Segunda, 17 de setembro de 2012
Por
Ivan de Carvalho
Vendo
que seu partido e ele próprio estavam sendo envolvidos, sem acompanhantes, em
um escândalo de corrupção que parecia ter como foco os Correios – então um
feudo do PTB no governo Lula –, o presidente nacional deste partido, Roberto
Jefferson, foi ao então presidente Lula, denunciou um grande esquema de
corrupção, que chamou de Mensalão, abrangendo o PT e várias outras legendas e
teve o cuidado de deixar claro que teve a impressão de que o presidente não
sabia de nada e que reagira à revelação como alguém que houvesse tomado “uma
facada nas costas”.
Marconi
Perillo, do PSDB e hoje governador de Goiás envolvido nas investigações do caso
Carlinhos Cachoeira, é considerado um inimigo por Lula. Não por esse
envolvimento, mas por motivo anterior. É que Perillo, quando Roberto Jefferson
anunciou que denunciara o Mensalão a Lula, disse publicamente que ele, Perillo,
já havia denunciado o mesmo esquema de corrupção ao presidente da República.
Essa declaração de Perillo foi, naturalmente, muito incômoda.
Algum
tempo depois da denúncia de Jefferson, em meio a profunda crise política, o
próprio presidente da República encarregou-se de assegurar à nação que não
sabia de nada. Mas não negou a existência do esquema de corrupção denunciado
por Jefferson. Pelo contrário, quando a crise atingiu o auge, Lula foi à
televisão, em rede nacional, e pediu desculpas ao povo brasileiro, alegando que
fora traído. Não identificou os traidores. Nem então, nem nunca.
Quando,
anos depois, deixou a presidência da República, o fez com a disposição de
dedicar-se a desmontar “a farsa do Mensalão”. O escândalo manchava a história
do PT, de seu governo e sua própria biografia política, pois, se inocente e traído,
passara atestado de tolo. Um atestado enorme.
Acontece
atualmente o julgamento do Mensalão – a Ação Penal 470 – no Supremo Tribunal
Federal. E então um dos réus, exatamente aquele que fez a denúncia do Mensalão
e, na ocasião, pareceu isentar Lula de responsabilidade, Roberto Jefferson,
sugeriu que estava faltando no julgamento o ex-presidente Lula. E o advogado do
presidente do PTB neste julgamento, Luiz Francisco Barbosa, acusou o
ex-presidente Lula de ser, ao invés de Dirceu, como quer a denúncia, o
verdadeiro mandante, afirmando que Lula “não só sabia como ordenou o
desencadeamento de tudo isso. Aqueles ministros eram apenas executivos dele”,
disse o advogado, referindo-se a José Dirceu (ainda sem sentenças), Luiz
Gushiken (absolvido por unanimidade por falta de provas, segundo recomendação,
inclusive, do procurador geral da República, Roberto Gurgel) e Anderson Adauto
(ainda sem sentenças).
Há
uma frase esquisita do ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que começa
a ser julgado hoje pelo STF. Pela acusação de corrupção ativa. A acusação de
formação de quadrilha contra ele e outros será examinada na última fase do
julgamento. O advogado de Jefferson lembrou que Dirceu disse certa vez que não
fazia nada sem o conhecimento de Lula. E acusou Roberto Gurgel de prevaricação
por haver “sentado em cima” de um pedido formal para incluir Lula entre os réus
da Ação Penal 470, com base na doutrina do “domínio do fato”.
Bem,
depois de tudo isso, estoura a reportagem da revista Veja com afirmações que Marcos Valério – muito conhecido como um
dos homens do dinheiro do Mensalão – teria feito a parentes, amigos e aliados
após sofrer algumas condenações e na expectativa de outras. Nessas afirmações,
Marcos Valério põe Lula no centro do esquema do Mensalão. O advogado de Valério, Marcelo Leonardo, num
primeiro momento disse ao jornal Folha de
S. Paulo que não confirmaria nem desmentiria, pois “não houve entrevista”,
mas depois mudou de atitude: disse que conversou com Valério e este desmentiu tudo.
Há grande expectativa sobre os próximos desdobramentos.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.