Sábado, 27 de junho de 2015
A Grécia vai referendar a
proposta dos credores no domingo, 5 de julho. Tsipras diz que a última
semana provou que o objetivo de alguns parceiros e instituições não era o
de chegar a um acordo aceitável para todos, mas o da “humilhação de um
povo inteiro”. Leia aqui o discurso de Alexis Tsipras.
27 de Junho
Foto de FrangiscoDer.
O governo grego
rejeitou esta sexta-feira a proposta dos credores para um acordo válido até
novembro, com mais austeridade sobre trabalhadores e pensionistas e sem
resolver o problema de financiamento da Grécia a partir daí, abrindo caminho a
um terceiro memorando.
“Após cinco meses de
negociações, os nossos parceiros acabaram por fazer um ultimato, o que
contraria os princípios fundadores da Europa e compromete a recuperação da
sociedade e da economia grega”, afirmou Tsipras na comunicação ao país após a
reunião do governo.
A proposta de
promover um referendo a 5 de julho teve unanimidade e o primeiro-ministro
promete que respeitará o resultado, qualquer que seja, e que a “Grécia é e
continuará a ser uma parte indissolúvel da Europa”. Tsipras informou Merkel,
Hollande e Draghi da decisão e irá pedir formalmente no sábado aos líderes
europeus um alargamento do prazo do atual programa por alguns dias, “para que o
povo grego possa decidir, livre de pressões e chantagens, como obriga a nossa
Constituição e a tradição democrática da Europa”.
“Temos hoje sobre os
nossos ombros a responsabilidade histórica para com as lutas e os sacrifícios
do povo grego para a consolidação da democracia e da soberania nacional. Essa
responsabilidade obriga-nos a responder ao ultimato apoiando-nos na vontade
soberana do povo grego”, afirmou Tsipras, apelando aos eleitores “a que tomem
esta decisão de forma soberana e com o orgulho que nos ensinou a história da
Grécia”.
“Uma Europa sem
democracia é uma Europa sem identidade nem bússola”, prosseguiu Tsipras,
defendendo a perspetiva europeia de uma “casa comum dos povos”, onde não há
“donos e convidados”.
O Esquerda.net
reproduz, na íntegra, a intervenção de Alexis Tsipras (tradução de Rita Silva):
"Cidadãos
gregos,
Nos
últimos seis meses, o governo grego tem travado uma batalha em condições de
asfixia económica sem precedentes, a fim de implementar o seu mandato, o de 25
de janeiro.
O
mandato para negociar com os nossos parceiros levar a austeridade a um fim,
para a prosperidade e a justiça social voltar, novamente, ao nosso país.
Por
um acordo sustentável que respeite a democracia, bem como as regras europeias,
e que leve a uma saída definitiva da crise.
Durante
as negociações, fomos repetidamente solicitados a implementar as políticas dos
memorandos acordados pelos governos anteriores, apesar do fato de que os
memorandos foram inequivocamente condenados pelo povo grego nas recentes
eleições.
Nós
nunca considerámos ceder, nem sequer por um momento. De trair a vossa
confiança.
Após
cinco meses de duras negociações, os nossos parceiros apresentaram uma
proposta-ultimato na reunião do Eurogrupo, tendo como objetivo atingir a
democracia grega e o povo grego.
Um
ultimato que contraria princípios e valores fundadores da Europa. Os valores do
nosso projeto comum europeu.
O
governo grego foi convidado a aceitar uma proposta que irá adicionar um novo
peso insuportável nos ombros do povo grego, e que vai minar a recuperação da
economia grega e da sociedade, não só pela incerteza que gera, mas também pelo
aumento exacerbado das desigualdades sociais.
A
proposta das instituições inclui medidas para desregulamentar ainda mais o
mercado de trabalho, cortes de pensões e reduções adicionais nos salários do
setor público - bem como um aumento do IVA sobre alimentos, restaurantes e
turismo, assim como a eliminação dos benefícios fiscais das ilhas gregas.
Estas
propostas que violam diretamente o acervo social europeu e os direitos
fundamentais ao trabalho, igualdade e dignidade - provam que determinados
parceiros e membros das instituições não estão interessados em chegar a um
acordo viável e benéfico para todas as partes, mas sim na humilhação do povo
grego.
Estas
propostas ilustram sobretudo a insistência do FMI em duras e punitivas medidas
de austeridade. Agora é o momento para as principais potências europeias se
levantarem e tomarem a iniciativa de terminar definitivamente a crise da dívida
grega, uma crise que afeta outros países europeus, bem como ameaça o futuro da
integração europeia.
Cidadãos
gregos,
Estamos
diante a responsabilidade histórica de não deixar que as lutas e os sacrifícios
do povo grego sejam em vão, assim como de fortalecer a democracia e a nossa
soberania nacional. Essa responsabilidade pesa sobre nós.
A
nossa responsabilidade pelo futuro do nosso país.
Esta
responsabilidade obriga-nos a responder ao ultimato baseado na vontade soberana
do povo grego.
No
início da noite, o Gabinete foi convocado e propus a realização de um
referendo, para que o povo grego possa decidir.
A
minha proposta foi aceite por unanimidade.
Amanhã,
o Parlamento vai realizar uma reunião extraordinária para ratificar a proposta
do Conselho de Ministros para um referendo que terá lugar no próximo domingo, 5
de julho. A questão no boletim de voto será se a proposta das instituições
(troika) deve ser aceite ou rejeitada.
Já
informei o presidente francês, a chanceler alemã e o presidente do BCE da minha
decisão, e amanhã vou pedir, por escrito, uma curta extensão do programa aos
líderes da UE e as instituições, de modo a que as pessoas possam decidir livre
de pressões e chantagens, como estipulado pela Constituição do nosso país e
tradição democrática da Europa.
Cidadãos
gregos,
Peço-vos
para decidir - com a dignidade e soberania que a história grega exige - se
devemos aceitar o ultimato chantagista que exige austeridade sem fim, rigorosa
e humilhante, e sem a perspetiva de ficar de pé, social e financeiramente.
Devemos
responder ao autoritarismo e à dura austeridade, com a democracia, de forma
calma e decisiva.
A
Grécia, o berço da democracia, deve enviar uma mensagem democrática retumbante
à comunidade europeia e global.
E
eu, pessoalmente, comprometo-me a respeitar o resultado de escolha democrática,
seja ela qual for.
Estou
absolutamente confiante de que a escolha vai honrar a história do nosso país e
irá enviar uma mensagem de dignidade a todo o mundo.
Nestes
momentos críticos, todos nós temos que lembrar que a Europa é a casa comum de
todos os seus povos.
Que
na Europa não há proprietários e convidados.
A
Grécia é, e continuará a ser, parte integrante da Europa, e a Europa, parte
integrante da Grécia.
Mas
uma Europa sem democracia será uma Europa sem identidade e sem bússola.
Peço
a todos vocês para agir com unidade e compostura nacional, e para tomar uma
decisão digna.
Para
nós, para nossas futuras gerações, para a história grega.
Para
a soberania e a dignidade do nosso país.
Atenas,
27 de Junho de 2015, 01h00".