Do Blog Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti

Lula sendo libertado do Deops em 1980 |
Diziam os antigos que, se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia. E uma zombeteira canção do Chico Buarque (vide a janelinha lá embaixo) trata de desconstruir essas pérolas do senso comum.
Mesmo
assim, darei um conselho ao Lula, na esperança de contribuir para que
ele tenha uma velhice tranquila: não adianta utilizar instrumentos de
revolucionários quando não se é revolucionário.
Em
1980, quando estava confortavelmente preso no Dops de SP, com direito a
bater bola com outros sindicalistas e a assistir jogo do Corinthians na
TV, caiu na besteira de iniciar uma greve de fome e a encerrou logo
depois, com o rabo entre as pernas. Deu esta justificativa:
"Sempre fui contra greve de fome, judiar do meu próprio corpo não é comigo, mas o pessoal decidiu".
Agora,
está se queixando à ONU de perseguição judicial, o que só faria sentido
sob uma ditadura e apenas no caso de ser um contestador da ordem
vigente e estar sendo acusado de subversão, como acontecia nos anos de chumbo.
Todos
sabemos que as três hipóteses são inverídicas, embora a tentativa de
evitar que volte ao poder deva ser a motivação subjacente de tanto
empenho em provarem que Lula cometeu os mesmos delitos dos políticos
convencionais.
Mas,
infelizmente para o Lula, hoje ele também não passa de um político
convencional e, se tirar do baú a camiseta que utilizava nas portas de
fábricas e vesti-la de novo, só evidenciará o quanto a barriga cresceu
desde então.
Não
dá para ir à ONU e se dizer injustiçado por pretenderem puni-lo em
função de práticas nas quais tantos outros incorrem impunemente. O único
erro é não haver punição nos demais casos, e isto independe da ONU.
Então,
ele deveria mirar-se no exemplo do Paulo Maluf, por quem tem tanto
apreço e consideração, a ponto de haver posado numa alegre promiscuidade
com o dito sujo (ôps, quer dizer, cujo) em fotos que horrorizaram a militância petista.
Enquanto
Maluf insistia em disputar eleições para o Executivo, a polícia sempre
rondava e até o prendia. Quando se resignou a ser deputado federal,
deixaram-no em paz.
Não
tenho nenhuma ilusão sobre a inflexibilidade do combate à corrupção sob
o capitalismo – ainda mais no Brasil! Seria capaz de apostar que,
anunciando sua definitiva desistência de voltar à Presidência da
República, Lula conseguiria manter-se fora das grades.
Na
verdade, creio que isto acontecerá de qualquer maneira. Estão com a
faca e o queijo na mão, prontinhos para abortarem tal voo presidencial
pelas vias legais.
E,
com toda sinceridade, detestaria ver o Lula preso aos 70 anos, assim
como detesto ver o Zé Dirceu preso aos 69. Pertencem a outra etapa da
História brasileira e é hora de saírem de cena, desimpedindo os trilhos
para que as novas gerações tentem fazer o que o Zé Dirceu fracassou em
fazer e o Lula nunca quis fazer: darem um fim à exploração do homem pelo
homem.
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A Erundina arretada desistiria mesmo de ser vice do Haddad! |
Parafraseando Fado tropical, outra bela canção do Chico Buarque de outrora, no fundo, eu sou um sentimental. Vejo o Lula, a Dilma e o Zé
como figuras hoje nefastas para a revolução brasileira e ficaria muito
contente com o definitivo ostracismo político dos três.
Mas,
nunca desejarei suas desgraças pessoais. Se dependesse de mim,
passariam o resto de suas existências no aconchego dos lares, curtindo a
família e extraindo a máxima felicidade possível dos anos que lhes
restam.
Muito
antes de me tornar também um idoso, já considerava a prescrição dos
crimes e delitos como uma conquista fundamental da civilização. Até no
caso extremo do torturador-mor Brilhante Ustra, eu defendi que o Estado o
condenasse inequivocamente pelos crimes que cometeu, deixando bem claro
o quão hediondos haviam sido, como um exemplo para os pósteros; e, em
seguida, lhe permitisse, em função da idade e do fato de não apresentar
mais periculosidade, esperar a morte em casa.