Quarta, 5 de
novembro de 2012
Por Ivan de
Carvalho

Um
dos maiores entusiastas nessa atividade é o principal dos réus condenados no
processo, o ex-ministro-chefe da Casa Civil e ex-presidente do PT, José Dirceu.
Outro é o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoíno.
O
PT tem se esforçado em demonstrar solidariedade a alguns de seus principais
líderes, atingidos de uma forma ou de outra pelo escândalo do Mensalão e
respectivo processo. José Dirceu foi o primeiro e principal alvo das
manifestações de desagravo, havendo também alguma manifestação (bem mais
modesta) de solidariedade a José Genoíno. “Nosso Delúbio”, como o chamava Lula,
não tem merecido do PT qualquer solidariedade pública.
Em
verdade, quando o PT manifesta solidariedade a uns e outros de seus quadros,
não está visando somente a confortá-los pessoalmente e defendê-los sob o
aspecto político. O PT está defendendo a si mesmo, está esperneando em sua
própria defesa, pois o partido sabe que sua imagem está indissoluvelmente
ligada ao Mensalão e, portanto, à repercussão pública que o julgamento do caso
pelo Supremo Tribunal Federal obteve.
A
julgar pelo que anuncia agora o presidente do PT na Bahia, Jonas Paulo, a
imagem de Luiz Inácio Lula da Silva também está ameaçada. Lula não foi
investigado, nem indiciado, nem denunciado nem réu no processo do Mensalão, mas
foi sob o seu governo que a grande manobra de cooptação financeira de maioria
no Congresso se desenvolveu e, de acordo com o julgado no STF, sob o comando de
alguém que ocupava o segundo mais importante lugar no Palácio do Planalto,
apenas um andar acima daquele em que o presidente trabalhava.
Lula
disse que não sabia de nada, deixou Roberto Jefferson dizer que ele parecia de
nada saber e que ao ser informado deu a impressão de que recebera “uma facada
nas costas”, enquanto o tucano Marconi Perillo, hoje governador de Goiás, dizia
que avisara a Lula do que estava acontecendo antes de Jefferson fazê-lo. E Lula
nada fez que se saiba, até que Jefferson avisou a ele – e imediatamente depois
a toda a torcida do Flamengo e do Corinthians. Esse aviso amplo, geral e
irrestrito foi essencial para a coisa ficar feia. E, ficando ela feia, o então
presidente foi à televisão e, contrito, afirmou que havia sido “traído”,
enquanto, humilde, pediu desculpas à nação. Mas nunca disse o nome de sequer um
dos traidores. Ele sabe que há na população uma grande parcela de curiosos, mas
os esnobou. Nisto, foi cruel.
Bem, o presidente petista
Jonas Paulo anuncia um ato público, no dia 13, para declarar solidariedade a
Lula e outros líderes petistas. Isso, diante da ofensiva da mídia (a parte que
não é chapa branca, presumo). O PT não pode, explica, ficar inerme ante os
ataques dos “conservadores”. Esse ato público, que, imagino, vai multiplicar-se
pelo país, vem bem a tempo de solidarizar-se com Lula ante a enorme dificuldade
que sua imagem política novamente enfrenta, desta vez por causa da Operação
Porto Seguro, da Polícia Federal e que tem como figura central Rosemary Noronha,
chefe do gabinete da Presidência em São Paulo até a semana passada.
Entre várias outras coisas, ela
teria, segundo o ex-governador fluminense Anthony Garotinho escreveu no seu
blog, entrado em Portugal – numa viagem em que integrava a comitiva de Lula – com
25 milhões de euros (R$ 68 milhões) em sua mala diplomática. No Senado, a
oposição, que só tem 15 senadores, mas tenta recolher 27 assinaturas para criar
uma CPI – ou mostrar quem é contra investigar e quem é a favor.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.