Sexta, 26 de fevereiro de 2016
André Richter - Repórter da Agência Brasil
A funcionária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares,
presa na Operação Acarajé, da Polícia Federal, afirmou, em depoimento
aos investigadores, que a palavra "acarajé", na correspondência de
funcionários da empresa, não significa propina, mas sim uma iguaria
baiana.
Segundo a PF, e-mails apreendidos na sede da empreiteira
mostram que dois executivos, Hilberto Mascarenhas e Roberto Ramos,
trocaram mensagens, em 2013, nas quais acionavam a funcionária para
entregar “acarajés” nos endereços indicados por eles.
No
depoimento, Maria Lúcia, presa em Salvador, declarou que Mascarenhas lhe
pedia para providenciar o quitute e não o pagamento de propina. A PF
batizou a 23ª fase da Lava Jato com o nome do bolinho, por entender que
o termo, no caso, se refere a valores em espécie que eram entregues a
Ramos.
“Afirma
[Maria Lúcia] que se recorda que por vezes Hilberto lhe pedia para
providenciar a entrega de porções de acarajé no Rio de Janeiro, em um
escritório. As baianas em Salvador vendem pequenas porções para
aperitivos, em caixa, e então cabia à declarante providenciar essas
entregas a pedido de Hilberto, no local onde ele indicasse”, diz trecho
do depoimento.Para os delegados, a versão de Maria Lúcia é “pouco
verossímil” e, conforme as investigações, a funcionária era responsável
pelo gerenciamento da “contabilidade paralela” da Odebrecht.
“Os
acarajés – em porções de 50 – seriam supostamente remetidos de Salvador
para o Rio de Janeiro e ‘chegavam quentinhos’, conforme relatado nos
e-mails analisados. Registra-se ainda nos e-mails uma menção ao envio de
50 acarajés dos 500 - (saldo que Roberto Ramos tinha com Hilberto) -
circunstâncias que desmontam, de pronto, a plausibilidade da versão
sustentada por Maria Lúcia”, diz a PF. No depoimento, Maria Lúcia também
declarou que era meramente encarregada de fazer relatórios financeiros.
A Polícia Federal apreendeu uma planilha na casa da funcionária, que,
segundo as investigações, seria responsável pelos pagamentos ao
publicitário João Santana.
No documento, intitulado Feira-Evento 14 foram identificados sete pagamentos, que totalizam R$ 4 milhões, e fazem referência às palavras “Cid, São e totalmente atendida”. Segundo a PF, os termos Cid e São seriam referências à cidade de São Paulo; a palavra Feira seria o apelido de Santana.
Em
entrevista coletiva hoje (26), os advogados de Santana e de sua mulher,
Mônica Moura, refirmaram que eles não receberam dinheiro da Odebrecht
no Brasil. A defesa afirma que eles obtiveram recursos da empreiteira no
exterior, porque era a única forma de receber pelos serviços prestados
nas campanhas eleitorais na Venezuela e em Angola.
Em nota à Agência Brasil,
a Odebrecht afirmou que “não tem conhecimento da planilha apresentada
pela autoridade policial e não tem como comentar a sua veracidade ou
significado”.