Sábado, 21 de maio de 2011
Por Ivan de Carvalho

A
futrica dizia que o escândalo detonado por matéria do jornal Folha de S. Paulo
sobre o crescimento admirável do patrimônio de Antonio Palocci, durante os
quatro anos em que o petista foi deputado federal e ex-ministro da Fazenda,
deixara felizes diversos e importantes correligionários seus, animados com o
presumido constrangimento ou enfraquecimento político do atual ministro-chefe
da Casa Civil da Presidência da República.
A
futrica chegava ao detalhe de dizer, assim como se isso nada tivesse a ver com
o resto da história, que o ex-chefe da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu,
a pessoa mais influente no PT depois de Lula (ainda segundo a futrica), tem
andado muito sorridente.
Ora,
isso não deve ser verdade, pois Palocci e Dirceu são correligionários, ambos
petistas históricos e de elite (elite petista, que isso fique bem claro, pois
aqui não se intenta qualquer futrica) e foram colegas de ministério no governo
Lula. Na verdade, enquanto ambos estiveram no governo, eram os dois ministros
mais influentes e importantes, Dirceu dando as cartas no setor político e
Palocci na economia. Depois os dois deixaram o governo, cada qual por seus
próprios motivos, que não menciono por desnecessidade, pois a nação bem os
conhece, mas não se tem notícia de que hajam brigado.
Além
disso, a ânsia nacional pela futrica pode ter levado a um erro de observação ou
de interpretação. É que o ex-ministro José Dirceu, para se esconder dentro do
Brasil dos olhares indesejados do regime militar, fez uma cirurgia plástica que
lhe deu uma fisionomia sorridente, mesmo quando nenhum dente está aparente. Ele
é sorridente, não está andando sorridente por aí.
Mas,
encerrando esta digressão, passando da pequena à grande política e voltando ao
assunto lá do começo, Obama conseguiu eliminar Osama, mas – por métodos
totalmente distintos e com intenções opostas, obviamente – fez o trabalho do
inimigo vencido. Pois se Obama quer fomentar o desentendimento no Oriente
Médio, excluindo as já quase nulas possibilidades de paz entre Israel e os
palestinos, com suas organizações apoiadas por alguns Estados belicosos, a
exemplo da Síria e do Irã, ele está conseguindo. Osama ficaria entusiasmado com
isso.
Israel
não admite, em nenhuma hipótese, um acordo pelo qual tenha de voltar às
fronteiras anteriores ao conflito árabe-israelense de 1967, conhecido como “a
Guerra dos Seis Dias”. Isso implicaria, em primeiro e mais importante lugar,
entregar Jerusalém oriental (a antiga Jerusalém). Isso Israel não faz. Até
Jesus deu-se ao trabalho de avisar (ao traçar um quadro de guerra sem paz ali,
no Final dos Tempos, que “Jerusalém será a pedra pesada”, vale dizer, aquela
que não se conseguirá remover para chegar à paz).
Israel,
que declara Jerusalém sua capital “eterna e indivisível”, também insiste em
“fronteiras seguras”, o que implica em preservar assentamentos judeus na
Cisjordânia (que biblicamente eram Judéia e Samaria) e acertar a situação nas
colinas do Golan, estratégicas em relação a um eventual ataque da agressiva
(até hoje) Síria.
O
discurso de Obama alterou o quadro de um modo que deixou Israel sem alternativa
– tem que dizer não. E isso é o avesso de qualquer acordo.
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Este artigo foi publicado
originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.