terça-feira, 4 de dezembro de 2018

O bolsonarismo e o conflito comercial entre China e EUA

Terça, 4 de dezembro de 2018
Por
Salin Siddartha
 

Um país tem de articular-se com as diversas nações sem limitar-se a poucas parcerias internacionais. No quadro da conjuntura política externa, ocorre um conflito de interesses entre a China e os EUA, causado pelo fato de estes não concordarem com o crescimento econômico dos chineses no contexto global.
Projeta-se uma acirrada concorrência comercial de longo prazo entre eles. Para os detentores do poder econômico e financeiro americano, vale tudo para decantar a China como um perigo à nova ordem mundial e, assim, desgastá-la e desestimular a transferência de tecnologia dos chineses para os povos com os quais eles se associam em acordos, tratados e contratos. Tal atitude da elite ianque atinge, principalmente, o Brasil, que se apresenta como o mais destacado aliado daquela potência asiática em nosso continente.
Verdadeiramente, está posta uma controvérsia em nossas relações internacionais, haja vista Jair Bolsonaro, desconhecendo o que significa política externa, defender o império norte-americano em um nível que beira o cômico. Para piorar, a formação do governo dele se escora em autoridades medíocres, tais qual o futuro Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que se demonstra inexperiente para o cargo que vai ocupar, inclusive por nunca ter sido titular à frente de qualquer embaixada.
Prenuncia-se o enfraquecimento do nosso futuro governo nos ditames do planeta. Ernesto Araújo vocifera desejar os EUA como parceiros preferenciais do Brasil, pronunciando-se favoravelmente a que nossa pátria aumente o mercado com Tio Sam. O futuro chanceler utiliza-se da mídia para dizer que a China é uma experiência ultrapassada, contrariando o ponto de vista das lideranças mundiais, que a consideram como o parceiro mais avançado e adaptado pragmaticamente ao futuro.

China ou Estados Unidos?
Questiona-se, então: o cenário que se descortina obrigará, necessariamente, nosso país a ter de escolher alinhar-se ou com a China ou com os Estados Unidos?
O bolsonarismo apresenta um discurso falastrão, repleto de pueris frases de efeito, porém o próprio Bolsonaro não sabe como se constituem os mecanismos que ordenam os mercados e as premências realistas que regem o mundo dos negócios transnacionais. Ele é um político que defende o imperialismo norte-americano em proporção tal, que poderá submeter a Nação às conveniências de Washington. Por sua vez, Ernesto Araújo manifestou que Donnald Trump é o único chefe de Estado com capacidade para salvar o Ocidente.  Ora, a declaração coloca sob suspeição a credibilidade do futuro ministro, pois, considerando-se que Trump tende a retaliar nosso ramo exportador, uma subserviência brasileira causará transtorno às forças produtivas nacionais.
É que as barreiras tarifárias norte-americanas funcionam como elementos impeditivos a qualquer vantagem que venha a contemplar positivamente nossa balança de pagamentos, além de trazer o agravante de robustecer o já tradicional protecionismo estadunidense e desrespeitar as proibições da Organização Mundial do Comércio-OMC. Entrementes, parece que o futuro ministro é incapaz da raciocinar dessa forma. Ele professa uma “filosofia do senso comum direitista” que associa as relações com a China e a Rússia à opção pelo maligno a ser exorcizado.
Em detrimento dessa escolha ideológica do futuro ministro, a economia brasileira se encontra bastante integrada com a China, maior importador de produtos do Brasil. Nossa ligação com a China está deveras profunda, e não será fácil a Ernesto Araújo aniquilá-la. Em face da possibilidade de o Itamaraty e o Ministério da Economia submeterem-se ás ordens dadas pelos EUA, paira o risco de o agronegócio perder os privilégios de exportação dirigidos ao mercado chinês e insurgir-se contra o governo de Bolsonaro de tal forma, que a parolagem imponderável de sua gestão caia por terra e não consiga manter a coerção ultradireitista que cimenta o discurso neofascista vitorioso nas urnas de 2018. Iniludivelmente, prevalecerão as contas a pagar do grande empresariado rural e o vigor financeiro do setor.
É desanimador não haver compradores de nossos produtos em par de igualdade e tipificação preferencial como a China oferece para nossa pátria. Com efeito, a divisão internacional do trabalho organiza o comércio global de maneira diferente em cada país comprador, e não se apresenta um panorama com um novo mercado que sirva de opção para as exportações do Brasil.
Contudo, tranquiliza-nos contar com o fato de que a China não se inclinará à iniciativa de romper as diretrizes comuns em vigor na colaboração comercial entre ela e nós, devido às características costumeiras da tradição de agir dos seus dirigentes. Nessa hipótese, caberia ao governo de Bolsonaro contrariá-las e rompê-las, complicando o ônus do desgaste interno e externo da política traçada pela sua equipe.

Cruzeiro-DF, 4 de dezembro de 2018

SALIN SIDDARTHA