Domingo, 15 de junho de 2014
Marina Dutra
Os R$ 8 bilhões gastos com a construção dos estádios para a
Copa do Mundo equivalem ao dobro do investido pelo governo federal em Saúde em
2013 e é maior que valor de investimentos em Educação no ano passado. Em
2013, o Ministério da Saúde investiu R$ 3,9 bilhões. No Ministério da Educação,
os valores aplicados no exercício passado foram de R$ 7,6 bilhões.
Em defesa às críticas em relação a disparidade entre os
gastos com os estádios da Copa e os investimentos nas áreas, a presidente Dilma
Rousseff afirmou que os “investimentos” federais nas áreas foram de R$ 825 bilhões
desde 2010, mais de cem vezes o gasto em estádios – R$ 8 bilhões.
O valor ressaltado pela presidente, no entanto, diz respeito
a todos os dispêndios com Saúde e Educação, desde o pagamento de pessoal aos
gastos com o custeio das Pastas, e não apenas aos investimentos ( GND4). Esses
– que englobam apenas as aplicações em obras e compra de equipamentos, ou seja,
contribuem diretamente para a formação ou aquisição de um bem de capital –
foram bem mais baixos.
De acordo com pesquisa realizada pelo Contas Abertas com
dados do Ministério do Planejamento, de 2010 para cá, R$ 719,6 bilhões foram
gastos nos ministérios da Saúde e Educação, considerados os valores correntes
de cada ano. Os investimentos representam apenas R$ 47,5 bilhões deste
montante.
Dilma também afirmou que R$ 106 bilhões serão “investidos”
em Saúde em 2014, e R$ 83,3 bilhões em Educação. O orçamento atualizado para os
Ministérios prevê dotações ainda maiores – R$ 106,7 bilhões e R$ 112,4 bilhões,
respectivamente -, mas os recursos orçados para investimentos somam R$ 9,9
bilhões e R$ 14,1 bilhões.
Em termos de comparação exclusivamente em investimentos, com
os R$ 8 bilhões gastos na construção dos estádio seria possível construir 4.000
Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24h) de porte II, que cobrem locais que
possuem entre 100 mil e 200 mil habitantes e recebem até 300 pacientes
diariamente.
Com o valor também seria possível erguer 2.263 escolas com
capacidade de 432 alunos por turno, cada. Uma escola com 12 salas de aula e
quadra coberta, financiada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE), custa R$ 3,5 milhões.
Como o Contas Abertas divulgou ontem, o deputado Romário
(PSB-RJ) afirmou ser lamentável a presidente da República dissimular números
para confundir a população. “Ela não pode comparar investimentos em estádios
com o orçamento global para saúde ou educação. Investimentos com estádios devem
ser comparados com investimentos na construção de hospitais ou escolas”,
afirmou o parlamentar.
O deputado também destacou que alguns estádios, em sua
maioria financiados com dinheiro do governo federal, serão pagos pelos estados
e municípios – além do Distrito federal – , com recursos públicos . Dessa
forma, segundo ele, não é correto, por exemplo, comparar o valor que a União
gasta com saúde com os R$ 1,6 bilhão que o Distrito Federal gastou com
construção do Mané Garrincha. “Dilma está tentando defender o indefensável e
cada dia se enrola mais com suas próprias palavras”, defende Romário.