segunda-feira, 7 de julho de 2025

Trump ecoa tática de extrema direita brasileira, defende Bolsonaro e chama processo contra golpistas de ‘caça às bruxas’

Segunda, 7 de julho de 2025

Em resposta, Lula destacou que 'ninguém está acima da lei'

Brasil de Fato — São Paulo (SP)
07.jul.2025 às 14h28

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou nesta segunda-feira (7) em seu perfil da Truth Social, rede social da qual é dono, uma mensagem chamando o processo em curso no Brasil contra núcleos da tentativa de golpe de Estado do 8 de janeiro de “caça às bruxas”. “O único julgamento que deveria estar acontecendo é o julgamento pelos eleitores do Brasil – chamado eleição”, escreveu o mandatário.

Para ele, o país está “fazendo uma coisa terrível” no tratamento dado a Bolsonaro. “Ele não é culpado de nada, exceto de ter lutado pelo povo”, diz Trump.

A mensagem chega uma semana após a mais esvaziada manifestação de extrema direita em São Paulo, que contou com 12 mil pessoas e demonstrou um fraco Bolsonaro passando o bastão aos seus sucessores. A imagem contrasta a mensagem de Trump, que chama o ex-presidente de “líder forte, que verdadeiramente amava seu país”. O presidente estadunidense diz ainda que Bolsonaro, que está inelegível até 2030, lidera as pesquisas para a eleição presidencial de 2026, o que não é verdade.

A mensagem foi respondida por Lula (PT), que publicou em seu perfil no Twitter que “a defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros”: “Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei. Sobretudo, os que atentam contra a liberdade e o estado de direito”.

A ministra da secretaria de relações institucionais, Gleisi Hoffman (PT), também reagiu à publicação, respondendo que Trump deveria “cuidar de seus próprios problemas, que não são poucos”: “Donald Trump está muito equivocado se pensa que pode interferir no processo judicial brasileiro. O tempo em que o Brasil foi subserviente aos EUA foi o tempo de Bolsonaro, que batia continência para sua bandeira e não defendia os interesses nacionais. Hoje ele responde pelos crimes que cometeu contra a democracia e o processo eleitoral no Brasil. Não se pode falar em perseguição quando um país soberano cumpre o devido processo legal no estado democrático de direito, que Bolsonaro e seus golpistas tentaram destruir”.



Inelegível, Bolsonaro atravessa o mesmo vale enfrentado por Trump – em sua saída do poder, em 2021, Trump também incitou apoiadores ao enfrentamento do regime democrático, o que resultou na invasão do Capitólio em 6 de janeiro. O movimento resultou em um indiciamento por conspiração para fraudar os Estados Unidos, obstrução e tentativa de obstrução de um processo oficial e conspiração contra o direito de voto dos cidadãos, mas o processo nunca foi encerrado. Quando retornou à presidência, em janeiro de 2025, Trump teve as queixas federais retiradas do processo a pedido do Departamento de Justiça, agora comandado por uma indicada por ele.

Sem citar Alexandre de Moraes, Trump diz que Bolsonaro está sendo perseguido “dia após dia, noite após noite, mês após mês, ano após ano” e que isso “não é nada mais, nem menos, do que um ataque a um oponente político”. A mensagem reverbera as movimentações da extrema direita brasileira, que tenta inocentar Bolsonaro descredibilizando o processo investigativo em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) e atacando o ministro relator do caso, Alexandre de Moraes. Não é o primeiro movimento de Trump nesse sentido.

Em fevereiro de 2025, a Truth Social ingressou com um processo contra Alexandre de Moraes na Flórida. Em ação conjunta com o Rumble, plataforma que abriga criadores de conteúdo de extrema direita, a empresa diz que Alexandre de Moraes promove “censura digital” contra cidadãos e empresas do país e pede que a justiça dos Estados Unidos declare que as ordens de Moraes violam a legislação americana e conceda indenização por danos comerciais, financeiros e de reputação causados pelas decisões do ministro.