Segunda, 21 de abril de 2014
Na última sexta-feira, dia 18 de julho, juristas
brasileiros divulgaram manifesto contra a criminalização das lutas sociais – em
especial, das manifestações que tomaram o país a partir de junho de 2013.
Reproduzimos integralmente o manifesto a seguir:
Manifesto de Juristas Contra a
Criminalização das Lutas sociais
É com imensa perplexidade que se divisa o recrudescimento
da repressão e das tentativas de criminalização das lutas sociais pelos poderes
instituídos.
Desde junho do ano passado, quando as grandes
manifestações se multiplicaram a partir da luta contra o aumento da tarifa,
observa-se que, longe de responder às reivindicações com propostas de
concretização de direitos sociais, os agentes do Poder Público têm respondido
com violência e tentativas abusivas de criminalização de ativistas.
Especificamente em São Paulo, lugar em que primeiro
sopraram os bem-vindos ares de junho, causa extrema indignação o aparato que se
organizou desde a instauração do famigerado inquérito policial 1 de 2013 no
DEIC.
Como já foi amplamente divulgado[1],
são várias as ilegalidades percebidas nesse inquérito: 1) orientado
por um explícito e inconstitucional direito penal do autor, ele é
conduzido a partir de um rol de perguntas sobre a vida política das
pessoas intimadas e chegou-se ao absurdo de proceder à busca e
apreensão de livros na casa de alguns “investigados”; 2) no decreto de
instauração, está expresso o objetivo ilegal de investigar “indivíduos
(que) atuam de forma organizada com o objetivo de questionar o sistema vigente”,
sem a indicação de qualquer fato específico que constitua crime; 3) a ampla
maioria das pessoas intimadas para “prestar esclarecimentos” foi presa
ilegalmente, sem flagrante ou qualquer acusação formal de prática de crime;
4) há infiltração de agentes em manifestações, determinada a partir
do inquérito e sem autorização judicial.
Nos últimos dias, assistiu-se a duas prisões
claramente forjadas[2], de Fábio e de Rafael,
estranhamente realizadas por policiais do DEIC, e à ameaça do
Secretário de Segurança de SP de conduzir à força 22 militantes do Movimento
Passe Livre ao DEIC para “prestar esclarecimentos”, apesar de eles, em
todas as oportunidades em que foram intimados, já terem justificado a ausência
com base no exercício do direito fundamental de ficar em silêncio.
Tais arbitrariedades estão sendo perpetradas a partir
desse mesmo inquérito 1 de 2013 do DEIC, já permeado de todas as ilegalidades
acima enumeradas.
Basta a mínima observância dos postulados do Estado
Democrático de Direito para se posicionar pelo repúdio ao referido
inquérito e a todas as arbitrariedades, ameaças e violências que vêm sendo
praticadas contra a liberdade de manifestação.
Os direitos e garantias fundamentais inscritos na
Constituição de 88 foram conquistados após muita luta e resistência
contra a Ditadura que arrasou o país entre 1964 e 1985. Não é possível tolerar
a naturalização de práticas ilegais de repressão e criminalização de ativistas,
em claro vilipêndio ao direito constitucional de se reunir e de se
manifestar.
Por essas razões, posicionamo-nos pela cessação da
escalada de criminalização das manifestações, com a imediata
liberdade de Fábio e Rafael, o acatamento ao direito ao silêncio e,
portanto, o afastamento de medidas coercitivas, e o arquivamento
do inquérito policial 1 de 2013, tudo em estrita observância dos
fundamentos da República e dos direitos e garantias fundamentais inscritos nos
artigos 1º e 5º da Constituição.
ASSINAM:
(Para novas adesões, escrever para: manifestodejuristas@gmail.com )
Fábio Konder Comparato, Professor Emérito da Faculdade
de Direito da USP
Nilo Batista, Ex-professor titular de direito penal
da UERJ e UFRJ
[Veja quem mais assinou, clicando no link abaixo]
Juarez Cirino dos Santos, Professor Doutor da Universidade
Federal do Paraná (UFPR) e Conselheiro Estadual Titular da Ordem dos Advogados
do Brasil – seção do Paraná
Jorge Luiz Souto Maior, professor livre-docente da
Faculdade de Direito da USP
Marcus Orione, Professor da Faculdade de direito da USP
Sérgio Salomão Shecaira, professor titular da Faculdade
de Direito da USP
Ari Marcelo Solon, Professor Associado da Faculdade de Direito da
USP
Alysson Leandro Mascaro. Professor da Faculdade de
Direito da USP.
Cristiano Maronna, advogado e vice-presidente do Instituto
Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCRIM
Silvio Luiz de Almeida, advogado, professor da
Universidade Presbiteriana Mackenzie e presidente do Instituto Luiz Gama
Luís Carlos Valois, Juiz de Direito e mestre pela
Faculdade de Direito da USP
Mauricio Stegemann Dieter, Professor da Faculdade de Direito
da USP.
João Batista Damasceno, doutor em Ciência Política
(PPGCP/UFF) e juiz de direito (TJ/RJ). Membro da Associação Juízes para a
Democracia/AJD.
Paulo Teixeira, deputado federal, advogado e
mestre em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo (USP)
Fernando Castelo Branco, professor de Direito
Constitucional da Universidade Federal do Ceará
Emilio Astuto Rocha Gomes, advogado e professor da
Universidade de Munique –Alemanha
Ana Gabriela Mendes Braga, professora da Faculdade de
Ciências Humanas e Sociais, Unesp- Franca
Bruna Angotti, Membra do Coletivo de Advogados em Direitos
Humanos – CADHU, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Sara da Nova Quadros Côrtes, Professora da Faculdade de
Direito da UFBA e Advogada.
Alex F. Magalhães, Professor adjunto IPPUR/ UFRJ
Aton Fon Filho, advogado e diretor da Rede Social de Justiça e
Direitos Humanos
Patrick Lemos Cacicedo, Defensor Público, Coordenador do
Núcleo de Situação Carcerária da Defensoria Pública de SP
Bruno Shimizu, Defensor Público, Coordenador Auxiliar do Núcleo
de Situação Carcerária da Defensoria Pública de SP
Verônica dos Santos Sionti, Defensora Pública e membra do
Núcleo de Situação Carcerária da Defensoria Pública de SP
Thaísa Oliveira, Presidenta da Associação dos Defensores Públicos
do Paraná (ADEPAR)
Thiago Barison de Oliveira, advogado, Diretor da Comissão de
Direitos Humanos do Sindicato dos Advogados de São Paulo
Gustavo Seferian Scheffer Machado, Mestre e doutorando em Direito
do Trabalho pela FDUSP, professor da FICS.
Marta Machado, pesquisadora do Núcleo de Estudos
sobre o Crime e a Pena da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio
Vargas, professora na mesma instituição e pesquisadora do Cebrap
Sílvio Mota, Juiz do Trabalho
Renan Quinalha, advogado da Comissão da Verdade de SP
Paulo César Malvezzi, assessor jurídico da Pastoral
Carcerária Nacional – CNBB
Carolina Diniz, advogada e coordenadora do Centro de Direitos
Humanos e Educação Popular do Campo Limpo
Eduardo Baker, advogado da Justiça Global
Antônio Donizete Ferreira, Advogado do Pinheirinho
Aristeu César Neto Pinto, advogado membro da Com. de Dir.
Sindical da OAB/Federal
Américo Astuto Rocha Gomes, advogado membro da Fundação
Sundermann
Aderson Bussinger Carvalho, advogado membro da Comissão de
Direitos Humanos OAB/RJ
Sergio Augusto Pinto, membro da diretoria do Sindicato
dos Advogados de São Paulo
Bruno Colares Soares Figueiredo Alves, membro da diretoria do Sindicato
dos Advogados de São Paulo
Pablo Biondi, membro da diretoria do Sindicato dos Advogados de São
Paulo
Fabiana Costa do Amaral, membro da diretoria do Sindicato
dos Advogados de São Paulo
Isabela Blanco, advogada da CSP-Conlutas RJ
José Denis Lantuer Marques, membro da diretoria do Sindicato
dos Advogados de São Paulo
Ana Lucia Marchiori, Advogada e diretora do Sindicato
dos Advogados de São Paulo
Adonyara Azevedo, advogada do mandato da vereadora Amanda Gurgel e
CSP-Conlutas RN
Tairo Batista Esperança, advogado da CSP-Conlutas SP
Julia Maria de Siqueira Eid, Advogada de presos e perseguidos
da Convergência Socialista
Alberto Albiero Junior, advogado da CSP- Conlutas e do
Bloco de Lulas do Rio Grande dos Sul
Denis Ometo, advogado do Sindicato dos Metalurgicos de São José dos
Campos/SP
Claudio Renno, advogado do Sindicato dos Metalurgicos de São
José dos Campos/SP
Irene Maestro Guimarães, advogada e membro da Comissão de
Direitos Humanos do Sindicato dos Advogados de São Paulo
Alexandre Pacheco Martins, Advogado Criminalista
Rodolfo Valente, advogado e coordenador do Instituto Práxis de
Direitos Humanos
Marcela Cristina Fogaça Vieira, advogada
Rafael Custodio, Advogado do Programa de Justiça da Conectas
Direitos Humanos
Amanda Hildebrand Oi, Pesquisadora do Núcleo de
Estudos da Violência da USP
Daniel Adolpho Daltin Assis, Advogado popular em DDHH, com
especial participação nos movimentos da luta antimanicomial e da infância e
adolescência
Mariana Fidelis, advogada
Pablo Castellon, advogado
Giane Alvares, advogada
Eliana Lúcia Ferreira, advogada
Maria Livia Goes, Advogada
Luisa D´avola, Advogada
Juliana Hereda, Advogada
Adriano Galvão, Advogado Criminalista
Gabriel de Freitas Queiroz, Advogado Criminalista
Leopoldo Stefano Louveira, Advogado Criminalista
Armando de Oliveira Costa Neto, Advogado Criminalista
Juliana Machado Brito, Advogada
Caio Yamaguchi Ferreira, Advogado
Larissa Gdynia Lacerda, Advogada
Rafael Moura da Cunha, Advogado
Cleuber da Silva Junior, Advogado e mestrando da UFRJ
Bruno Salles Pereira Ribeiro, advogado criminalista
Renato Vieira, Advogado Criminalista
Marcelo Leão, Advogado
Rafael Augusto Ferreira Zanatta, advogado e mestre em Direito
pela Universidade de São Paulo.
Pedro Baumgratz de Paula, advogado e mestrando em Direito
pela Universidade de São Paulo
Pedro Davoglio, mestre em Direito pelo Mackenzie
Luiz Guilherme da Silva Gomes Ferreira, advogado
Daniel Luiz Passos Biral, advogado
Silvia Daskal Hirschbruch, advogada
André Zanardo, advogado
Guilherme Duarte, advogado
Tabatha Alves, advogada
Igor Favano Leone, advogado
Leo Lopes de Oliveira Neto, advogado
Elaine Moraes Ruas Souza, Defensora Pública
Daniella Bonilha, advogada
Rafael Moura da Cunha, advogado
Fonte: http://www.sasp.org.br/jornal-sasp/428-manifesto-de-juristas-contra-a-criminalizacao-das-lutas-sociais.html?fb_action_ids=761408313922164&fb_action_types=og.likes
[1] Vide matéria do sério
jornalista Bruno Paes Manso: http://blogs.estadao.com.br/sp-no-diva/as-vesperas-da-copa-mpl-faz-protesto-certeiro-contra-policia-eles-nao-vao-depor-no-inqueirto-black-bloc/