Sábado, 15 de setembro de 2012
Da Revista Veja, 15/9/2012
Diante da perspectiva de terminar seus dias na cadeia, o publicitário começa a revelar os segredos que guardava - entre eles, o fato de que o ex-presidente sabia do esquema de corrupção armado no coração do seu governo
Rodrigo Rangel
NO INFERNO - O empresário Marcos Valério, na porta da
escola do filho, em Belo Horizonte, na última quarta-feira: revelações
sobre o escândalo
(Cristiano Mariz)
Dos 37 réus do mensalão, o empresário Marcos Valério é o único que não
tem um átimo de dúvida sobre o seu futuro. Na semana passada, o
publicitário foi condenado por lavagem de dinheiro, crime que acarreta
pena mínima de três anos de prisão. Computadas punições pelos crimes de
corrupção ativa e peculato, já decididas, mais evasão de divisas e
formação de quadrilha, ainda por julgar a sentença de Marcos Valério
pode passar de 100 anos de reclusão. Com todas as atenuantes da lei
penal brasileira, não é totalmente improvável que ele termine seus dias
na cadeia.
Apontado como responsável pela engenharia financeira que possibilitou
ao PT montar o maior esquema de corrupção da história, Valério enfrenta
um dilema. Nos últimos dias, ele confidenciou a pessoas próximas
detalhes do pacto que havia firmado com o partido. Para proteger os
figurões, conta que assumiu a responsabilidade por crimes que não
praticou sozinho e manteve em segredo histórias comprometedoras que
testemunhou quando era o "predileto" do poder. Em troca do silêncio,
recebeu garantias. Primeiro, de impunidade. Depois, quando o esquema
teve suas entranhas expostas pela Procuradoria-Geral da República, de
penas mais brandas. Valério guarda segredos tão estarrecedores sobre o
mensalão que ele não consegue mais guardar só para si - mesmo que agora,
desiludido com a falsa promessa de ajuda dos poderosos a quem ajudou,
tenha um crescente temor de que eles possam se vingar dele de forma
ainda mais cruel.
Feita com base em revelações de parentes, amigos e associados, a
reportagem de capa de VEJA desta semana reabre de forma incontornável a
questão da participação do ex-presidente Lula no mensalão. "Lula era o
chefe", vem repetindo Valério com mais frequência e amargura agora que
já foi condenado pelo STF. Assinada pelo editor Rodrigo Rangel, da
sucursal de Brasília, a reportagem tem cinco capítulos - e o primeiro
deles pode ser lido abaixo: