Terça, 5 de novembro
de 2013
Por Ivan de Carvalho

Na ocasião do anúncio de que não
deixaria seu partido por outra legenda que lhe pudesse assegurar a candidatura,
Serra declarou que ficaria no PSDB e que “minha prioridade é derrotar o PT”,
com o que driblou a pergunta obrigatória que lhe seria feita sobre se
continuava ou não aspirante a ser candidato (tucano) a presidente da República.
A prioridade adotada de derrotar o PT –
trocada pela prioridade de disputar a eleição presidencial – lhe permite tanto
ser o candidato do PSDB quanto apoiar o outro aspirante, no momento muito mais
forte, quase hegemônico no partido, Aécio Neves. A opção tucana fica entregue à
conjuntura, às circunstâncias e seja o que Deus quiser.
Em entrevista publicada ontem, Serra
deu um passo a mais nas direções da unidade do PSDB e de não guardar
ressentimento, mas cumprir sua prioridade declarada de derrotar o PT, caso o
candidato seja mesmo o senador e ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Disse
que vai trabalhar a favor da unidade do partido, “com quem for candidato”, ele
ou Aécio e radicalizou: “Se Aécio for o candidato, vou trabalhar a favor dele”.
O programa Poder e Política, da Folha e UOL, quis saber mais um pouco – se, no caso de não ser ele próprio
o candidato, iria fazer campanha, de maneira incessante, a favor de Aécio.
“Farei, farei, trabalharei para que haja unidade, primeiro. E segundo, havendo
unidade, para que a unidade se projete na campanha”.
Os tucanos são suspicazes. Portanto,
ninguém deve imaginar que Serra está amolecendo o jogo e entregando
gradualmente os pontos. Lá atrás, ficou entendido que ele não saiu do PSDB,
embora haja pensado muito nisso, por entender que fora de seu tradicional
partido, o principal da oposição, não encontraria suporte político para uma
candidatura que pudesse levá-lo à presidência. Suporte legal encontraria, pois
o PPS, partido governado pelo deputado Roberto Freire, insistiu até onde pôde
para tê-lo como filiado e candidato à sucessão de Dilma Rousseff. Mas o PPS
oferecia um mínimo de propaganda eleitoral na televisão e no rádio, nenhuma
estrutura e praticamente nenhuma chance de alianças significativas com outras legendas.
Então ele ficou no PSDB, o que agradou
muito a Aécio Neves, interessadíssimo em somar o segundo maior colégio
eleitoral do país, Minas Gerais, sua origem, ao maior de todos os colégios
eleitorais, São Paulo, onde tem o apoio do governador Geraldo Alckmin
(candidato à reeleição), mas precisa da consolidação que Serra pode lhe dar.
José Serra, com a idéia fixa de (mais
uma vez, a terceira) ser candidato a presidente da República, permaneceu no
PSDB, sabendo que não será fácil ser o nome escolhido pela legenda, mas
consciente de que outro caminho para a candidatura viável não existia. No PSDB,
ele continua (depois de proclamar a prioridade de derrotar o PT, o que lhe
permite defender a unidade do PSDB e, se for o caso, que pena, apoiar Aécio
Neves para valer) candidato à sucessão de Dilma Rousseff e esperando. O básico
é esperar que o fato de ser muito mais conhecido do eleitorado por enquanto
(com o recall da eleição presidencial de 2010, sem contar a de 2002 e a
passagem considerada muito boa pelo Ministério da Saúde no segundo mandato de
FHC) o mantenha bem junto ao eleitorado até o momento da decisão partidária, ao
tempo em que a candidatura de Aécio Neves não consiga decolar e este prefira (o
que a idade ainda lhe permite) adiar a tentativa para 2018. Com todos os riscos
que isso implica e que, vistos de hoje, não são poucos nem pequenos. Afinal,
Eduardo Campos, do PSB, está em campo e há quem ainda fale de Lula 2018 – ele
mesmo.
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Este artigo foi
publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é
jornalista baiano.