Sábado, 27 de dezembro de 2014
Da Revista Veja
Empreiteira negocia um
acordo de leniência com o MP e pode ser a primeira das grandes a abrir o
jogo sobre o esquema de corrupção na Petrobras
Bela Megale e Alexandre Hisayasu
A Camargo Corrêa está negociando com o Ministério Público a
possibilidade de fechar um acordo de leniência com a Justiça. O acordo
de leniência equivale à delação premiada para pessoas jurídicas —
empresas envolvidas em crimes decidem contar o que sabem em troca de
benefícios e atenuantes penais. Dois advogados da empreiteira
confirmaram a VEJA que as conversas nesse sentido com os procuradores
responsáveis pela Operação Lava-Jato estão em curso e devem ser
retomadas logo depois do Ano-Novo. Se elas derem resultado, a Camargo
Corrêa será a primeira dissidente do clube do bilhão, grupo formado
pelas maiores empreiteiras do país que, segundo o doleiro Alberto
Youssef, combinava o resultado de licitações da Petrobras, superfaturava
os preços e pagava a propina destinada a subornar políticos e
funcionários da estatal. Três executivos da empresa estão presos desde a
segunda semana de novembro: Dalton Avancini, diretorpresidente, João
Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração, e Eduardo Leite,
vice-presidente.
Junto com eles, a Polícia Federal prendeu naquela data outros dezoito
altos executivos de grandes empreiteiras — onze, incluindo os
funcionários da Camargo Corrêa, continuam detidos na carceragem da PF em
Curitiba (PR). Logo depois das prisões, as construtoras chegaram a
conversar sobre a possibilidade de fechar um acordo coletivo de
colaboração com a Procuradoria, mas a iniciativa foi rechaçada pelo
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que considerou a proposta
um “cartel da leniência”. Desde então, os advogados indicavam ter
desistido do acerto. Mas, há duas semanas, um dos advogados da Camargo
Corrêa voltou a se reunir com os procuradores para discutir os termos de
um acordo. A empresa já concordou em fazer a admissão de culpa, uma das
exigências do Ministério Público que o grupo que tentou fazer o acordo
coletivo não aceitava.