Domingo, 31 de janeiro de 2016
Da Tribuna da Internet
Carlos Newton
Em nota divulgada neste domingo (31) em seu site, o Instituto Lula
diz que adversários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentam
criar um escândalo, “a partir de invencionices” no episódio envolvendo a
suposta propriedade de um apartamento em um condomínio no Guarujá,
litoral paulista.
Como se sabe, na semana passada, o Ministério Público de São Paulo
intimou o ex-presidente e a mulher dele, Marisa Letícia, para prestar
depoimento como investigados, no dia 17 de fevereiro, sobre um imóvel
tríplex, no Condomínio Solaris, no Guarujá. A suspeita do Ministério
Público Federal é de que proprietários de apartamentos do condomínio
usaram o nome de terceiros para ocultar patrimônio.
O APARTAMENTO ERA OUTRO?
Mostrando imagens de documentos relativos ao negócio, a nota redigida
pelos advogados de Lula faz um histórico a respeito da cota em um
empreendimento da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo
(Bancoop). Segundo o texto, a mulher de Lula, Marisa Letícia, pagou,
entre maio de 2005 e dezembro de 2009, as prestações mensais e
intermediárias do carnê da Bancoop.
“Como fez para cada associado, a Bancoop reservou previamente uma
unidade no futuro edifício – no caso, o apartamento 141, uma
unidade-padrão, com três dormitórios (um com banheiro) e área privativa
de 82,5 metros quadrados”.
VENDIDO A OUTRA PESSOA?
A nota do Instituto Lula diz que, ao fim desse período, a Bancoop
passava por crise financeira e estava transferindo vários de seus
projetos a empresas incorporadoras, entre elas a OAS. A família, mesmo
não tendo aderido ao novo contrato com a “incorporadora OAS, manteve o
direito de solicitar a qualquer tempo o resgate da cota de participação
na Bancoop e no empreendimento” e como não houve adesão ao novo
contrato, a unidade foi vendida para outra pessoa.
Na nota, o instituto diz que o ex-presidente, na condição de cônjuge
em comunhão de bens, declarou ao Imposto de Renda “regularmente a
cota-parte do empreendimento adquirida por sua esposa” e que a
informação consta da declaração de bens de Lula como candidato à
reeleição, registrada no Tribunal Superior Eleitoral em 2006.
DISPONÍVEL PARA VENDA?
Segundo o texto, redigido pelos advogados de Lula, um ano depois de
concluída a obra do Edifício Solaris, o ex-presidente Lula e Marisa
Letícia visitaram, junto com o então presidente da OAS, Léo Pinheiro, o
apartamento tríplex que estava disponível para venda e que foi a única
vez em que Lula esteve no local. “Marisa Letícia e seu filho Fábio Luís
Lula da Silva voltaram ao apartamento, quando ele estava em obras. Em
nenhum momento, Lula ou seus familiares utilizaram o apartamento para
qualquer finalidade.”
A nota acrescenta que a família desistiu da compra, “mesmo tendo sido
realizadas reformas e modificações no imóvel (que naturalmente seriam
incorporadas ao valor final da compra) e que as “notícias infundadas,
boatos e ilações romperam a privacidade necessária ao uso familiar do
apartamento”.
AS MENTIRAS CONTINUAM
Não precisa ser do Ministério Público nem da Polícia Federal para
constatar que a nova versão do Instituto Lula não se sustenta. Pelo
contrário, representa uma confissão de culpa, porque esta é terceira
versão “oficial” sobre o caso do triplex. Em dezembro de 2014, o mesmo
Instituto Lula afirmou ao Globo que Lula era proprietário do apartamento
triplex no Condomínio Solaris, na Praia das Astúrias, no Guarujá, e que
ele havia pago o imóvel em prestações ao longo dos anos.
Uma semana depois, o Instituto Lula mudou a versão, passando a alegar
que dona Marisa Letícia Lula da Silva é que seria proprietária de uma
cota de participação da Bancoop, cooperativa responsável pelo início das
obras, depois assumidas pela empreiteira OAS. Agora, vem o mesmo
Instituto e diz que o imóvel de Lula/Marisa não era o triplex 164A, mas o
modesto apartamento 141, de apenas 82,5 m².
Acontece que o documento exibido pelo Instituto Lula mostra dona
Maria comprando o apartamento 141 do Edifício Navia, mas o triplex 164A
fica no Edifício Solaris. Quer dizer, além de ser outro apartamento, o
prédio também mudou (são várias unidades da Bancoop no local, há também o
Edifício Gijon).
Os documentos exibidos este fim de semana pela IstoÉ e as testemunhas
já ouvidas pelo Ministério Público mostram o contrário – que o
apartamento dos Lula da Silva era o 164A do Edifício Solares. E a gente
fica pensando em quem deve acreditar: em Lula ou no Instituto Lula?