Terça, 25 de abril de 2017
Presidente do PMDB, principal articulador de Michel Temer no
Congresso e uma das estrelas da Lava Jato, Romero Jucá defende uma
transição no lugar do extermínio da classe política encurralada pelo
maior escândalo de corrupção da história
Da Pública —Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Da Pública —Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
O senador Romero Jucá Filho é um homem ligeiro, com um quê de
hiperatividade, que veste sempre ternos bem cortados. A gravata costuma
ser um modelo slim que o deixa com uma aparência mais jovem que os seus
62 anos. Tem os olhos ariscos. Ao longo dos anos, ele desenvolveu uma
particular habilidade de falar ao mesmo tempo com diferentes
interlocutores sobre os mais variados assuntos.
Na manhã da primeira quarta-feira de abril, em seu gabinete no
subsolo do Senado, em Brasília, o senador começava o dia em meio a
inúmeros telefonemas, rápidos encontros em sua sala e despachos com os
assessores. Dali a pouco iria para o Palácio do Planalto para um almoço
convocado de última hora pelo presidente Michel Temer.
Quando finalmente se sentou à sua mesa, passando em revista os
compromissos que ainda teria no dia – encontro com um economista de um
banco americano para tratar da reforma da Previdência, reunião com
senadores no gabinete de Aécio Neves, uma conversa com o relator da
reforma política na Câmara, a posse simbólica de seu pupilo e substituto
no Ministério do Planejamento, Dyogo Oliveira, além de um encontro com
prefeitos de Roraima que estavam em Brasília –, ele disse qual era o seu
tipo ideal de político:
“Se fosse para formar um mix, diria que ele precisa ter a coragem de
Leônidas [general e rei de Esparta], a simplicidade de Abraham Lincoln, a
perseverança de Churchill, a grandeza de espírito de Mandela, o charme
de John Kennedy e o apelo de Obama. Meu molde é esse”, disse, sério,
enquanto manuseava pastas personalizadas com a inscrição “GSRJ”, de
gabinete do senador Romero Jucá.
Dali a sete dias o político seria uma das estrelas da lista divulgada
pelo Supremo Tribunal Federal com os 98 políticos alvos da investigação
da Lava Jato, a partir da delação de 77 executivos e ex-funcionários da
Odebrecht, que encurralou de forma inédita praticamente toda a classe
política. O senador, acusado de receber pelo menos R$ 23 milhões em
propinas da empreiteira, foi apontado por sete delatores como um dos
principais arrecadadores do PMDB no Congresso e será investigado pelos
crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele e
Aécio são os recordistas nos pedidos de inquérito solicitados pela
Procuradoria-Geral da República, cinco cada um.
Não são os seus únicos aperreios na Lava Jato – muito menos são as
primeiras denúncias de corrupção em sua vida pública, mas até agora ele
conseguiu driblar todas as acusações ou foi beneficiado pelas
prescrições dos crimes nos quais era investigado.
Desde o ano passado, Jucá é alvo de pelo menos outras três
investigações da Lava Jato, uma delas apura o suposto plano de barrar a
investigação, que o levou a ser grampeado tratando de um pacto, “com
Supremo, com tudo”, para deter a operação. O áudio provocou a sua queda
do Ministério do Planejamento, dias depois de ter sido nomeado por
Temer. Seria a primeira das muitas baixas na equipe presidencial.
Mas o prestígio do senador não foi abalado. Pelo contrário. De volta
ao Congresso, Romero Jucá reassumiu o papel de líder do governo no
Senado, que, segundo a opinião de aliados e adversários, ele desempenha
com maestria, e ainda exerce grande influência na equipe econômica do
governo, da qual se considera um “membro honorário”.
Presidente nacional do PMDB e um dos mais influentes parlamentares do
Congresso, Jucá talvez seja o nome que melhor encarne a elite política
ameaçada pela investigação que revelou uma corrupção sistêmica vigente
no país há pelo menos três décadas. Foi exatamente a partir de 1985, na
redemocratização, que ele despontou nacionalmente, participando desde
então – de um jeito ou de outro – de todos os governos. Mostraria
habilidades por onde passou e seria útil para cada um deles. Agora que o
PMDB está instalado na Presidência, não sendo mais o coadjuvante dos
governos FHC, Lula e Dilma, o poder e a influência do político cresceram
consideravelmente.
Neste primeiro ano do governo Temer, não houve medida no Congresso
que não tenha contado com sua atuação: da aprovação da PEC do teto dos
gastos públicos à lei da terceirização, da reforma da Previdência em
curso às tentativas – até agora frustradas – de blindar a classe
política ameaçada pela Lava Jato. Em todas há a digital de Jucá.
Partidários e opositores são unânimes na hora de defini-lo como
“leal”, “preparado”, “inteligente”, “trabalhador” e “cumpridor das
promessas”. Ele próprio se autointitula um “resolvedor”, termo que
aparece na delação de Cláudio Melo Filho, um dos executivos da
empreiteira baiana, que o descreveu como um “resolvedor da República no
Congresso”, o “eterno líder”.
Uma
das estrelas da Lava Jato, Jucá é recordista (ao lado de Aécio Neves)
nos pedidos de inquérito da nova fase da investigação (Foto: PMDB
Nacional)
Nascido no Recife em 30 de novembro de 1954, Jucá trilhou o caminho
da política por mero acaso. O responsável foi seu professor de
estatística no curso de economia na Universidade Católica de Pernambuco
(Unicap), José Jorge. Hoje retirado da vida pública, JJ, como é
conhecido, seria secretário estadual de governadores como Marco Maciel,
deputado federal, senador e ministro do Tribunal de Contas da União,
onde se aposentou em 2014 – ele também foi candidato a vice na chapa
presidencial do tucano Geraldo Alckmin, em 2006.
De família de classe média, Jucá foi o primeiro dos seis filhos do
casal Romero Regueira Jucá Rego Lima e Helga Ferraz. Sem ligação com a
política (só uns parentes da mãe chegaram a se aventurar na disputa
local, sem muito sucesso), a família cresceu no bairro da Ilha do Leite,
no Recife. Romerão, como era chamado o pai, trabalhou como despachante
de navios no porto da cidade e ficou conhecido no bairro, nos anos 1970,
como vendedor de uísque (e demais destilados) contrabandeado. Ainda
hoje o Recife é a cidade com maior consumo per capita de uísque do
Brasil. A venda de destilados à margem do Fisco – como fez o pai de John
Kennedy nos Estados Unidos dos anos 1930 – é lembrada pelos recifenses
mais velhos. “Ele gostava de beber uísque. Vender, que eu me lembre,
não”, disse Jucá. Quem conheceu Romerão conta que, além do bigode (que
Jucá usa desde a formatura, em 1976, aos 22 anos), o filho ainda herdou a
esperteza e a simpatia do pai.
“Ele era bedel de José Jorge, que deve ter gostado muito de Jucá,
pois ficaram muito próximos”, lembra um advogado pernambucano que
trabalhou com os dois no final daquela década e que pediu para não ser
identificado. “Ele era um menino ambicioso e vivo, se via desde cedo. E
queria trabalhar, era muito trabalhador. Dizia que a família não tinha
dinheiro para lhe dar e que ele queria fazer o seu.”
José Jorge lhe arrumou o primeiro estágio no Conselho de
Desenvolvimento de Pernambuco (Condepe) durante o governo de Moura
Cavalcanti, em 1975, quando ele ainda estudava economia. “Ele diz que eu
assinei a carteira de estágio dele, mas não me lembro”, contou Everardo
Maciel, ex-secretário da Receita Federal no governo de FHC, que atuou
no Condepe – e depois no governo pernambucano – naqueles anos e conviveu
com o futuro senador.
Romero continuou com o mentor. Primeiro na Secretaria de Educação,
depois na de Habitação, quando Marco Maciel estava no Palácio do Campo
das Princesas, nomeado pela ditadura em 1979. Ali demonstraria pela
primeira vez sua habilidade política. Aos 25 anos, ele foi um dos
responsáveis pela execução de um ambicioso programa, ainda hoje lembrado
pelos pernambucanos, que construiu cerca de 100 mil casas no estado.
“Ele fez um trabalho primoroso, esse jeito dele de fazer política que
ele aprimorou ao longo dos anos. Ele atendia pessoalmente as pessoas,
uma por uma, não importava a hora. Cuidou de todo o cadastramento e da
entrega das casas. Foi um sucesso”, conta o mesmo advogado que pediu
reserva.
Nas eleições de 1982, José Jorge foi eleito deputado federal, segundo
o advogado, graças sobretudo ao trabalho de Romero Jucá, que coordenou a
campanha do ex-professor. De férias fora do país, José Jorge não quis
falar sobre a trajetória do ex-aluno.
O senador lembra com carinho dos tempos de política no Recife. Foi
com José Jorge que Jucá aprendeu a importância de ter uma “sólida”
formação técnica, como contou. “Não como na mão de assessor, de
consultoria. Eu sempre dou a receita, nunca pergunto a receita. Eu
discuto com a área econômica, com a Receita Federal, os caras não me
enrolam. A escola política pernambucana é sofisticada, independente do
lado ideológico.”
Apesar de nunca ter sido próximo de Marco Maciel, foi com o futuro
vice de FHC que ele aprendeu a ajudar os adversários. Aliado dos
militares, Maciel seria capaz de gestos como visitar as famílias de
políticos cassados pelo regime para prestar solidariedade e se colocar à
disposição. Jucá também atua numa espécie de transpartidarismo. Um dos
“capitães” do impeachment de Dilma, como o definiu o senador Jorge Viana
(PT-AC), ele é capaz de ajudar até seus adversários na liberação de
cargos e emendas. “Ele ajuda a oposição. Ainda que com pouco, ele sempre
está distribuindo alguma coisa”, afirma Telmário Mota (PDT), senador e
seu adversário em Roraima.
O convite para se mudar para Brasília, em 1985, no primeiro ano do
governo Sarney, chegou exatamente por meio de Marco Maciel, que era
ministro da Educação. “Ronaldo Costa Couto era ministro do Interior e
pediu para Marco indicar um nome para o Projeto Rondon. Ele pediu uma
sugestão para José Jorge, que indicou Romero, dizendo que ele poderia
fazer um bom trabalho”, contou Everardo Maciel, que era à época
secretário-executivo do Ministério da Educação. “Ele fez um bom trabalho
e caiu nas graças do general Bayma Denis”, completou.
Um dos conspiradores do golpe de 1964, o general Rubens Bayma Denis –
filho de Odílio Denis, ex-ministro da Guerra – foi escolhido por
Tancredo Neves para assumir o Gabinete Militar da Presidência durante a
transição democrática. Com a morte de Tancredo, Bayma tornou-se um dos
principais fiadores nas Forças Armadas da posse de Sarney, o vice.
Ganhou o respeito e a confiança do maranhense e continuou no cargo.
Jucá se tornou próximo do militar, um entusiasta do Projeto Rondon,
que ele coordenava. A boa relação com o círculo militar abriu as portas
para que o jovem economista assumisse a Fundação Nacional do Índio
(Funai) em 1986, época em que o órgão ainda estava sob influência das
Forças Armadas, e posteriormente ser indicado governador do território
de Roraima – os territórios na Amazônia eram outra área controlada pela
caserna. No famoso áudio gravado por Sérgio Machado, ex-diretor da
Transpetro, Jucá afirma que os militares deram aval para o impeachment
de Dilma: “Estou conversando com os generais, comandantes militares.
Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir”.
Foi na Funai que nasceu a fama de “resolvedor”. “Um dia Ronaldo Costa
Couto me chamou e disse: ‘Jucá, preciso de um favor seu. Você vai
assumir a Funai. Como? Nunca vi um índio na vida. Nos filmes que tinham
índios e cavalaria, eu sempre torcia para a cavalaria’”, disse.
Em maio de 1986, ele entrou pela primeira vez no Palácio do Planalto,
de carro, para conversar com Sarney – e Bayma Denis – sobre a Funai.
“Fui perguntar se teria mesmo carta branca. Ele assentiu, e ainda chamou
os militares para dizer que eu tinha liberdade para fazer tudo o que
fosse necessário.” Prestes a completar 32 anos, ele seria o mais jovem
presidente da história do órgão indigenista, onde ficou por três anos.
“Ele foi o único presidente da Funai que caiu para cima”, afirma o
sertanista José Carlos Meirelles, que atuou no órgão entre 1970 e 2010.
Meirelles discorda da maneira como o ex-chefe vê a questão indígena, mas
reconhece que ele se empenhou muito para conhecer a realidade dos
índios. “Ele conhece o assunto, mas para o mal. Sabe as comunidades que
aceitam dinheiro, as que não aceitam, as divisões dos índios”, ressalta.
No arquivo do senador há inúmeras fotografias de seu período à frente
do órgão, com registros de suas passagens por terras indígenas e
encontros com lideranças, na Amazônia e em Brasília. “Foi uma grande
escola”, disse. Um de seus orgulhos é a criação do Departamento de
Índios Isolados, durante a sua gestão. Autor de um projeto de lei –
apresentado em meados dos anos 1990 e ainda em trâmite no Congresso –
que regulamenta a mineração em terra indígena,
ainda hoje o senador trata de assuntos relacionados ao tema. Empossado
no início do ano, o novo presidente da Funai, o dentista e pastor
evangélico Antônio Costa, foi recentemente visitá-lo em seu gabinete no
Senado dizendo que precisava falar com o “padrinho da Funai”.
“Sarney me pediu para ficar [na Funai] até que a Constituinte
aprovasse o capítulo do índio, que foi o último item das discussões
permanentes a ser aprovado”, disse. Foi quando começou a articulação –
tocada por militares e civis, com os mesmos Bayma Denis e José Jorge –
para ele ser indicado governador do território de Roraima. “Quando me
disseram sobre o governo de Roraima, falei que para sair da Funai eu
pegava qualquer coisa”, disse. Ele assumiu o território ainda em 1988,
após ter o nome aprovado em uma votação no Senado.
No início da década seguinte começariam a surgir as primeiras
denúncias. Em 1990, ele foi denunciado sob a acusação de, como
presidente da Funai, ter feito venda ilegal de madeiras da reserva
indígena de Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. O caso acabou arquivado. “Fui o
único presidente da Funai que saiu do cargo promovido e ainda tive
todas as minhas contas aprovadas pelo TCU”, disse.
O relatório da Comissão Nacional da Verdade, apresentado à
Presidência em 2014, responsabiliza-o pelo “caso mais flagrante de apoio
do poder público à invasão garimpeira” à terra dos índios ianomâmis, em
Roraima. Segundo estimativas, mais de 40 mil garimpeiros invadiram a
área no fim da década de 1980. Estima-se que um quarto da comunidade
ianomâmi morreu em consequência direta do garimpo e das doenças trazidas
pelos brancos. Segundo a CNV, Jucá “não só deixou de agir para combater
a invasão como a estimulou”.
Em 1989, já no governo de Roraima, Jucá manifestou-se contra o plano
federal de retirada dos 40 mil garimpeiros da área, o que o transformou
num ícone para esses trabalhadores até hoje. O apoio dos garimpeiros,
contudo, não foi suficiente para ele vencer a primeira eleição direta
para o governo de Roraima, em 1990. Filiado ao PDS, Jucá perdeu por uma
diferença pequena de votos para Ottomar Pinto. Mas era tarde. Ele e a
família já estavam assentados no novo estado. Logo em seguida, em 1992,
Teresa Jucá, sua segunda mulher, seria eleita prefeita de Boa Vista.
Em 1987, na Funai, durante um encontro de pajés na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso (Foto: Arquivo Pessoal)
“Jucá é uma espécie em extinção”, afirma o ex-ministro da Fazenda
Delfim Netto, que o conheceu rapazote, no final dos anos 1970, na
companhia de outro ex-ministro da ditadura, Mário Andreazza. “Ele é um
daqueles poucos políticos que continuam uma tradição brasileira de fazer
tricô com quatro agulhas, que era uma coisa do Tancredo, do Ulysses
Guimarães. Ele não só é imaginoso, mas trabalhador e tem disposição de
fazer as coisas, além da coragem”, completou.
A especialidade de Jucá, desde sempre, foi a economia, que combinou
com a habilidade e o faro políticos. Eleito para o senado pelo PSDB em
1994, ele começou a despontar como uma liderança no Congresso no governo
FHC (1995-2002). A influência nos órgãos estatais, com poder para
indicar cargos, também remonta a esse período.
No primeiro dos três diários lançados até aqui pelo ex-presidente,
que compreende sua passagem pelo Palácio do Planalto, FHC relata um
encontro em 1996 com o então governador de Roraima, Neudo Campos, que
reclama de uma disputa com Jucá no setor elétrico – a conversa narrada
por FHC era sobre uma ligação de energia entre Boa Vista e a Venezuela;
Neudo preferia que uma empresa local fizesse o trabalho, e não a
Eletronorte, federal. “Ele tem briga com o senador Jucá, que, segundo
Neudo, detém o controle da Eletronorte via senador Sarney, que tem o
presidente da Eletronorte. Enfim, brigas locais desesperadoras.”
No segundo volume dos diários, relativo aos anos de 1997 e 1998, FHC
elogia a atuação de Jucá como relator da reforma administrativa,
evitando que a oposição incluísse no projeto emendas que o
descaracterizassem. Logo ele seria indicado pelo tucano para ser o
vice-líder do governo no Senado.
Nas eleições de 2002, quando Lula foi eleito presidente, Jucá
conquistou seu segundo mandato de senador, ainda pelo PSDB. No ano
seguinte, migraria para o PMDB, seu partido desde então. Fora da
coalizão do PT no início do governo Lula, os peemedebistas logo
entrariam no barco. Em 2005, a convite de Lula, ele assumiu o Ministério
da Previdência Social – sua chegada ao cargo foi barulhenta, com
anúncio de cortes e reduções que mitigariam o déficit da Previdência.
Sua passagem pela Esplanada dos Ministérios, contudo, foi rápida: quatro
meses depois de ter assumido o cargo, ele caiu após revelações feitas
pelo jornalista Rubens Valente, na Folha de S.Paulo, de que nos
anos 1990 Jucá e um sócio ofereceram sete fazendas que não existiam
como garantia de um empréstimo (de R$ 18 milhões, incluindo juros e
correções) tomado ao Banco da Amazônia para uma empresa deles, a
Frangonorte. Por causa do episódio, ganhou o apelido de “fazendeiro do
ar” – nas delações da Lava Jato, o senador é chamado pelo codinome Caju,
uma inversão das sílabas de seu sobrenome. Onze anos depois, o mesmo
Rubens Valente foi o autor da reportagem, também publicada na Folha, que revelou os áudios gravados por Sérgio Machado e resultaria na sua saída do Ministério do Planejamento.
Mais uma vez, o prestígio de Jucá não ficaria abalado. Ele seria para
Lula no Senado o mesmo que o senador baiano Antônio Carlos Magalhães
foi para FHC, segundo as palavras do tucano: “faz a turma funcionar”.
Lula escalou-o na liderança no Senado. A relação com o ex-presidente
era tranquila. Os dois se deram bem. O mesmo não se pode dizer do PT,
que frequentemente tentava tirá-lo da liderança. “Uma vez ele me chamou e
me disse naquele jeito desbocado dele: ‘Jucá, você acha que sou doido?
Manda esses caras para a puta que pariu e vai fazer seu trabalho,
porra’”.
Com o ex-presidente petista, assim como ocorre agora no governo
Temer, Jucá afirma ter tido carta branca para fazer as costuras no
Congresso como ele achasse melhor. “O acordo que eu fizer aqui, eu
banco. A responsabilidade é minha. Como eles tinham muita confiança em
mim e sabiam que eu não extrapolava, eu tocava do meu jeito. Mas com
Dilma foi diferente, porque não tinha intimidade com ela, tudo foi
rápido”, disse sobre o período de pouco mais de um ano em que passou
como líder da petista no Senado.
De seu gabinete é possível ver a desenvoltura de sua relação com o
governo Temer. Naquela quarta-feira, um dos telefonemas foi para o
tucano Antônio Imbassahy, recém-empossado no cargo de secretário do
Governo (responsável pela articulação do Planalto com os parlamentares)
no lugar de Geddel Vieira Lima, outro ministro demitido por
irregularidades. “Imbassahy, duas coisas. Está resolvida a questão com o
Tesouro, pode pagar quem você quiser… Segundo, negociei com o
Meirelles, se você precisar de um recurso a mais para antecipar o
pagamento, a gente arranja, tá? Para você poder operar aí… Mas está tudo
redondo, ok?”, falou. O senador não explicou, mas na conversa ele
avisava ao ministro que havia recursos disponíveis para a liberação de
emendas aos parlamentares, forma utilizada por todos os governos para
garantir a fidelidade da bancada nas votações no Congresso.
Seu afastamento de Dilma, que ocorreu muito antes da eleição de 2014,
o aproximou da oposição ao PT, com quem sempre teve boas relações. No
último pleito, apoiou Aécio. Em 2015, durante a crise que resultou no
impeachment, Jucá foi um dos principais articuladores – na classe
política e no mercado – do Plano Temer. Colaborou também na criação do
programa Ponte para o Futuro, que teve para o governo peemedebista o
mesmo efeito da Carta ao Povo Brasileiro assinada por Lula em 2002:
sinalizar ao mercado a agenda liberal que seria implementada por meio de
reformas que estão em curso, como a previdenciária, trabalhista e o
teto de gastos já aprovado.
“Dilma quebrou os três pilares da economia: credibilidade do governo,
previsibilidade e segurança jurídica. Somos um país capitalista. O Lula
era um vivo, fazia um discurso socialista, para a população, mas ele
era capitalista, os caras ganhavam dinheiro. Com Michel estamos
trabalhando para recompor isso aí”, disse.
Jucá foi uma das peças-chave do impeachment contra Dilma e tornou-se o principal operador de Michel Temer no Congresso (Foto: Agência Senado)
O gabinete de Romero Jucá, na ala Afonso Arinos, no subsolo do
Senado, é um dos mais concorridos do Congresso. Lobistas, empresários,
políticos governistas e da oposição, jornalistas, toda a fauna
brasiliense em algum momento se dirige ao local para falar com o senador
sobre a aprovação de alguma emenda, para saber dos ritos de algum
projeto ou simplesmente para escutá-lo sobre os rumos da economia ou da
política.
A cobertura da Rede Globo dos desdobramentos da Lava Jato, que o tem
deixado enfurecido, fez com que ele dissesse abertamente pelos
corredores do Senado que a Globo não precisava mais procurá-lo para
tratar dos temas do grupo no Congresso. Referia-se a questões
tributárias do interesse das emissoras de rádio e TV, acompanhadas pela
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e que
inevitavelmente passa pelo crivo dos senadores.
“Porra, estou aqui para ajudar o Brasil. Então os caras começam a
tratar você como adversário. Mas não vou brigar, não vou sacanear
ninguém”, afirma. “Não mudo meu rumo por causa de adversário. Mas o
parceiro que eles tinham, eles não têm mais.” Sua reclamação é que toda
vez que aparece na Globo, mesmo quando trata de assuntos econômicos, há
sempre uma menção à Lava Jato e ao número de inquéritos de que é alvo.
“Porra, já me chama de filho da puta na entrada do negócio. Depois eu
apareço falando, o cara lá do outro lado pensa ‘olha aí esse filho da
puta, investigado, falando merda’.”
Ainda na manhã daquela quarta-feira, Jucá receberia para uma reunião
no seu gabinete o deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), relator da
reforma política em trâmite na Câmara e outro político alvo da Lava
Jato.
Na prática, o deputado teve uma aula de Jucá sobre orçamento
eleitoral (a proposta foca na criação de um fundo de financiamento das
campanhas): de onde poderia vir o dinheiro, como deveria ser a redação
do projeto de lei, quais eram os pontos mais sensíveis. Em tom
professoral, Jucá orientou-o a escrever com mais clareza uma parte do
projeto relativa à prestação de contas. A preocupação era deixar brechas
para questionamentos aos políticos após as eleições, sobretudo num
momento em que ele considera haver uma “criminalização da política” pelo
Ministério Público Federal. Antes de ir embora, Cândido ainda tirou
fotos com o senador. O deputado é acusado de receber R$ 50 mil em troca
de apoio para a construção do Itaquerão, estádio do Corinthians erguido
pela Odebrecht na zona leste de São Paulo.
O encontro com o relator da reforma política durou menos de 15
minutos. Diante da expressão de espanto de uma assessora, que se referia
ao despreparo demonstrado pelo deputado, Jucá foi solidário: “Pois é,
tem que ajudar, né?”.
Nas delações da Lava Jato, dos sete executivos que falaram sobre a
participação de Jucá no esquema de corrupção, Cláudio Melo Filho, que se
relacionava com o Congresso, foi quem mais deu informações sobre o
trabalho do senador e sua rotina no Senado. Descrevendo-o como o
“principal responsável pela arrecadação de recursos financeiros dentro
do grupo do PMDB do Senado”, Melo Filho afirmou que o senador “pode ser
considerado o homem de frente nas tratativas diretas com agentes
particulares”. “Um exemplo disso é encontrado no fato de que o gabinete
do senador sempre foi concorrido e frequentado por agentes privados
interessados na sua atuação estratégica”, ressaltou. A relação do
delator com Jucá começou em 2005, no governo Lula. “[Ele] sempre esteve à
frente de todas as decisões importantes do Congresso, em especial em
temas de referência tributária, em que ele tem grande domínio técnico”,
completou o executivo.
Jucá refuta as declarações dos delatores e afirma que nunca recebeu
propina nem fez caixa dois em suas campanhas. Sobre Cláudio Melo Filho,
ele conta que recebeu uma informação “extraoficial” de que ele fez duas
delações que não foram aceitas. “Depois parece que ele fez uma que
atendia às expectativas de quem estava cobrando a delação. O cara estava
sendo apertado por todos os lados, querendo ir para casa. Se ele foi
forçado a apresentar uma calúnia, os autos vão provar”, disse.
“Na campanha nunca recebi doação direta de empresa. Amanhã estou
relatando uma matéria aqui, uma das empresas que doaram pode ter
vantagem, e alguém vai dizer que estou dando vantagem”, disse. “Não
aceito a imputação de que há crime em doação oficial. As empresas
contribuíram de acordo com o critério de cada uma delas. Não dá para
querer resumir isso a propina. Vou discutir esse assunto nos autos,
porque politicamente não adianta. Estou muito tranquilo em relação a
isso, já me coloquei à disposição e já abri meu sigilo fiscal e
telefônico.”
Outro encontro na primeira quarta-feira de abril foi com um
economista do banco Morgan Stanley para conversar sobre os rumos da
reforma da Previdência. O visitante disse que os investidores estavam
preocupados com a possibilidade, hoje inevitável, de abrandamento da
proposta enviada ao Congresso por Michel Temer. O economista explicou
que estava de viagem marcada para a sede do banco, em Nova York, e
queria apresentar o cenário para os superiores. Jucá o tranquilizou.
Disse que os deputados estavam preocupados com o reflexo da reforma nas
eleições, ano que vem, mas garantiu que a reforma será aprovada até
julho. “Não preciso me preocupar com os jornais, né?”, perguntou o
economista, querendo também saber da real intenção de Temer em promover a
reforma da Previdência. “É a pele dele”, respondeu Jucá. “Há muita
fofoca por aí.”
Com a deixa, o economista quis saber da relação de Renan Calheiros
com o governo. Naquela semana, o senador alagoano havia rompido
definitivamente com o Planalto, posicionando-se contra a reforma da
Previdência enviada ao Congresso. Sua avaliação ao economista seria a
mesma que daria mais tarde, ao ser questionado sobre Renan:
“Renan quer se posicionar, quer aparecer. Ele quer mudar o eixo para
poder criar uma posição, porque o Eunício virou presidente do Senado,
ele deixou de ser presidente, entendeu? Em tese, eu opero aqui pelo
governo, e não ele, até porque ele não tem esse tipo de trabalho que eu
faço. Ele é o cara da política, só. Então ele está atrás de um eixo, uma
bandeira. Mas ele não tem a maioria da bancada para ficar contra o
governo. Só faz barulho”.
Não é à toa que bancos e agências procuram Romero Jucá com tanta
frequência – e já há bastante tempo, pelo menos desde o governo Lula.
“Converso com investidor o tempo todo”, respondeu o senador. “Ontem, por
exemplo, teve aqui a Zeina [Latif, economista-chefe da XP
Investimentos]. Ela vem aqui de 15 em 15 dias.”
No atual governo, ele é visto como um contraponto ao ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles, criticado por divulgar metas que depois se
mostram distantes da realidade. É notória a influência de Jucá no
Ministério do Planejamento, atualmente conduzido pelo seu amigo e
ex-número dois na pasta, Dyogo Oliveira, considerado um de seus pupilos.
Dyogo só foi efetivado como ministro no final de março, após dez meses
de interinidade.
Mais tarde, o senador comentaria: “Me considero um membro honorário
da equipe econômica, dou minhas opiniões, discuto com o presidente. O
governo do Michel é semiparlamentarista. Há vários atores políticos
influenciando. Eu ajudo no que posso, estou comprometido com o
resultado”.
No plenário do Senado com Aécio Neves, do PSDB e Renan Calheiros, do PMDB. (Foto: Agência Senado)
No meio da tarde daquela quarta-feira, o senador passou em duas
comissões que discutiam medidas provisórias antes de se dirigir para o
encontro seguinte, no gabinete de Aécio Neves. Ele ficaria minutos em
cada uma das comissões – na que debatia a medida provisória da
regularização fundiária, desculpou-se pela ausência, alegando que tinha
outros compromissos, mas avisou que seus assessores continuariam na sala
atentos à discussão. No trajeto até o elevador do prédio central do
Senado, Jucá encontrou um grupo de experientes jornalistas de Brasília.
Dois deles se juntaram ao senador.
Antes de chegar ao elevador, Jucá decidiu passar na sala do PMDB no
Senado, que estava próxima, para averiguar a reforma que estava sendo
feita. O local estava tomado por latas de tinta e materiais de
construção. O senador andava com desenvoltura pelo espaço, checando o
trabalho e mostrando a nova formação da sala. “Veja, vai ter até uma
sala para briefing”, disse. Um jornalista quis saber sobre Renan
Calheiros, tema de um jantar na véspera na casa da senadora Kátia Abreu
que reuniu políticos do PMDB: “Se o Renan quer continuar tomando LSD, o
que posso fazer?”.
O gabinete de Aécio estava concorrido. Ciro Nogueira, presidente do
PP e também investigado na Lava Jato, estava presente, assim como a irmã
e estrategista política de Aécio, Andrea Neves. Os pedidos de
inquéritos liberados pelo ministro Edson Fachin, do STF, só seriam
conhecidos sete dias depois, mas os efeitos da investigação na classe
política são o principal assunto dos políticos há meses. Segundo Jucá,
eles trataram da criação de um fundo eleitoral para o financiamento das
campanhas, o que deve acontecer por meio de uma PEC (proposta de emenda
constitucional). “Não há outra forma de financiar a eleição, empresa
nenhuma vai voltar a doar, isso é irreal”, disse.
Mais tarde, de volta ao seu gabinete, Jucá comentou as denúncias
contra Aécio Neves, que naquela semana tinha sido capa da revista Veja.
“Isso vai acontecer com todos, é um processo deliberado de extinção. A
única forma de desfazer a calúnia é concluir a investigação. Se você não
conclui, fica todo mundo caluniado, entendeu? Eu estou preocupado? Não
estou, não tenho medo de investigação.”
Na visão do senador, há uma campanha em curso, liderada pelo
Ministério Público Federal e com o apoio da Rede Globo, para exterminar a
classe política. “Os políticos estão encurralados. Primeiro por causa
dos erros, mas estamos fazendo uma transição correta, os resultados do
país são animadores, mas a imprensa, principalmente a Globo, com o Jornal Nacional, está detonando a política. Eles querem mudar o status quo,
mas acho um erro. Você tem que cobrar novos procedimentos e fazer uma
transição para melhorar a classe política. Se você extermina a política,
no lugar vem a aventura.”
O extermínio da política – e principalmente a necessidade de
preservá-la – é um assunto que anima o senador e já ganhou ecos em
outros partidos, como PSDB e PT. Sobre a anistia ao caixa dois, ele
afirma que é um assunto que deve ser tratado com o Ministério Público
Federal e o Judiciário, e não isoladamente pelos políticos, pois
“certamente dará confusão”. “Isso ainda precisa amadurecer”, disse. Para
Jucá, o Brasil caminha para virar uma Itália, referindo-se à extinção
dos principais partidos do país após a Operação Mãos Limpas, no início
da década de 1990, que resultou na assunção de Silvio Berlusconi à
Presidência. Se a decisão do Brasil for mesmo exterminar a classe
política, conta, a próxima eleição será marcada por três cenários:
“Você vai ter a vertente dos candidatos bravateiros, com nomes como
Ciro Gomes, Bolsonaro ou qualquer outro maluco desses, os justiceiros,
que é o Joaquim Barbosa, o Dellagnol, o Moro ou qualquer um desses que
diz que prende e arrebenta. Ou você vai ter os outsiders, que
dizem que a política não presta. O João Doria vestiu essa fantasia sem
ser [essa pessoa]. No caso de São Paulo, deu certo. Mas você vai ter aí o
Luciano Huck, a presidente do Supremo [Cármen Lúcia], o Roberto Justus,
Ana Maria Braga. Pode dar qualquer coisa”.
Apocalíptico, o senador concluiu:
“O problema é o dia seguinte que um desses ganhar. Com raras
exceções, o cara não sabe o que vai fazer no Brasil e não vai ter base
parlamentar para nada. Convivi com os quatro presidentes nos quais fui
líder, presidir o Brasil não é um negócio fácil. Somos um país
continental, culturalmente complicado na vida política, cheio de
pressões e contra pressões, antagonismos, com um pluripartidarismo
tresloucado. Eles vão precisar da classe política para governar. E aí?
Entendeu? A aventura, em lugar nenhum do mundo, deu certo. Aqui já vimos
com Collor e Dilma. Você não inventa um presidente, é muito difícil. É
preciso ser um gênio para pegar as coisas no ar… A tendência é dar
errado”.
Em Roraima, Romero Jucá seguiu o exemplo de um dos seus padrinhos, o
maranhense José Sarney, de quem é amigo. Como o outro bigodudo fizera no
Maranhão, Jucá tem o domínio quase completo do estado, o menos populoso
do país. Sua família é dona de emissoras de TV, como as retransmissoras
locais da Record e da Bandeirantes, além de rádios, jornais e empresas
de serviço. Sua segunda mulher, Teresa Surita (ela abandonou o sobrenome
Jucá após o divórcio), ainda é prefeita da capital, no seu quinto
mandato. Um de seus filhos, Gustavo, é citado nas delações da Odebrecht
como beneficiário de R$ 150 mil em 2014, quando foi candidato a vice em
Roraima – e perdeu. Em troca do dinheiro, o senador agiria para
favorecer o grupo baiano em uma medida provisória, o que ele nega. Em
entrevista à rádio CBN, há alguns dias, ele ironizou dizendo que, com R$
150 mil, não é possível comprar uma medida provisória nem na Feira do
Paraguai, uma tradicional feira de produtos contrabandeados em Brasília.
O senador, que declarou à Justiça Eleitoral em 2010 um patrimônio de
R$ 545 mil, disse em depoimento à Polícia Federal, no ano passado, que
“não é sócio de qualquer empresa nem diretamente nem por meio de
terceiros”, e que “eventualmente recebe doações de seus filhos, ambos
empresários”, para completar a sua renda de senador, cujo salário (sem
contar os muitos benefícios) é de R$ 33,7 mil. Rodrigo e Marina, dois
dos filhos do senador, são sócios de pelo menos 12 empresas, entre os
veículos de comunicação e mineradoras como a Boa Vista Mineração. Seu
irmão, Álvaro Jucá, é dono da Diagonal, empresa que atua no ramo
ambiental e que tem clientes como a Vale, a maior mineradora do Brasil.
A acusação de que Jucá usou laranjas para montar seu império de
comunicação em Roraima vem de anos. Ele nega. Um ex-assessor do senador
admitiu em depoimento à Polícia Federal que aceitou atuar como laranja
dele numa empresa que controlava a TV Caburaí (retransmissora em Roraima
da Bandeirantes). A pedido da PGR, um inquérito foi aberto no STF – o
relator é o ministro Gilmar Mendes – para apurar se o senador cometeu
crime de falsidade ideológica.
“O estilo de Sarney não é o meu de fazer política, mas ele é um
exemplo. Sarney cantou a pedra quando me indicou para ser governador de
Roraima. Me tranquilizou, dizendo que eu iria fazer toda minha carreira
política por lá, como aconteceu”, disse.
Sua influência no Judiciário local também é grande. Naquela quarta,
Jucá telefonaria para o ministro Osmar Serraglio, da Justiça, para
tratar de indicados para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Roraima.
Falaria também com Grace Mendonça, ministra da Advocacia-Geral da União
(AGU), sobre uma servidora do órgão em Roraima, Glair Flores. A
consulta foi feita a pedido de sua terceira mulher, Rose, que ele
conheceu trabalhando como servidora de seu gabinete em Brasília. Com
fama de mandona, a atual mulher provocou rusgas no ambiente de trabalho.
Ela é acusada também por correligionários de se intrometer nos assuntos
do PMDB.
“Aqui sou senador, mas lá em Roraima é como se eu fosse vereador.
Visito as comunidades, obras, danço forró… Eu tenho que pedir voto, ir
em cada vila; se não fizer isso, não adianta. Essa síndrome de Brasília
anula o cara. Acha que aqui está abafando e consequentemente está
abafando no estado também, mas não funciona assim.” Na eleição do ano
que vem, ele vai tentar o quarto mandato de senador.
Uma de suas atividades diárias é ligar para todos os aniversariantes
do dia presentes em uma lista que ele atualiza com o auxílio da
secretária. Os nomes vão de políticos, empresários e juízes de Roraima a
figuras da política e economia nacional. Ele repete os parabéns dezenas
de vezes, com variações que dependem do interlocutor. “Ministro,
parabéns! Agora seu aniversário é um evento internacional!”, disse ao
colega Aloysio Nunes, do PSDB, ministro das Relações Exteriores e também
investigado na Lava Jato. Por telefone, marcaram uma conversa para dali
a alguns dias para tratar do fluxo cada vez maior de venezuelanos em
Roraima como reflexo da crise no país vizinho.
No final da tarde, em seu gabinete, Romero Jucá ainda receberia uma
comitiva de prefeitos do estado, alguns deles marinheiros de primeira
viagem no mundo da política. À noite, antes de embarcar para Boa Vista,
deveria passar em três jantares: iria a uma churrascaria para comemorar a
posse simbólica de Dyogo Oliveira no Planejamento, em outro restaurante
encontraria Pedro Taques (PSDB), governador do Mato Grosso de passagem
por Brasília, e voltaria novamente a ver Michel Temer, agora no Palácio
do Alvorada.
“Veja, são todos jovens”, disse ao apresentar os prefeitos que
entravam no seu gabinete. “Estou formando uma nova geração política para
Roraima. Essa será a minha grande contribuição. De velho, aqui, só eu.”
Imagem em destaque: Agência Senado