sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Auditoria —Políticas públicas voltadas à primeira infância no DF apresentam falhas estruturais



Sexta, 19 de dezembro de 2025

Lacunas afetam indicadores de mortalidade infantil na capital federal, aponta Tribunal de Contas

Brasil de Fato —Brasília (DF)

Postado originalmente no BdF de 18.dez.2025 - 19:18

Política Distrital pela Primeira Infância tem falhas estruturais, segundo TCDF| Crédito: Wilson Dias/Agência Brasil

A primeira infância é o período decisivo para o desenvolvimento que corresponde dos 0 aos 6 anos de idade. Crianças nesta faixa etária, no Brasil, são resguardadas pelo Marco Legal da Primeira Infância, que estabelece diretrizes para a implementação de ações voltadas a este público. No Distrito Federal, no entanto, há falhas estruturais nas políticas públicas voltadas para este segmento.

O Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) constatou que as políticas têm “caráter fragmentado e desarticulado”. A avaliação consta no Relatório Analítico e Parecer Prévio (RAPP) do exercício de 2024, que avaliou ações voltadas à primeira infância no âmbito do Governo do Distrito Federal (GDF) com foco nos eixos de governança, financiamento e cuidado materno-infantil.

A auditoria da Corte buscou avaliar as condições das estruturas de governança estabelecidas no GDF, analisar se o programa de saúde materno-infantil oferece atenção eficaz e eficiente às gestantes e aos recém-nascidos, e se existe política pública implementada que assegure a continuidade e o cuidado no período pós-natal.

“Constatou-se que a política distrital voltada à primeira infância apresenta caráter fragmentado e desarticulado, não configurando um sistema integrado de proteção e desenvolvimento infantil. A ausência de planos de ação continuados e a designação de membros sem formação específica em formulação e monitoramento de políticas públicas comprometem a efetividade do Comitê Gestor Intersetorial, responsável por coordenar a execução das atividades relativas à primeira infância”, diz o documento.


Além disso, foi apontado a falta de clareza e limitações na rastreabilidade dos recursos orçamentários, dificultando a identificação precisa e transparente das ações e dos montantes efetivamente aplicados. Segundo a Corte, a fragilidade compromete o controle social e evidencia falhas na política da primeira infância.

Acesso à saúde

Em 2021, o Executivo distrital instituiu a Política Distrital pela Primeira Infância, legislação que estabelece princípios e diretrizes para a formulação e implementação de políticas públicas da primeira infância, em consonância com a lei federal que instalou o Marco Legal da Primeira Infância.

A norma destaca as áreas prioritárias para as políticas públicas, entre elas: saúde materno-infantil; convivência familiar e comunitária; assistência social à família e à criança; atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e o atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral.

No entanto, as políticas não se concretizam. Durante a fiscalização do TCDF, foram inspecionados 12 centros obstétricos e maternidades, aplicando questionários aos profissionais de saúde. Na avaliação, foram identificadas falhas estruturais, carência de insumos e inadequações sanitárias, irregularidades que apresentam risco à integridade da gestante e do recém-nascido.

Além disso, foi observada a deficiência em unidades básicas de saúde, constatando que os estabelecimentos não atendem o número mínimo de consultas de pré-natal e acompanhamento pediátrico adequado aos bebês. Segundo a Corte, essa lacuna afeta os indicadores de mortalidade infantil na capital federal.

No primeiro trimestre de 2024, o DF registrou 65 mortes de bebês de até um ano. Os dados do InfoSaúde, painel da Secretaria de Saúde, revelam que o número bateu recorde da série histórica desde 2016.

Programa com foco na primeira infância suspenso

De acordo com o Tribunal, a única ação voltada a visitas domiciliares de famílias em condições vulneráveis, o Programa Criança Feliz Brasiliense, foi descontinuado em 2023. De responsabilidade da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), profissionais orientavam sobre práticas de estímulo ao desenvolvimento da criança e tiravam dúvidas sobre acesso a direitos.

Questionado sobre a paralisação do serviço, o órgão afirmou que o programa estava vinculado ao projeto federal Criança Feliz, também descontinuado em 2023. Neste ano, o Ministério do Desenvolvimento, Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) publicou uma resolução alterando o formato da atividade com outras instruções técnicas. A Sedes disse que está fazendo estudos técnicos para nova implementação.

A pasta informou ainda que “norteia grandes políticas públicas em prol da primeira infância”, entre eles o Cartão Prato Cheio, Cartão Gás e DF Social, que entre os critérios prioritários estão famílias chefiadas por mães solo com crianças de até seis anos de idade. Por fim, destacou que o acesso à Bolsa Maternidade agora é entregue no ato do atendimento e não requer agendamento.

Editado por: Clivia Mesquita