quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Atos de solidariedade

Quarta, 5 de novembro de 2012 
Por Ivan de Carvalho
Bem, não se deve negar a ninguém o direito de espernear. O julgamento do processo do Mensalão pelo STF veio chamar a atenção do país para esse direito inalienável, de vez que há várias pessoas e entidades importantes de pernas para o ar, que é a melhor posição para exercer o jus esperneandi.

            Um dos maiores entusiastas nessa atividade é o principal dos réus condenados no processo, o ex-ministro-chefe da Casa Civil e ex-presidente do PT, José Dirceu. Outro é o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoíno.

            O PT tem se esforçado em demonstrar solidariedade a alguns de seus principais líderes, atingidos de uma forma ou de outra pelo escândalo do Mensalão e respectivo processo. José Dirceu foi o primeiro e principal alvo das manifestações de desagravo, havendo também alguma manifestação (bem mais modesta) de solidariedade a José Genoíno. “Nosso Delúbio”, como o chamava Lula, não tem merecido do PT qualquer solidariedade pública.

            Em verdade, quando o PT manifesta solidariedade a uns e outros de seus quadros, não está visando somente a confortá-los pessoalmente e defendê-los sob o aspecto político. O PT está defendendo a si mesmo, está esperneando em sua própria defesa, pois o partido sabe que sua imagem está indissoluvelmente ligada ao Mensalão e, portanto, à repercussão pública que o julgamento do caso pelo Supremo Tribunal Federal obteve.

            A julgar pelo que anuncia agora o presidente do PT na Bahia, Jonas Paulo, a imagem de Luiz Inácio Lula da Silva também está ameaçada. Lula não foi investigado, nem indiciado, nem denunciado nem réu no processo do Mensalão, mas foi sob o seu governo que a grande manobra de cooptação financeira de maioria no Congresso se desenvolveu e, de acordo com o julgado no STF, sob o comando de alguém que ocupava o segundo mais importante lugar no Palácio do Planalto, apenas um andar acima daquele em que o presidente trabalhava.

            Lula disse que não sabia de nada, deixou Roberto Jefferson dizer que ele parecia de nada saber e que ao ser informado deu a impressão de que recebera “uma facada nas costas”, enquanto o tucano Marconi Perillo, hoje governador de Goiás, dizia que avisara a Lula do que estava acontecendo antes de Jefferson fazê-lo. E Lula nada fez que se saiba, até que Jefferson avisou a ele – e imediatamente depois a toda a torcida do Flamengo e do Corinthians. Esse aviso amplo, geral e irrestrito foi essencial para a coisa ficar feia. E, ficando ela feia, o então presidente foi à televisão e, contrito, afirmou que havia sido “traído”, enquanto, humilde, pediu desculpas à nação. Mas nunca disse o nome de sequer um dos traidores. Ele sabe que há na população uma grande parcela de curiosos, mas os esnobou. Nisto, foi cruel.

Bem, o presidente petista Jonas Paulo anuncia um ato público, no dia 13, para declarar solidariedade a Lula e outros líderes petistas. Isso, diante da ofensiva da mídia (a parte que não é chapa branca, presumo). O PT não pode, explica, ficar inerme ante os ataques dos “conservadores”. Esse ato público, que, imagino, vai multiplicar-se pelo país, vem bem a tempo de solidarizar-se com Lula ante a enorme dificuldade que sua imagem política novamente enfrenta, desta vez por causa da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal e que tem como figura central Rosemary Noronha, chefe do gabinete da Presidência em São Paulo até a semana passada.

Entre várias outras coisas, ela teria, segundo o ex-governador fluminense Anthony Garotinho escreveu no seu blog, entrado em Portugal – numa viagem em que integrava a comitiva de Lula – com 25 milhões de euros (R$ 68 milhões) em sua mala diplomática. No Senado, a oposição, que só tem 15 senadores, mas tenta recolher 27 assinaturas para criar uma CPI – ou mostrar quem é contra investigar e quem é a favor.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.