Domingo, 25 de janeiro de 2015

Da Tribuna da Imprensa
Carlos Chagas
Cai a máscara de Joaquim Levy, na qual se escondiam a presidente
Dilma, o PT, as elites conservadoras e boa parte da mídia. Foi no
apropriado palco de Davos, onde se reúne a nata dos privilegiados
econômico-financeiros, que em entrevista ao Financial Times o ministro
da Fazenda ousou dizer que o seguro-desemprego está completamente
ultrapassado. Essa raça de vigaristas dorme em berço de ouro, jamais
soube o que é perder o emprego e ficar sem meios para alimentar a
família. Ao primeiro sinal de redução de seu faturamento, mesmo sem
perder as benesses surripiadas dos assalariados, apelam para os
argumentos de sempre: a culpa é dos investimentos sociais duramente
conquistados pelos menos favorecidos. Importa revogá-los.
Joaquim Levy deveria escolher o Herodes como símbolo de sua gestão:
os bebês dão prejuízo, porque não trabalham e consumem recursos em
mamadeiras, fraldas e cuidados variados. Melhor acabar com eles, como
agora com o seguro-desemprego. Já fizeram isso com a estabilidade no
emprego, o salário-família, a participação dos empregados no lucro das
empresas e quantos direitos trabalhistas a mais?
O período, para esse novo algoz da justiça social, é de austeridade.
Para quem, cara-pálida? Ele também fala em corrigir os preços, aumentar
impostos, elevar os juros, mas jamais defenderá a taxação das grandes
fortunas e das heranças milionárias. Prefere dificultar as pensões das
viúvas e a aposentadoria dos velhinhos, desde que não afete o lucro dos
bancos.
SILÊNCIO DOS SINDICALISTAS
O mais execrável no massacre que mal se inicia é o silêncio da
maioria das centrais sindicais e dos partidos ditos trabalhistas ou
socialistas. Para não falar no estímulo e no silêncio de quem o nomeou,
sob os aplausos do mercado. Sem esquecer o apoio da maioria dos meios de
comunicação, que chamam de “ajuste” o esbulho praticado à vista de
todos. Empresários, investidores, especuladores e analistas apregoam a
“agenda positiva” desenvolvida pela nova equipe econômica, sabendo que
ela vai gerar o desemprego e a extinção de outras prerrogativas sociais.
O óbvio é que nascerão, também, a indignação e a revolta. Porque não dá
para aceitar que as “reformas estruturais destinadas a retomar o
crescimento econômico” penalizem os trabalhadores favorecendo as elites,
como sempre tem acontecido.
E o Lula, onde está, se não estiver a bordo do jatinho de alguma
empreiteira? Dilma já cooptou a metade do PT para ficar calada à sombra
dos favores, nomeações e facilidades do poder. A outra metade bem que
gostaria de assistir o protesto do ex-presidente, mas deve esperar
sentada. Os absurdos realizados a pretexto de combater a crise econômica
trabalharão em favor de sua candidatura, se a saúde permitir. Ele
poderá freqUentar os palanques sustentando que, com seu retorno, os
tempos serão outros.
Em suma, deve preparar-se o cidadão comum, em especial as dezenas de
milhões que recebem o ridículo salário mínimo, mas sem esquecer os
assalariados pagadores de impostos e de preços de gêneros de primeira
necessidade continuamente reajustados. Vão ter que pagar mais… Agora, a
um desabafo terão direito, diante do comentário de Joaquim Levy sobre o
seguro-desemprego: “Ultrapassado é a mãe!”