Por
Salin Siddartha
Um país tem de articular-se com
as diversas nações sem limitar-se a poucas parcerias internacionais. No quadro
da conjuntura política externa, ocorre um conflito de interesses entre a China
e os EUA, causado pelo fato de estes não concordarem com o crescimento
econômico dos chineses no contexto global.
Projeta-se uma acirrada
concorrência comercial de longo prazo entre eles. Para os detentores do poder
econômico e financeiro americano, vale tudo para decantar a China como um
perigo à nova ordem mundial e, assim, desgastá-la e desestimular a
transferência de tecnologia dos chineses para os povos com os quais eles se
associam em acordos, tratados e contratos. Tal atitude da elite ianque atinge,
principalmente, o Brasil, que se apresenta como o mais destacado aliado daquela
potência asiática em nosso continente.
Verdadeiramente, está posta uma
controvérsia em nossas relações internacionais, haja vista Jair Bolsonaro,
desconhecendo o que significa política externa, defender o império
norte-americano em um nível que beira o cômico. Para piorar, a formação do
governo dele se escora em autoridades medíocres, tais qual o futuro Ministro
das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que se demonstra inexperiente para o
cargo que vai ocupar, inclusive por nunca ter sido titular à frente de qualquer
embaixada.
Prenuncia-se o enfraquecimento do
nosso futuro governo nos ditames do planeta. Ernesto Araújo vocifera desejar os
EUA como parceiros preferenciais do Brasil, pronunciando-se favoravelmente a
que nossa pátria aumente o mercado com Tio Sam. O futuro chanceler utiliza-se
da mídia para dizer que a China é uma experiência ultrapassada, contrariando o
ponto de vista das lideranças mundiais, que a consideram como o parceiro mais
avançado e adaptado pragmaticamente ao futuro.
China ou Estados Unidos?
Questiona-se, então: o cenário
que se descortina obrigará, necessariamente, nosso país a ter de escolher alinhar-se
ou com a China ou com os Estados Unidos?
O bolsonarismo apresenta um
discurso falastrão, repleto de pueris frases de efeito, porém o próprio
Bolsonaro não sabe como se constituem os mecanismos que ordenam os mercados e
as premências realistas que regem o mundo dos negócios transnacionais. Ele é um
político que defende o imperialismo norte-americano em proporção tal, que
poderá submeter a Nação às conveniências de Washington. Por sua vez, Ernesto
Araújo manifestou que Donnald Trump é o único chefe de Estado com capacidade
para salvar o Ocidente. Ora, a
declaração coloca sob suspeição a credibilidade do futuro ministro, pois, considerando-se
que Trump tende a retaliar nosso ramo exportador, uma subserviência brasileira
causará transtorno às forças produtivas nacionais.
É que as barreiras tarifárias norte-americanas
funcionam como elementos impeditivos a qualquer vantagem que venha a contemplar
positivamente nossa balança de pagamentos, além de trazer o agravante de
robustecer o já tradicional protecionismo estadunidense e desrespeitar as
proibições da Organização Mundial do Comércio-OMC. Entrementes, parece que o
futuro ministro é incapaz da raciocinar dessa forma. Ele professa uma
“filosofia do senso comum direitista” que associa as relações com a China e a
Rússia à opção pelo maligno a ser exorcizado.
Em detrimento dessa escolha
ideológica do futuro ministro, a economia brasileira se encontra bastante
integrada com a China, maior importador de produtos do Brasil. Nossa ligação
com a China está deveras profunda, e não será fácil a Ernesto Araújo aniquilá-la.
Em face da possibilidade de o Itamaraty e o Ministério da Economia
submeterem-se ás ordens dadas pelos EUA, paira o risco de o agronegócio perder
os privilégios de exportação dirigidos ao mercado chinês e insurgir-se contra o
governo de Bolsonaro de tal forma, que a parolagem imponderável de sua gestão
caia por terra e não consiga manter a coerção ultradireitista que cimenta o
discurso neofascista vitorioso nas urnas de 2018. Iniludivelmente, prevalecerão
as contas a pagar do grande empresariado rural e o vigor financeiro do setor.
É desanimador não haver
compradores de nossos produtos em par de igualdade e tipificação preferencial
como a China oferece para nossa pátria. Com efeito, a divisão internacional do
trabalho organiza o comércio global de maneira diferente em cada país
comprador, e não se apresenta um panorama com um novo mercado que sirva de
opção para as exportações do Brasil.
Contudo, tranquiliza-nos contar
com o fato de que a China não se inclinará à iniciativa de romper as diretrizes
comuns em vigor na colaboração comercial entre ela e nós, devido às
características costumeiras da tradição de agir dos seus dirigentes. Nessa
hipótese, caberia ao governo de Bolsonaro contrariá-las e rompê-las, complicando
o ônus do desgaste interno e externo da política traçada pela sua equipe.
Cruzeiro-DF, 4 de dezembro
de 2018
SALIN SIDDARTHA