quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Urbanicídio

Quinta, 14 de outubro de 2010
Por Vicente Vecci
Brasília completou em abril passado 50 anos. É uma cidade que deveria ser diferente das outras.

Fora planejada para ser uma cidade administrativa. E foi a partir de 1988 que a vocação inicial de Brasília começou a mudar. Joaquim Roriz, nomeado governador na época pelo então presidente José Sarney, lançou um dos maiores projetos de atração de migrantes da história do Brasil, com a doação de lotes e moradias. Isso em caráter eleitoreiro, uma vez que a Constituinte promulgada naquele ano dera eleições para o DF.

Isso causou inchaço populacional desordenado, provocado por essa política de migração que teve continuidade nos mandatos seguintes com apoio de um Legislativo local que mais parece uma imobiliária. A infra-estrutura urbana e os serviços públicos essenciais para a população que até então eram eficientes, foram comprometidos.

Diversos assentamentos e cidades satélites foram criados. Daí o DF passou a conviver com o desemprego, a falta de segurança entre outros. As pessoas ganhavam lotes mas não tinham aonde trabalhar numa cidade concebida para ser administrativa. E o resultado dessa política de atração de migrantes vem gerando problemas cada vez maiores. O então governador lançou programas de ocupação de terras públicas para gerar empregos, prejudicando o meio ambiente e favorecendo empresários da especulação imobiliária e construção civil. É o caso do Pro-DF.
A saúde e educação estão deficientes e não atendem como deveria a população. Em suma, o que aconteceu com a nossa Capital tem um nome que pode vir a ser um neologismo criado por nós: urbanicídio. Primeiro atrai-se a migração com doação de lotes em caráter eleitoreiro. A cidade incha em volta e sofre as consequências, o trânsito fica caótico, carece infra-estrutura. Depois vem os gastos com vias, pontes, viadutos, etc. beneficiando empreiteiras, algumas financiadoras das campanhas eleitorais. Surge a necessidade de investir noutras áreas que também tornaram-se precárias. E tudo leva a crer que esse urbanicídio teve continuidade. Basta verificar a aprovação suspeita do PDOT pela Câmara Legislativa, aonde projeta-se novas ocupações urbanas nas áreas rurais, algumas embargadas pelo Ministério Público.
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O jornalista Vicente Vecci é presidente da Ong Ecodefesa