita”, isto é, de gravações que comprovassem a reportagem. Dava a entender claramente que os “petralhas”, ao contrário de seu comportamento em outras ocasiões, estavam “quietinhos”, não estavam pedindo a fita, por temerem que ela fosse mesmo apresentada, por saberem que existia. Mas, no twitter, algumas pessoas ligadas ao PT e, em maior número, pessoas independentes, começaram a pedir a divulgação da fita.

            Ontem, os rumores e algumas notícias apontavam para a existência da fita. E para um impasse na Veja: a fita seria, na realidade, uma entrevista de Marcos Valério, que no entanto a teria concedido sob a condição de que o que nela disse fosse divulgado como revelações colhidas junto a parentes, amigos e associados dele. A negativa do conteúdo da reportagem em nome de Valério, por seu advogado, teria rompido o trato, tornando legítima a divulgação da fita, como prova das revelações de Valério contidas na reportagem. Mas da sucursal de Brasília, que fizera a reportagem, teria surgido uma objeção à divulgação da fita. O assunto ainda estaria para ser resolvido.

            Os dois outros desmentidos a que me referi: em São Paulo, o governador Jaques Wagner declarou: “Até onde eu sei, Lula nunca esteve com Marcos Valério”. Paulo Okamoto, um muito conhecido amigo de Lula e que, segundo parte do noticiário, seria o responsável por acalmar e ajudar Marcos Valério nas crises emocionais e necessidades materiais, disse que somente soube da existência de Valério depois que estourou o caso do Mensalão. Mas, neste caso, e daí?

            O PSDB preparou minuta de um pedido ao Ministério Público para instaurar uma investigação a partir da denúncia de Veja, mas discute o assunto hoje com o Democratas e o PPS para chegar a uma decisão. E o procurador geral da República, Roberto Gurgel, indicou que o Ministério Público Federal deve examinar o caso, mas somente após o julgamento do Mensalão, para não tumultuar o julgamento.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.