Sábado, 22 de fevereiro de 2014
              Akemi Nitahara - Repórter da Agência Brasil
          
   A Ordem dos Advogados do Brasil, 
Seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ) fez seção hoje (21) para homenagear 
Fernando Santa Cruz, um dos símbolos da resistência estudantil à 
ditadura militar, desaparecido há 40 anos.
   A homenagem reuniu parentes e representantes da Comissão Estadual da 
Verdade (CEV-RJ), do grupo Tortura Nunca Mais e do Diretório Central dos
 Estudantes (DCE) Fernado Santa Cruz. Oportunidade em que foi relançado o
 livro Onde Está Meu Filho?, de 1985, escrito pelos jornalistas
 Chico de Assis, Cristina Tavares, Jodeval Duarte, Gilvandro Filho, 
Nagib Jorge Neto e Glória Brandão.
   Um dos irmãos de Fernando, João Artur Santa Cruz, lembra que ontem 
(20) ele faria 66 anos, e no próximo domingo (23) fará 40 anos do 
desaparecimento.
   “Estamos relançando o livro, com documentos que a gente pegou desde a
 época do desaparecimento até a presente data. Fala da busca que mamãe 
fez à procura de Fernando nos cárceres do país todo. No novo livro sai o
 depoimento que um torturador daqui, o delegado de polícia Carlos 
Guerra. Ele conta que pegou Fernando, Eduardo Collier, Davi Capistrano e
 mais duas pessoas, e tocou fogo na usina, em Campos”, norte do estado 
do Rio.
   Natural de Olinda (PE), Fernando Santa Cruz participou do movimento 
estudantil secundarista e chegou a ser preso em 1967, em uma passeata 
contra o acordo MEC-Usaid. Depois, ele estruturou a Associação Recifense
 dos Estudantes Secundaristas e, já sob a égide do Ato Institucional nº 5
 (AI-5), se mudou para o Rio de Janeiro, onde cursou direito na 
Faculdade Federal Fluminense e atuou no DCE. Em 1972, casado e com o 
filho recém-nascido, passou em concurso da Companhia de Águas e Energia 
Elétrica do Estado de São Paulo e se mudou para a capital paulista.
   De passagem pelo Rio, no carnaval de 1974, Santa Cruz saiu da casa do
 irmão Marcelo, para visitar amigos, e nunca mais foi visto. João Artur 
explica que a Comissão da Verdade do Estado de Pernambuco (CVE-PE) fez 
um dossiê e entregou ontem (20) para a mãe dele, dona Elzita.
   “A gente encontra várias coisas que já tinha nesses 40 anos de busca,
 nomes de torturadores, a data certa da prisão dele aqui, 23 de 
fevereiro de 1974, no estado do Rio, no DOI-Codi [Destacamento de 
Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna]. Ele 
estava preso e desapareceu dali de dentro. Mataram ele ali dentro. Os 
torturadores da época ocultaram o cadáver, até hoje não devolveram o 
cadáver para a gente poder fazer uma sepultura digna para Fernando. A 
mãe, ainda viva, com100 anos, continua fazendo essa pergunta para as 
autoridades deste país: Onde está o meu filho?”
   De acordo com João Artur, Fernando não era ligado à luta armada, mas 
era membro da Ação Popular Marxista-Lenista (AP). Quando Fernando 
desapareceu, seu filho Felipe tinha 2 anos, e hoje é o presidente da 
OAB-RJ.