Quinta, 20 de junho de 2013
Diário do Centro do Mundo
A bambuzada merecida que os dois ex-craques estão tomando por causa de seus vídeos.
Demorou para sobrar para Ronaldo e Pelé. Não que eles não mereçam.
Um vídeo de 2011,
 recuperado pelo Lance, em que o Fenômeno diz que “Copa do Mundo não se 
faz com hospitais” transformou-se em viral. As reações negativas 
motivaram um pedido de desculpas do ex-jogador – também equivocado.
“Posso de fato não ter me expressado tão bem e a edição que eu vi na 
internet é bastante tendenciosa”, disse ele. “Era outro contexto. Não é 
justo usar como se fosse dito essa semana. Tenho sentido orgulho de ver 
os protestos pacíficos e democráticos pelo país. Espero que se espalhem 
cobrando, todos os anos, a melhor gestão do gasto público”.
As imagens têm dois anos, mas a bobagem resistiu ao teste do tempo graças ao que Ronaldo faz e representa hoje.
Apesar de seus esforços sobrehumanos para justificar o indefensável –
 trabalhar como dirigente do Comitê Organizador Local do Mundial do 
Mundial, comentarista da Globo e empresário de jogadores que estão em 
campo –, pouca gente acredita em suas boas intenções. Ninguém mais é tão
 bobo.
Ronaldo não pode achar que não tem nada a ver com isso, que é apenas o entregador de pizza e está na farra por acaso.
O vídeo de Pelé é novo em folha – mas consegue ser pior. O maior 
jogador de futebol de todos os tempos aparece com uma clássica camiseta 
canarinho da finada CBD fazendo um apelo patético: “Vamos esquecer todas
 essas confusões acontecendo no Brasil, todas as manifestações, e vamos 
pensar que a seleção brasileira é o nosso país, é o nosso sangue”.
Esquecer o que, Pelé? Como? Era brincadeira, então?
Pelé é cobrado, há muito tempo, pelas besteiras que diz. Eu acho que 
existe uma dose de má vontade com ele. Não concordo com os ataques 
cafajestes de Romário. Mas Pelé não ajuda. Essa declaração infeliz ecoa,
 de certa maneira, aquela dita em 1969, quando fez o milésimo gol: 
“Vamos proteger as criancinhas necessitadas”.
Na época, Pelé tomou bambuzadas da esquerda, que o chamou de demagogo
 e cobrou-lhe uma posição firme sobre a ditadura. Mas quem achou que era
 coisa de patrulheiro, por amor às maravilhas que ele fez no gramado, é 
obrigado a concordar que Pelé tem um problema grave em enxergar qualquer
 coisa que aconteça fora da Vila Belmiro. (Sem contar, claro, que ele 
não tem um assessor ajuizado para aconselhá-lo a simplesmente ficar 
calado).
Não há ninguém, neste momento, com estatura moral para pedir que os 
brasileiros botem a viola no saco, voltem para casa, sentem-se na 
poltrona com um pacote de Pringles sabor barbecue e ouçam Galvão Bueno 
berrar. Nem o Papa.
Pelé tem negócios na Copa. Ronaldo também. O mundo tem conhecimento 
disso. O fato de os dois acreditarem que as pessoas não saibam como eles
 atuam ajuda a explicar por que tanta gente os considera relíquias 
suspeitas.