Da Tribuna da Imprensa
Por André Barros
Com uma guerra declarada no Brasil,
o combate às drogas mata mais “traficantes” que a Indonésia. O mesmo empenho
que o governo teve ao tentar impedir a execução de dois brasileiros, poderia
ser realizado em seu próprio país.
Assistimos
ao empenho do governo brasileiro para impedir a execução das penas de morte de
dois brasileiros na Indonésia. Esse mesmo empenho poderia ser realizado em seu
próprio país. Ainda que com muitos apoios, sentimos que tais penas não foram
bem aceitas aqui. Poderíamos aproveitar esse debate para abrir várias reflexões
sobre o crime de tráfico. A pena de morte no Brasil só é permitida em caso de
guerra declarada. Mas a guerra no Brasil também é declarada, seguindo a
política internacional, chamada de guerra às drogas. Essa farsa, na realidade,
é a guerra aos negros e pobres. Trata-se de um mercado de toneladas,
transportadas em caminhões de carga, navios, aviões e helicópteros, gerando
acumulações milionárias e bilionárias depositadas em bancos internacionais.
Nenhum “traficante” preso no Rio de Janeiro possui qualquer um desses
transportes nem contas milionárias em bancos internacionais. São negros, jovens
e pobres que estão presos, nessa verdadeira guerra aos pobres.
Um mercado
que vive da compra e venda de armas, colocando jovens, negros e pobres,
fardados ou não, trocando tiros nos morros sem saneamento básico, onde brincam
crianças, em valas sujas, entre porcos e ratos. Nesses guetos de onde saem as
melhores músicas e onde estão situados os melhores picos da cidade, a troca de
tiros ocorre ao ar livre, em qualquer horário, em plena luz do dia, perto de
escolas com crianças em sala de aula e nos períodos de saída e chegada do
trabalho. Vivemos num dos lugares do mundo onde mais morrem negros e jovens por
tiro de arma de fogo. Tudo isso patrocinado pelo falso discurso de combate ao
tráfico de drogas. Na cidade onde houve a maior população escrava do mundo, a
melhor política de enfrentamento a esse genocídio praticado contra o povo negro
é a legalização da produção, plantação, distribuição, compra e venda de todas
as substâncias ilícitas. Esse mercado bilionário se retroalimenta exatamente da
ilegalidade.
A redução
da maioridade penal é tratada com hipocrisia. Quem não sabe que serão “presos”
os adolescentes filhos de negros e pobres? A propaganda coloca adolescentes
estuprando e matando para justificar essa redução, quando esses casos são a
minoria. A maior parte dos adolescentes “presos” está lá por tráfico de drogas
com pouca quantidade, sem dinheiro, desarmados, calçando chinelos.
Essa
proposta para prender os filhos dos negros e pobres vem no mesmo contexto do
pensamento da pena de morte, dentro dessa farsante guerra às drogas. Vamos
debater essas absurdas execuções de morte de dois brasileiros por tráfico na
Indonésia para resistir ao avanço dessas barbaridades punitivas aqui no Brasil.
A Marcha da
Maconha é um momento libertário para denunciar o falso discurso de combate ao
tráfico de drogas. Vamos tomar o Jardim de Alah, em Ipanema, às 4:20 da tarde,
no dia 9 de maio de 2015, todas e todos à MARCHA DA MACONHA!