quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Descaso —Caos na saúde do DF: pacientes no Hospital de Taguatinga esperam mais de um mês para cirurgias

Quinta, 4 de dezembro de 2025

Internados mostram situação de desespero em vídeos; governo Ibaneis quer cortar R$ 1,1 bilhão da saúde

Brasil de Fato —Brasília (DF)
Postado originalmente no BdF em 2.dez.2025
Luiza Melo

Pacientes internados no HRT sofrem com demora para realizar cirurgias| Crédito: Foto: Breno Esaki/Agência Saúde DF

“Estou há quase quatro dias sem comer, sem beber, esperando essa cirurgia, e até agora nada”. Esse é o relato de uma paciente no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), região administrativa do Distrito Federal, internada desde o dia 20 de novembro para realizar uma cirurgia de vesícula.

A espera de Orleide Rodrigues é a realidade de cerca de outras 20 pessoas que também estão internadas no HRT. Em vídeos gravados por pacientes, é possível dimensionar o desespero de quem aguarda há mais de um mês por procedimentos cirúrgicos de baixa complexidade.

Em outra gravação que o Brasil de Fato DF teve acesso, um paciente mostra a ala de internação lotada. Pessoas com braços e pernas enfaixadas aguardam cirurgias. Uma delas, com lágrimas nos olhos e tala no braço, diz que está internada há 30 dias.

“Olha a situação. Isso é situação do ser humano? Tem pessoas aqui esperando já há mais de 30 dias”, desabafa a pessoa que grava.

Em um dos vídeos recebidos, uma paciente, estressada com a demora, começa a gritar e quebrar equipamentos médicos. A reação não causa estranheza nos demais. A pessoa que grava o incidente justifica: “ela está há mais de quarenta dias aqui”.

Procurada pelo Brasil de Fato DF, a Secretaria de Saúde (SES), responsável pela gestão do hospital, não comentou a situação até o momento desta publicação. O espaço segue aberto para manifestações.

Caos na saúde

O orçamento para a saúde no DF este ano foi de R$13 bilhões. A proposta do Governo do Distrito Federal (GDF) para 2026 aprofunda a crise ao prever um corte orçamentário de R$ 1,1 bilhão na saúde. O Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) precisa ser aprovado pela Câmara Legislativa até 15 de dezembro.

Segundo relatório da Secretaria de Saúde (SES), no primeiro quadrimestre de 2025, a força de trabalho ativa da pasta era de 32 mil. Técnicos de enfermagem representam 28% do total, seguidos por trabalhadores da assistência pública à saúde (18%), médicos (15%), enfermeiros (13%) e especialistas em saúde (11%).

Além da falta de profissionais, a percepção pública do setor também não tem bons indicativos. A percepção de moradores do DF sobre os equipamentos públicos de saúde foi, em maior parte, negativa, segundo dados do ObservaDF, divulgados em 2025. As UBSs foram avaliadas negativamente por 45,6% dos entrevistados. Já os hospitais são desaprovados por 58,5%.

Audiência na CLDF

Diante da situação que a capital federal se encontra, a deputada distrital Dayse Amarílio (PSB) convocou uma audiência pública na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), nesta terça-feira (2), para discutir o dimensionamento de pessoal e a falta de nomeação no Sistema Único de Saúde (SUS).

A escassez de profissionais da saúde tem comprometido o atendimento à população e sobrecarregado os servidores em exercício. Ela argumenta que a rede pública do DF atende, além dos moradores, pacientes do entorno, o que resulta em longas filas, demora no acesso aos serviços e desgaste dos trabalhadores.

“O dimensionamento adequado de pessoal é medida urgente para garantir a qualidade da assistência, reduzir sobrecargas e assegurar o direito constitucional à saúde. Discutir esse tema no âmbito do Distrito Federal é fundamental para que se avance em soluções concretas que assegurem um SUS cada vez mais humano, eficiente e acessível”, justifica Amarílio.

Outro lado

Ao Brasil de Fato DF, a secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) afirmou que o Hospital Regional de Taguatinga é um dos principais da rede pública, e realiza mais de 500 mil procedimentos por ano, entre consultas, exames, cirurgias e atendimentos de emergência.

“Por essa razão, em alguns momentos podem ocorrer muitas demandas no pronto-socorro e na realização de cirurgias. Isso acontece porque as emergências, que exigem atendimento imediato, acabam sendo priorizadas, o que pode gerar maior tempo de espera para os procedimentos eletivos. Ainda assim, todos os pacientes permanecem assistidos e acompanhados pela equipe multiprofissional, que se dedica a garantir a segurança e a continuidade do cuidado durante todo o período de espera”, justificou.

Por atender um número elevado de pacientes, 1.200 todos os dias, a pasta explicou que tem investido em “estratégias para otimizar o giro de leitos e aprimorar a eficiência hospitalar”.

Sobre a falta de profissionais de saúde, a SES-DF afirmou que o governo abriu chamamento público para a contratação temporária de 200 médicos este ano. “Além disso, nos anos de 2024 e 2025, a SES/DF, nomeou 448 técnicos de enfermagem, 294 enfermeiros e 733 médicos especialistas efetivos, todos aprovados em concurso público”, diz a nota.

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*Atualizada às 17h15 com o posicionamento da SES-DF
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Editado por: Clivia Mesquita


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