Domingo, 3 de maio de 2015 
Marian Torkania - Repórter Agência Brasil
O documento Pátria Educadora: A Qualificação do Ensino Básico como 
Obra de Construção Nacional terá que ser modificado para que possa ser 
implementado no país, segundo entidades que atuam no setor. O documento,
 que foi elaborado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da 
Presidência da República (SAE), apresentado a um grupo de especialistas 
em São Paulo e posteriormente debatido na Câmara dos Deputados, é uma 
versão preliminar. Mesmo assim, causou estranheza entre os que tiveram 
acesso a ele. Um dos motivos é não ter como base o Plano Nacional de 
Educação (PNE).
Para
 o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, 
Daniel Cara, o Pátria Educadora precisa contemplar o PNE, sancionado no 
ano passado, sem vetos, pela presidenta Dilma Rousseff. O PNE prevê 
metas para a educação para os próximos dez anos, desde o ensino infantil
 à pós-graduação, incluindo a formação e valorização dos professores e a
 destinação de pelo menos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano 
para o setor no final da vigência.
"O documento ainda precisa ter
 diálogo com o PNE, essa era a nossa expectativa, quando Dilma anunciou o
 Pátria Educadora", diz. "Para dar certo, o PNE depende fortemente da 
implementação inicial. Precisa que o projeto seja bem implantado para 
continuar crescendo e esses quatro primeiros anos têm demandas centrais 
que precisam ser desenvolvidas para que dê certo".
O presidente 
da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto 
Leão, concorda com Daniel Cara. "[O Pátria Educadora] é um documento 
muito complicado. Alguns temas não têm relação com o PNE. Propõe 
carreira para professores enquanto o PNE fala também dos demais 
profissionais", diz.
O Pátria Educadora elenca uma série de ações para que o slogan do governo seja colocado em prática. Entre elas está o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) online, a utilização de tecnologias, sobretudo vídeos e softwares interativos,
 em sala de aula, a criação de centros de qualificação avançada para 
formar professores e de uma variante do Programa Universidade para Todos
 (ProUni), o Profaped, que se destinará a conceder bolsas de estudo a 
estudantes que ingressem nos cursos de pedagogia e de licenciatura.
“Revisei
 o documento e a grande dúvida que ficou é: que lugar esse documento 
ocupa na política nacional de educação? Qual o propósito desse esforço 
fora do MEC [Ministério da Educação]?”, questiona a coordenadora-geral 
do movimento Todos pela Educação, Alejandra Velasco.
O documento foi enviado a especialistas por e-mail
 com uma mensagem do ministro da SAE, Mangabeira Unger, que diz que o 
texto foi elaborado a pedido da presidenta Dilma. Estabelece ainda que 
os diretores de escolas com desempenho insatisfatório receberiam apoio e
 orientação. Em último caso, seriam afastados e substituídos. O texto 
propõe também a criação de escolas federais de referência, as escolas 
Anísio Teixeira, que servirão como "espaço privilegiado para o 
experimentalismo pedagógico"
"Essa
 escolas teriam um processo de seleção rigorosa. A gente já sabe, já 
debateu, é ponto pacifico [entre especialistas] essa ideia de que 
escolas federais são ótimas. A gente sabe que são ótimas porque a 
clientela é otima, porque os alunos já são selecionados. O professor 
médio não encontra essas condições. Como faz para lidar com diferentes 
perfis de alunos? Lidar com diferentes níveis de aprendizagem, com 
bagagem de nível socioeconômico? Essa é a dificuldade. Surpreende um 
pouco esse tipo de proposta", analisa Alejandra.
Mangabeira 
escreveu aos especialistas e entidades alguns dias depois para 
esclarecer "algumas divergências". Em relação ao PNE, diz que é uma 
"lei-arcabouço”. “[O PNE] fixa metas e define procedimentos. Invoca 
conceitos abstratos como o do regime de cooperação dentro da Federação 
sem dar-lhes conteúdo institucional. A proposta preliminar da Pátria 
Educadora começa a dar conteúdo a estas diretrizes. Demarca trajetória 
para transformá-las em realidade". 
Procurado, o MEC diz que está
 "debruçado sobre as metas do PNE”. “Qualquer contribuição é bem-vinda, 
seja da sociedade, governo, entidades".