terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O ano, o mundo, o PT

Quarta, 1 de janeiro de 2012
Por Ivan de Carvalho*
Terminado o ano em que o mundo não acabou, começou hoje um novo ano, sobre o qual não se pode descartar que as profecias do fim dos tempos comecem a se cumprir.

Contrariando o espírito de euforia um pouco forçada que marca cada virada no calendário gregoriano, vale lembrar que só os mais afoitos e os que ouviram o galo cantar a respeito do calendário maia, mas não sabiam onde, supunham que “o mundo iria acabar” exatamente no último dia 21 de dezembro ou, na melhor das hipóteses, no dia 22, o não-dia. Um estouro, um sumiço, algo assim, e fim. Como não aconteceu, supõem quase todos que podem relaxar. Foi apenas mais um alarme falso, mais um boato.

           Estou certo de que essas coisas não se resolvem assim. Não tratam as principais fontes de profecias, especialmente a Bíblia – no Antigo e no Novo Testamento, em Isaías, Ezequiel, Daniel, Evangelhos de Mateus e Lucas e Apocalipse – de um estouro, um sumiço ou do fim precoce do mundo, mas de um “fim dos tempos” que é situado claramente como próximo. Tempos, não mundo. O que acaba é um período e a civilização atual e, após uma grande depuração, civilização melhor será construída. O processo de destruição não tem nas profecias uma duração fixa, mas seria de alguns anos. E se não fosse “abreviado”, diz Jesus, “nenhuma carne sobreviveria”. Mas será, Ele promete.

            Tomando emprestado do sombrio “1984”, do genial George Orwell, o “duplipensar”, vamos represar em um escaninho da mente essa questão do “fim dos tempos” e, como se ela não existisse, embora sabendo que existe, tratar ligeiramente do ano que começou hoje. Concentremo-nos no PT. Uma questão importante é o desempenho que a economia brasileira terá, depois do crescimento magérrimo de 2,7 por cento em 2011 e da estimativa de 0,98 ou, no máximo, um por cento do PIB, em 2012. Se a isto se somar, em 2013, novamente um crescimento pífio do PIB (a previsão do Banco Central, colhida junto a “analistas e investidores do mercado financeiro”, é de 3,3 por cento), sombras podem surgir sobre a pretendida reeleição da presidente Dilma Rousseff. Se, no entanto, chegar a quatro por cento ou algo muito próximo, como sugere o governo, ela já ficaria bem na foto, dizem petistas. Estão disputando frações de ponto percentual.

            O PT, por outros motivos, continuará quase certamente em inferno astral. Daqui a três, quatro meses, deverá encerrar-se em definitivo o processo do Mensalão no Supremo Tribunal Federal e figuras maiores do partido (José Dirceu, José Genoíno, João Paulo Cunha, sem falar em Delúbio Soares, que foi demitido dessa categoria pelo PT) estarão, junto com outras de partidos aliados, rumando para a prisão e, quem tem, perdendo mandatos parlamentares.

            O PT engajou-se em declarações de inconformismo e de solidariedade aos seus condenados. O principal deles, José Dirceu, chegou a sugerir uma manifestação pública de 200 mil pessoas para fevereiro. A proposta não é sensata nem factível.

            Aliás, no PT já existe gente preocupada com essa solidariedade aos réus petistas.  O governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, afirma que o PT precisa esgotar a “agenda de solidariedade” aos condenados no processo do Mensalão e completa: “Já falamos o suficiente sobre isso”. Querem, ele e outros, abreviar a penosa mistura pública entre o PT e pessoas condenadas criminalmente. Há uma evidente batalha interna. A tendência é de os radicais (os defensores intransigentes e a qualquer custo dos malfeitos) prevalecerem e confinarem os outros petistas em uma espécie de gueto partidário.

            Fechando o quadro petista. Com o fim do Mensalão, pode ser iniciado o Mensalula, nome dado pelo jornalista e escritor baiano Sebastião Nery (em conversa com Mário Kertész para a Rádio Metrópole da Bahia) ao que pode advir de novas informações de Marcos Valério ao Ministério Público Federal. E há o Rosegate, o explosivo caso Rosemary Noronha, resultado da Operação Porto Seguro da PF.

* Ivan de Carvalho é jornalista baiano