Terça, 3 de setembro
de 2013
Por Ivan de Carvalho

Ele
passou longe de qualquer discurso vazio destinado a engrupir, a “enrolar” o
público, emitindo um sinal forte de que não se dispõe a dar continuidade, em
sua vida pública, ao tipo de político predominante no Brasil, que foge à
realidade e à objetividade para dizer nada parecendo que está dizendo muita
coisa (fenômeno comum nos países em que o nível de educação e cultura da
população é, em média, muito baixo, como é o caso do Brasil).
Procurou fixar-se na sua gestão à frente da administração de Salvador, mas não fugiu, antes foi bastante claro quando, inquirido, respondeu a questões políticas e eleitorais. Disse, inclusive, o que pode ser considerado uma novidade, apesar do tempo já decorrido: eleito prefeito, um diálogo foi estabelecido entre ele e o governador Jaques Wagner e o prefeito, então, conforme disse ontem com toda a clareza, mostrou (ele que mostrou, não o inverso, portanto) ao governador que todos só tinham a ganhar (esses dois políticos e mais a cidade e, suponho, o próprio estado) se o governador e o prefeito adotassem uma conduta colaborativa. O governador, como está evidente até agora, concordou.
Ainda
na parte política da entrevista, ACM Neto repetiu, com ênfase absoluta, que não
será candidato a governador no ano que vem. Mais para a frente, achando que o
momento chegou, tudo bem. Mas desta vez não, apesar da liderança disparada nas
pesquisas eleitorais (capital e interior). “Se as pesquisas me dessem 110 por
cento, o que é impossível, eu não deixaria a prefeitura para ser candidato. Se
me dessem 98 ou 100 por cento, eu não seria”.
E deu uma explicação convincente. Por enquanto, seu
trabalho (12, 14 horas por dia, sem folga nos sábados) tem sido para “organizar
a prefeitura”. É uma coisa essencial, diz respeito à capacidade da prefeitura
de cumprir sua função na atual gestão e no futuro, portanto. Trata-se de um
trabalho que deverá ir até o fim do primeiro trimestre de 2014. Representará um
legado importante à cidade, mas não será uma coisa visível. A coisa visível
mais próxima – ele disse quase que de passagem – é recompor as ruas da cidade, dar
um jeito na buraqueira, assim que acabe o período de chuvas, o que deve
acontecer já.
As coisas maiores que estão sendo planejadas, essas
estão sendo cuidadas agora nas áreas de planejamento e financiamento (não podem
ser feitas apenas com dinheiro municipal, estão sendo buscados recursos
federais, estaduais e de empréstimos) e irão se materializando durante a
gestão, até seu final. Portanto, mais uma razão para não sair antes.
Na entrevista ficou uma lacuna importante. Não
houve questionamento a respeito: a reeleição. Mas se lhe houvessem perguntado,
ACM Neto responderia objetivamente? Este talvez fosse o único ponto em que o
prefeito sairia da linha geral da entrevista de respostas objetivas. Primeiro,
a candidatura à reeleição dependerá de como estiver a sua popularidade e a
aprovação de sua gestão em 2016 e ainda de como estiver a conjuntura política
baiana e nacional nesse mesmo ano. O prefeito acredita firmemente que estará
bem com a população – na atual fase da gestão “tive que dizer não a muita
gente”, como teve que adotar algumas medidas que estão desagradando e vão
desagradar mais. Caso evidente do reajuste do valor venal dos imóveis para o
cálculo do IPTU. Mas depois as coisas agradáveis, acredita ele, irão surgindo.
Já pôde dizer, ontem, que a prefeitura alcançou o “equilíbrio fiscal”.
Candidatos a governador pela oposição? Citou Paulo Souto, o prefeito de Feira, José Ronaldo, José Carlos Aleluia, secretário municipal de Infraestrutura, todos do Democratas, Geddel Vieira Lima, do PMDB, João Guarberto, uma gentileza com o PSDB. Quando chegar a hora, dirá sua posição. Mas isto não significará brigar com Wagner e Dilma, deixou explícito, porque prejudicar a cidade está fora de cogitação.
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Candidatos a governador pela oposição? Citou Paulo Souto, o prefeito de Feira, José Ronaldo, José Carlos Aleluia, secretário municipal de Infraestrutura, todos do Democratas, Geddel Vieira Lima, do PMDB, João Guarberto, uma gentileza com o PSDB. Quando chegar a hora, dirá sua posição. Mas isto não significará brigar com Wagner e Dilma, deixou explícito, porque prejudicar a cidade está fora de cogitação.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.