sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Revista revela acusações da ex-mulher do presidenciável Jair Bolsonaro; Ana Cristina acusa candidato de furtar um cofre, ocultar patrimônio, receber pagamentos não declarados e agir com “desmedida agressividade”

Sexta, 28 de setembro de 2018


                                                                                                                                         REPRODUÇÃO FACEBOOK


da Redação do Metrópoles

Em 2007, o deputado Jair Bolsonaro (PSL), então com 52 anos, estava terminando seu segundo casamento, com Ana Cristina Siqueira Valle. Depois de mais de 10 anos juntos e um filho, o casal resolveu se separar, mas o caso foi para a Justiça. Eles disputavam a guarda do menino, hoje com 20 anos, e Ana Cristina alegava que seu ex-marido resistia em fazer uma partilha justa dos bens. Por isso, em abril de 2008, ela deu entrada com uma ação na 1ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. As informações estão na edição do fim de semana da revista Veja.
Segundo a reportagem, que teve parte divulgada no site da revista na noite dessa quinta-feira (28/9), o processo, com mais de 500 páginas, contém uma série de incriminações mútuas do universo privado do ex-casal. Há, no entanto, acusações de Ana Cristina ao ex-marido que entram na esfera do interesse público porque contradizem a imagem que Bolsonaro construiu sobre si mesmo na campanha presidencial, de acordo com a Veja. São elas:
– Bolsonaro ocultou patrimônio pessoal da Justiça Eleitoral em 2006. Quando foi candidato a deputado federal, declarou que tinha um terreno, uma sala comercial, três carros e duas aplicações financeiras, que somavam, na época, R$ 433.934. Sua ex-mu-lher, no mesmo processo, anexou uma relação de bens e a declaração do imposto de renda do ex-marido, mostrando que seu patrimônio incluía também três casas, um apartamento, uma sala comercial e cinco lotes. Os bens do casal, em valores de hoje, somariam cerca de R$ 7,8 milhões.
– Bolsonaro tinha uma “próspera condição financeira” quando era casado com Ana Cristina, segundo ela. A renda mensal do deputado chegava a R$ 100.000 — cerca de R$ 183.000, em valores atualizados. Na época, oficialmente, Bolsonaro recebia R$ 26.700 como deputado e R$ 8.600 como militar da reserva. Para chegar aos R$ 100.000, diz a ex-mulher, Bolsonaro recebia “outros proventos”, que ela não identifica.
– Bolsonaro, de acordo com Ana Cristina, furtou seu cofre numa agência do Banco do Brasil, em outubro de 2007, e levou todo o conteúdo: joias avaliadas em R$ 600.000, 30.000 dólares em espécie e mais R$ 200.000 em dinheiro vivo — totalizando, em valores de hoje, cerca de R$ 1,6 milhão. O cofre ficava na agência do Banco do Brasil da Rua Senador Dantas, no centro do Rio, de acordo com a revista. Seu conteúdo é incompatível com a renda conhecida do então casal.
– Bolsonaro era um marido de “comportamento explosivo” e de “desmedida agressividade”. Essa foi a razão que levou Ana Cristina a se separar, segundo ela mesma informa.
– Bolsonaro e Ana Cristina se separaram oficialmente em 2008, depois de 10 anos juntos. Com o passar do tempo, os dois voltaram a se entender e selaram um armistício que dura até hoje, tanto que Ana Cristina, candidata a deputada federal pelo Podemos do Rio de Janeiro, usa o sobrenome do presidenciável e se apresenta aos eleitores como Cristina Bolsonaro, sobrenome que jamais teve.
Agora, ela diz que as acusações que fez contra o ex-marido são fruto de excessos retóricos. A Veja destaca não ser incomum que, em separações litigiosas, marido e mulher troquem acusações infundadas, destinadas a magoar ou tentar extrair alguma vantagem.
Furto do cofre
De acordo com a reportagem, contudo, uma consulta ao processo e suas adjacências mostra que Ana Cristina não estava mentindo. O furto do cofre, por exemplo, realmente ocorreu. Em 26 de outubro de 2007, ela esteve na agência do Banco do Brasil e, misteriosamente, sua chave não abriu o cofre.

Chamado ao local, um chaveiro destravou o equipamento, e Ana Cristina constatou que estava vazio, relata a matéria. “Isso só pode ter sido coisa do meu ex-marido”, teria dito a mulher aos funcionários do banco. Um deles tentou acalmá-la, sem sucesso. “Ele pode tudo e vocês têm medo dele”, respondeu ela. No mesmo dia, Ana Cristina registrou um boletim de ocorrência sobre o furto na 5ª Delegacia da Polícia Civil.
A revista Veja teve acesso ao inquérito policial. Em depoimento, Alberto Carraz, um dos gerentes do Banco do Brasil, confirmou que tanto Ana Cristina quanto Bolsonaro mantinham cofres na agência. No caso do deputado, não se sabe o que ele guardava. E ele também nunca declarou a propriedade do cofre.
A ex-mu­lher disse que guardava joias avaliadas em R$ 600.000, mais 30.000 dólares em espécie e R$ 200.000 em dinheiro vivo. Alberto Carraz contou à Veja que, de fato, o conteúdo do cofre sumiu e dá uma pista do que pode ter sido o desfecho da história: “Quando Bolsonaro soube que a ex-mu­lher tinha feito um registro de ocorrência na delegacia, ele me disse que iria resolver a questão. Depois, eu soube por ele que estava tudo resolvido e que ela tinha retirado a queixa”.
De acordo com a Veja, os fatos não foram bem assim. A discussão sobre o furto do cofre teria continuado, segundo mostra o processo. A defesa de Bolsonaro, na etapa em que o ex-casal discutia a guarda do filho, juntou um depoimento no qual o deputado acusava a mulher de chantageá-lo. Dizia que ela tinha levado o filho para o exterior e condicionava o retorno da criança à devolução do dinheiro e das joias subtraídos do cofre.
Bolsonaro acusou a mulher de sequestro. Ela acusou-o de furto. Na época, além de procurar a Polícia Federal, Bolsonaro pediu ajuda ao Itamaraty para localizar o filho no exterior. Ana Cristina e a criança estavam em Oslo, na Noruega.
Ameaça de morte
Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo divulgou telegramas do Itamaraty nos quais Ana Cristina, em conversa com um vice-cônsul brasileiro em Oslo, dizia que fora para a Noruega depois de ser ameaçada de morte pelo ex-mari­do.

Ela negou que tenha dito isso ao vice-cônsul, mas o jornal ouviu cinco amigas brasileiras de Ana Cristina em Oslo e todas a desmentiram e confirmaram que a ameaça de morte fora o motivo de sua viagem para a Europa.
“O fato é que, quando o depoimento de Bolsonaro acusando Ana Cristina de sequestro foi anexado ao processo, o ex-casal chegou imediatamente a um acordo”, diz a Veja, que conclui: “O filho voltou do exterior, a disputa pelos bens foi resolvida nos termos reivindicados por Ana Cristina e o valor da pensão foi acertado. Sobre o furto do cofre, porém, nenhuma palavra”.