domingo, 27 de novembro de 2022

Quando as águas do Rio de Janeiro arderam

Novembro
27

Quando as águas do Rio de Janeiro arderam

     Em 1910, no dia 27 de novembro, acabou a rebelião da marujada brasileira. Os sublevados haviam ameaçado, disparando seus canhões tiros de advertência, a cidade do Rio de Janeiro.
     “Basta de chibata, ou vamos fazer a cidade virar pó”, gritavam eles. A bordo dos seus navios de guerra, as chibatadas eram hábito, e com frequência os castigados morriam.
     E depois de cinco dias o motim triunfou, e as chibatas foram jogadas no fundo das águas, e os párias do mar desfilaram, aclamados, pelas ruas do Rio.
     Um tempo depois, o chefe da insurreição, João Cândido, filho de escravos, almirante por decisão dos sublevados, tornou a ser marinheiro raso.
     E um tempo depois, foi expulso. E um tempo depois, foi preso. E um tempo depois, foi trancado num manicômio. Ele tem seu monumento, diz uma canção, nas pedras pisadas do cais.

          Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM Editora, 2012, página 373.
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João Cândido na primeira página do Jornal Gazeta de Notícias, em 31 de dezembro de 1912. Domínio público. (Wikipédia)

"Almirante Negro" - (O Mestre-Sala Dos Mares) — letra sem censura, em 20/agosto/2010 (Rio-RJ)


Saiba mais sobre:

Nação | TVE – Entrevista João Cândido – Conteúdo Extra de Revolta da Chibata.

"Trecho de 30 minutos da entrevista de João Cândido, o grande líder da Revolta da Chibata, ao Museu da Imagem e do Som. Mais conteúdos sobre João Cândido e a Revolta da Chibata podem ser acessados na página Saiba Mais do programa Nação: tve.com.br/programas/nacao/saiba-mais/

É emocionante ouvir a voz de João Cândido nesta gravação de áudio feita pelo Museu da Imagem e do Som em 1968, um ano antes de sua morte. Mais de meio século após a Revolta da Chibata, ficam evidentes a capacidade de liderança, a inteligência e o senso de justiça deste homem que foi condenado a uma vida miserável por se insurgir contra a prática de castigos físicos na Marinha. Mesmos depois de absolvido pelo Conselho de Guerra, em 1912, o Almirante Negro continuou a ser perseguido. Foi demitido de todos os empregos que conseguiu por pressão dos oficiais da Marinha. A entrevista de João Cândido foi concedida ao Museu da Imagem e do Som, no Rio De Janeiro.As perguntas são do historiador Hélio Silva e de Ricardo Cravo Albin , então diretor executivo do MIS. Também Adalberto Cândido, filho caçula de João Cândido esteve presente na realização do depoimento.

Em outubro de 2015 o programa Nação da TVE/RS, emissora pública do RS, sobre a Revolta da Chibata recebeu menção honrosa na categoria documentário do 37° Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. O prêmio, considerado um dos mais significativos do país, reconhece, ano a ano, trabalhos que valorizam a Democracia, a Cidadania e os Direitos Humanos."

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Relembre a história de João Cândido, que sofreu por lutar por direitos.