Segunda, 29 de fevereiro de 2016
Ivan Richard – Repórter da Agência Brasil
Dois funcionários do Grupo Schahin disseram hoje (29) ao juiz
Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato na
primeira instância, que as fazendas do grupo nunca receberam embriões de
gado de elite, que teriam sido comprados de empresas do pecuarista José
Carlos Bumlai. O pecuarista foi preso na 21ª fase da Lava Jato. De
acordo com os funcionários, a negociação foi, no entanto, registrada na
contabilidade da Fazenda Agromasa, que pertence ao Grupo Schahin.
Investigadores
da força-tarefa da Lava Jato afirmam que a negociação de compra e venda
de sêmen de gado de elite, realizada em 2009, foi usada para simular a
quitação de um empréstimo de R$ 12 milhões feito por Bumlai no Banco
Schahin.
Segundo Bumlai, o empréstimo, que se destinava ao PT,
foi pago mediante a contratação da Construtora Schahin como operadora do
navio-sonda Vitória 10.000, da Petrobras, em 2009. O pecuarista foi
preso em novembro na Operação Passe Livre e está custodiado no Complexo
Médico-Penal em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Muito
próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bumlai foi
denunciado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Primeiro
a depor hoje como testemunha de acusação, o gerente administrativo de
duas fazendas do Grupo Schahin, Waldemar Merlo informou ao juiz Sergio
Moro que, apesar de receber a documentação relativa à negociação dos
embriões, o material genético nunca foi entregue nas propriedades rurais
do grupo.
“A única coisa que me falaram foi para encaminhar [os
documentos] ao contador para ele escriturar. Fiquei aguardando a
entrega. Foi passando o tempo, [os embriões] não chegaram. Cheguei a
falar a respeito [com superiores], mas ninguém deu resposta”.
Responsável
pelo envio dos documentos, Ivan Marques Liza, coordenador das fazendas
Agromasa e Turiaçu, que pertencem ao Grupo Schahin, confirmou que o
material genético nunca foi entregue. “Nunca recebi nenhum embrião, mas o
contrato existe. Encaminhei apenas para o contador para registro
contábil”, disse. Liza disse ainda “não lembrar” que nao lembrava de
quem passou os contratos. “Foram entregues por alguém da alta
administração via malote”, informou.
Os depoimentos fazem parte
da ação penal que tem como denunciados, além de Bumlai, o filho dele,
Maurício, Salim e Milton Schahim, o ex-diretor da Petrobras Nestor
Cerveró, o ex-gerente da estatal Eduardo Costa Vaz Musa, o lobista
Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, o ex-tesoureiro do PT
João Vaccari Neto e o ex-diretor da Petrobras Jorge Luiz Zelada.
Desde
o surgimento das primeiras denúncias, o PT sustenta que todas as
doações obtidas pelo partido foram feitas de forma legal e declaradas às
autoridades.