Terça, 26 de agosto de 2014
Por Alberto Dines em 26/08/2014
na edição 813
No exato momento em que o jornalismo em geral, e o
impresso em particular, são desafiados, cobrados, pressionados, desacreditados
e colocados sob suspeita, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) entra em cena
com novo e portentoso disparate que só reforça as cobranças, questionamentos e
dúvidas.
Na quinta-feira (21/8), a Folha de S.Paulo, Estado
de S.Paulo e Valor
chegaram às mãos de seus assinantes em São Paulo com capas falsas – ditas
“promocionais” ou mascaradas de “informes publicitários” – para vender a ideia
de que se deu no jornal é verdade.
Jogada infantil para agarrar o público jovem, o anúncio
tenta reproduzir uma página de tuítes e posts da rede social. O principal
deles, postado por Maria Reininger (depois do 7 a 1 é chique ter nome alemão),
informa que se algo está na capa do jornal de hoje “eu acredito”.
Na página interna diz-se que “quem abre uma notícia, abre
um jornal (deveria ser o contrário – tudo bem, bacana ser obtuso). Seguem-se
algumas linhas de sociologia de boteco informando que o que ontem foi
viralizado, o que está nas page views,
nos hashtags, nos tuites e
retuítes só existe quando sair no jornal. Conclusão acaciana: “Jornal é o que
leva a verdade até você, é o que garante que tudo aconteceu”.
Zona de turbulência
Primeira pergunta aos senhores acionistas de empresas
jornalísticas: se o jovem é avesso a jornal como se apregoa, qual a utilidade
de dirigir uma mensagem escrita a quem não lê ?
Segunda pergunta: se as capas daquela edição foram
falsificadas, como associar o meio jornal ao conceito de verdade?
Terceira pergunta: no início da temporada eleitoral,
quando os jornalões deveriam tentar a individuação para desfazer a imagem de pool ou confraria, a inconveniência da
mensagem coletiva, em uníssono, não ocorreu a alguém? Uma autopromoção com
forte teor corporativo e veiculada simultaneamente pelas maiores empresas
jornalísticas do país (Valor
é uma parceria da Folha com o
Globo) não confirma – ao
invés de desfazer – a falta de pluralismo e diversidade em nossos meios de
comunicação?
Apertem o cinto, senhores: vamos entrar em área de
turbulência e os pilotos estão tontos.