quarta-feira, 22 de abril de 2020

Quem pensa que Covid-19 é doença de velho, engana-se.

Quarta, 22 de abril de 2020
Por
Fátima Sousa*

Quem pensa que Covid-19 é doença de velho, engana-se.
Sabe por que?
Porque essa é a pior pandemia dos últimos 100 anos. Atinge a todos(as) indiscriminadamente. Entrou pelo andar de cima, mas vai ser morticínio, quando chegar ao subsolo.

Porque aqueles(as) que tem planos de saúde, bens materiais para se isolarem e exigirem que o andar de baixo trabalhe para eles, continuarão afirmando que suas economias não podem sofrer abalos. Acreditem, vidas perderemos. E a economia, para funcionar, precisa de gente viva e saudável para superar-se.
Porque as imagens que estamos vendo de São Paulo, Recife, Fortaleza, Manaus, são do mundo real. Não precisamos ser coveiros, com todo respeito ao trabalho e coragem de enterrar aos “botões” seus irmãos e irmãs da vida, mas é triste vermos corpos sendo colocados em frigoríficos para serem enterrados depois, sem ao menos um adeus dos seus familiares.
Porque os(as) jovens e outros(as) que caminham pelos parques, ruas e avenidas, acreditando na sandice de uma “gripezinha”, também morrem. Vejam o caso dos jovens médicos que estavam na linha de frente, com 32 anos. Contaminados, perderam suas vidas. O médico baiano, também muito jovem, tomou cloroquina e morreu de parada cardíaca. Portanto jovens, não vacilem. Não pensem que morrem somente as pessoas acima de 60 anos.
Acabou essa ilusão. Pessoas de todas as idades estão morrendo e, em muitos outros casos, pessoas na faixa dos 30. E mesmo assim, ainda tem governador flertando com a ilusão de flexibilizar a saída do isolamento social antes do fim da curva epidêmica. Brasília, nem apontou o pico e já ensaia abandonar o barco. Será que entrou no “canto da sereia” do Governo Federal que deve abrir as Escolas? Espero que os pais não entreguem seus filhos e filhas para servirem de cobaias. Não desejo que se tornem experimentos assim como nos apresentou Joseph Sargent, em seu filme “Cobaias”, de 1997.
Ou o Governo do Distrito Federal, a exemplo de outros Estados, acredita que vai receber recursos ou outros favores do Ministério da Economia, que faz chantagem com as Unidades Federadas, afirmando que somente repassará recursos se os governadores congelarem os salários dos servidores públicos por dois anos?
Porque não podemos copiar os países da Europa que entraram no Covid-19 há meses e que optaram por uma saída da quarentena cautelosa? Afinal, tenhamos os dados da pandemia sempre atualizados. Até o momento da publicação deste artigo, o Ministério da Saúde confirmava o número de 45.757 casos de Covid-19 e 2.906 mortes, o que representam 6,4% de letalidade. Mas, como dizem os “Quase Deuses”, não temos com o que nos preocupar, não é mesmo?
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Fátima Sousa
Paraibana, 40 anos dedicados a saúde e a gestão pública; 
Professora e pesquisadora da Universidade de Brasília;
Enfermeira Sanitarista, Doutora em Ciências da Saúde, Mestre em Ciências Sociais; 
Doutora Honoris Causa;
Implantou o ‘Saúde da Família’ no Brasil, depois do sucesso na Paraíba e em São Paulo capital; 
Implantou os Agentes Comunitários de Saúde;
Dirigiu a Faculdade de Saúde da UnB: 5 cursos avaliados com nota máxima;
Lutou pela criação do SUS na constituinte de 1988;
Premiada pela Organização Panamericana de Saúde, pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde.