domingo, 20 de abril de 2025

MISCELÂNEAS DE UM DOMINGO DE PÁSCOA

Domingo, 20 de abril de 2025

Pedro Augusto Pinho*

MISCELÂNEAS DE UM DOMINGO DE PÁSCOA

 

UMA CITAÇÃO

Dos escritores contemporâneos portugueses, que já não estejam livres do próprio corpo, poucos me dão tamanha alegria de os ler do que este, quatro meses mais jovem do que eu, Mário Costa Martins de Carvalho, Mário Carvalho, preso pela PIDE salazarista, refugiado na Suécia, cuja vida já mereceu filme, multipremiado pelos livros e pai de duas escritoras.


Em “A inaudita guerra da Avenida Gago Coutinho e outras histórias” (1983), abre o volume com uma citação que atribui a Montaigne. Lá vai em tradução livre: “Existe alguém mais certo, resoluto, desdenhoso, contemplativo, grave e sério do que o burro?”.


Impossível não a ter em mente ao folhear o jornal “O Globo”, de 20 de abril de 2025, domingo de Páscoa. Porém seria apenas ignorância, que é o persistente esforço do modelo neoliberal financeiro, que domina o Brasil desde a sucessão do Presidente Ernesto Geisel?


Mas por que escolher logo o domingo de Páscoa, quando muitos estarão recebendo parentes e amigos e não ocuparão sua tarde entre dormir e ler um jornal? Afinal, ler já constitui esforço suficiente para que a maioria não opte em ligar a televisão. Lá, entre canais próprios e reprodutores de matéria, o Sistema Globo de Comunicação, ou seria mais correto qualificá-lo de doutrinação, dificilmente você, caro leitor, escaparia de receber a mensagem de maior importância naquele dia para mal compreender a principal notícia. Se esta fosse sequer divulgada!


Duvida? Pois aí está nas redes internacionais de notícia, neste 20/4, domingo de Páscoa: “A União Europeia (UE) proíbe a comemoração da derrota da Alemanha nazista”. O texto do “Strategic Culture Foundation (SFC)” conclui com os dois seguintes parágrafos:


“Um marco vergonhoso foi a aprovação de uma resolução pelo Parlamento Europeu, em 2019, que equiparava a União Soviética à Alemanha nazi por alegadamente ter iniciado a Segunda Guerra Mundial. A Rússia condenou esse revisionismo político”.


“Agora, foi atingido um novo mínimo de degeneração. A UE está a proibir a homenagem àqueles que derrotaram o nazismo”.


Quanto ao primeiro parágrafo, a guerra de Kiev com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) contra a Rússia, já repete o Parlamento Europeu esquecendo a “Revolução Colorida” em Maidan (2013/2014). O segundo parágrafo é mais um esforço de excluir a Rússia do convívio europeu, capacitando-a a fazer a ponte ocidente-oriente. E está no Oriente o futuro próximo da humanidade, inclusive por rechaçar a guerra como solução para o que seja.


A DOUTRINAÇÃO ANTINACIONAL EM “O GLOBO” DE 20 DE ABRIL


A matéria tem chamada na primeira página com o título: “Cadeiras Cativas”, seguido da explicação: “União tem 140 vagas na cúpula de empresas com capital privado”.


O texto está à página 15, com três assinaturas: Thais Barcellos, Ivan Martínez-Vargas e Dimitrius Dantas. Encaixaram ainda uma economista, “especialista em governança corporativa” (?), e dois advogados para algumas generalidades. Eles, em princípio, analisariam a participação direta e indireta do Estado Nacional, na composição dos Conselhos de Administração e do Conselho Fiscal em 63 empresas.


Primeiro vamos entender o que seja empresa pública, empresa estatal, empresa corporativa e empresa privada. Nenhum dos escribas globais se preocupou com eventuais distinções, tratou tudo como igual.


Mas observe o leitor que nem mesmo a organização dos Estados, bem mais complexa, assume o mesmo modelo. Temos o que certamente os donos de O Globo consideram exemplo a serem imitados, os Estados Unidos da América (EUA), que se mantém, com mínimas alterações, em vigor há 236 anos, pois atende à elite plutocrática daquele país, como bem descreve Charles L. Mee, Jr. em “The Genius of the People” (Harper&Row Publishers, NY, 1987). Temos estados teocráticos, de diversificados deuses e até sem um Deus, estados de único poder, aglutinando o que conhecemos por executivo, legislativo e judiciário, e diversas composições desta fórmula de três poderes, além de muitos reinados.


É óbvio que a realidade de cada país constituirá um modelo de empresa, tão mais próxima do poder nacional quanto mais indispensável para o País.


Este escriba teve a possibilidade de constituir empresas de petróleo em três diferentes países, em dois continentes. Realidades diferentes, empresas diferentes. E todas continuam em funcionamento passado, no mínimo, 35 anos da inauguração.


Por conseguinte, a barafunda, a confusão de empresas, portes, objetivos que a Editoria de Arte expõe na página 15, mostra que, como Abelardo Barbosa, não veio para explicar mas para confundir. Teria uma rede de farmácias locais a mesma estrutura organizacional de uma das maiores empresas de petróleo mundiais, ou um banco de interesse vital para as finanças do Brasil?


Uma empresa pública ou uma empresa estatal significa que o País tem na sua atuação um pilar importante e significativo do mais amplo desenvolvimento nacional, não apenas econômico, como tecnológico, social e de proteção ambiental.


Uma empresa corporativa ou privada significa que o aparelho administrativo e jurídico do País é suficiente para evitar abusos e concentração indesejável de riquezas.


Mas para quem leia “O Globo” é importante que seja vendida a estes desavisados a ideia de que o governo avança onde não deve e deixa de fazer “o dever de casa”, expressão muito a gosto dos seus articulistas.


Buscar qualquer ponto de contato, em meio a tamanha diversidade, é o mesmo que nada obter. Mas fica aquela ideia de que o governo vai mal, é ineficiente, e mais, como qualquer poder público sempre será. E então, trate-se de privatizar tudo, até que se consiga ter a segurança pública conduzia pela milícia e pelo tráfico de drogas, a educação para enriquecer os donos do ensino e não o saber das crianças, os remédios para viciar e não para curar e assim por diante. A ponto de se proibir a Petrobrás de encontrar petróleo no Brasil!


Peçamos nesta Páscoa a coragem e capacidade de revolucionar o Brasil. Fazer o país dos brasileiros para todos os brasileiros. Sem exclusões nem privilégios.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.