Domingo, 29
de junho de 2014
Em ato pacífico, manifestantes caminharam pela Avenida Atlântica, do Posto 5 até a Fan Fest
Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil
Um grupo de manifestantes seguiu pela Avenida Atlântica,
em Copacabana, do Posto 5 até a Fan Fest, em uma marcha silenciosa marcada
apenas por dois bumbos, na tarde de hoje (29). Muitos usavam mordaça e vestiam
camisetas amarelas com o número -1 e o nome de vítimas do Estado nas favelas –
como o pedreiro Amarildo, Cláudia (arrastada por uma viatura da Polícia Militar)
e o dançarino DG. Outras camisas exibiam Educação e Saúde, com o número zero
estampado.
Os manifestantes simularam um jogo de toque de bola na rua.
Nos cartazes, dizeres como “pelo direito à livre manifestação”, “não é normal o
estado matar negro e pobre”, “pelo fim do genocídio dos pobres e negros”, “o
poder e a força bruta não vão nos calar” e “pelo nosso direito à cidade”.
Também foram lembrados os nomes Rafael, Caio e Fábio, considerados presos
políticos pelos manifestantes.
O morador de rua Rafael Braga Vieira foi preso durante os
protestos de junho de 2013, de posse de material de limpeza, mas foi condenado
por porte de artefato explosivo. Caio Silva de Souza e Fábio Raposo estão
presos e são julgados por homicídio triplamente qualificado, após terem
acendido o rojão que atingiu e matou o cinegrafista Santiago Andrade, em
fevereiro deste ano.
A fotógrafa Paula Kossata explica que começou a acompanhar
as manifestações relacionadas à Aldeia Maracanã em 2012 e acabou aderindo às
causas das ruas por causa da repressão sofrida pelos manifestantes. Segundo
ela, os movimentos sociais estão sendo criminalizados, e o país vive um regime
de exceção.
Para a ativista, o país passa por uma situação na qual
quem deveria proteger a população a agride. “A polícia deveria proteger o povo,
mas acaba virando inimigo. A polícia, assim como os políticos, são nossos
funcionários e estão ali para proteger a gente, mas é só levantar um cartaz que
você é criminalizado. Até o nosso templo do futebol, o Maracanã, foi
sequestrado do povo, privatizado, e o povo não tem mais acesso”, acrescenta.
Paula destaca que a manifestação é pacífica, mas enfática
quanto aos objetivos: “Precisamos de um momento mais pesado, de luto. Não
adianta fazer ato lúdico, rodar bambolê na frente deles. Precisamos ser
enfáticos em relação à violência policial”.
Na concentração do ato, um major da Polícia Militar
aproximou-se dos manifestantes para pedir informações sobre o trajeto e
objetivos do protesto. Ele também disse que a corporação acompanharia a marcha
para garantir a segurança deles e da população. A advogada Eloisa Samy
aproveitou para pedir apoio à força policial.
“Pedimos o auxílio de um pequeno número de policiais, nada
ostensivo, três homens, a fim de evitar que pessoas de fora da manifestação nós
hostilizem, porque isso tem sido bastante comum e acirra os ânimos, causando
tumulto e confusão”, explicou a advogada. Eloísa foi uma das pessoas envolvidas
com manifestações intimadas pela polícia a dar explicações às vésperas da Copa.
Para ela, a ação foi uma forma de intimidar os ativistas e dispersar os atos.
“Expediram um mandado de busca e apreensão para
equipamentos de informática e com acesso à internet, mas levaram capacete de
moto, meus cintos, por serem pretos, meu bastão de softball, que está
apreendido. Levaram coisas que estavam fora do escopo do mandado, como máscara
contra gases, óculos de proteção. Não é só para intimidar, mas para obrigar o
grupo a se dispersar e criar uma situação de conflito. Isso tem sido feito
cotidianamente”, reclamou Eloísa.