Segunda, 17 de março de 2014
Por Luciana Genro 
Ao me definir como “Filha de Tarso” no título de sua 
matéria Rosane de Oliveira explora indevidamente uma relação familiar. 
Mas isso é um detalhe perto do editorial “Quem criminaliza?” da ZH  do 
mesmo dia que começa assim: “É desconcertante a defesa que a ex-deputada
 Luciana Genro faz dos jovens indiciados pela Polícia Civil por supostos
 delitos praticados durante manifestações de rua em Porto Alegre, no ano
 passado. Seu primeiro argumento, mesmo diante do inquérito policial 
encaminhado à Justiça com imagens e depoimentos sobre uma depredação 
fartamente documentada, é utilizar a surrada acusação de que estão 
tentando criminalizar os movimentos sociais.”
Primeiro equívoco: “Estão criminalizando os movimentos sociais” é uma
 frase surrada sim, pois esta prática é antiga, mas não é um argumento. É
 uma conclusão diante do indiciamento dos militantes do PSOL e do PSTU, 
que são inocentes. O argumento é que o inquérito é vazio de provas, e 
isso será demonstrado. O argumento é que o PSOL e o PSTU nunca  
endossaram, não incentivaram e  nem defenderam ações isoladas e 
violentas e ambos os partidos tem por política lutar para  mobilizar 
multidões, o que, aliás,  vem sendo extremamente difícil desde que 
alguns decidiram por conta própria realizar ações de quebra-quebra. Os 
dirigentes do PSOL e do PSTU não atuam contra os objetivos do partido, 
por isso o inquérito é uma criminalização do movimento, pois eles são 
indiciados não por terem participado do quebra-quebra mas por serem 
lideranças e organizadores da luta.
Segundo equívoco: o fato do inquérito documentar fartamente a 
depredação, não significa que a participação dos indiciados esteja 
documentada. A depredação ocorreu mas não há “farta documentação” 
demonstrando que os militantes do PSOL e do PSTU participaram dela. Nem 
poderia haver, pois eles não participaram.
Terceiro equívoco: Diz o editorial: “Além disso, sempre é bom lembrar
 que as investigações foram acompanhadas pelo Ministério Público e 
feitas com autorização judicial. Será que também essas instituições 
estariam criminalizando os grupos organizados que participam de 
manifestações?” A verdade é o inquérito policial é uma peça unilateral 
da polícia. O Ministério Público vai se pronunciar depois, assim como o 
judiciário, que não autoriza a polícia a investigar, pois esta não 
precisa de autorização, a não ser para a busca e apreensão. É possível 
sim que estas duas instituições também entrem na onda criminalizatória, 
mas espero que não. Por enquanto a responsabilidade é da Polícia.
Este é apenas o meu primeiro desabafo. Voltaremos a falar disso tudo.
 Segunda feira faremos uma entrevista coletiva do PSOL e do PSTU para 
demonstrar o absurdo destes indiciamentos. 
Zero Hora, 15/03 – Coluna da Rosane Oliveira:
Filha de Tarso critica a polícia
Advogada do militante Lucas Maróstica, um dos sete indiciados pela 
depredação do Palácio da Justiça em um dos protestos do ano passado, a 
ex-deputada Luciana Genro (PSOL) acusou a polícia de estar 
“criminalizando os movimentos sociais”.
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, a filha do governador Tarso Genro
 questionou a atuação da polícia, disse que conhece o inquérito e que 
não há provas contra os indiciados.
Luciana colocou em dúvida a isenção do chefe de Polícia, Ranolfo 
Vieira Jr., lembrando que ele será candidato a deputado estadual pelo 
PTB.
Na mesma linha de Luciana, a presidente do PSTU, Vera Guasso, abraçou
 a tese da criminalização dos movimentos sociais e garantiu que não há 
provas contra os dois militantes do partido indiciados pela Polícia 
Civil.
15 de março de 2014 | N° 1773
EDITORIAL ZERO HORA 15/03
Quem criminaliza?
É desconcertante a defesa que a ex-deputada Luciana Genro faz dos jovens indiciados pela Polícia Civil por supostos delitos praticados durante manifestações de rua em Porto Alegre, no ano passado. Seu primeiro argumento, mesmo diante do inquérito policial encaminhado à Justiça com imagens e depoimentos sobre uma depredação fartamente documentada, é utilizar a surrada acusação de que estão tentando criminalizar os movimentos sociais.
Quem estaria fazendo isso? Seria a polícia do governo Tarso Genro? 
Ora, o governador teve o cuidado de receber lideranças dos movimentos e 
tem sido criticado pela passividade da Brigada Militar cada vez que 
ocorre uma manifestação de rua no Estado.
Quem criminaliza os movimentos sociais, todos sabem disso, são os 
vândalos que se infiltram nas manifestações e abusam da violência. Quem 
criminaliza as mobilizações de manifestantes bem-intencionados são 
aqueles que quebram vidraças, lançam artefatos explosivos, depredam 
veículos e se aproveitam da multidão para agredir e roubar.
Se os jovens indiciados pela polícia fazem parte desse grupo 
delinquente, caberá à Justiça dizer. Pode ser que alguns ou até mesmo 
que todos sejam inocentes. A investigação policial pode ter as suas 
falhas. Difícil de acreditar é que tenha motivação política, não apenas 
pela conhecida orientação do Executivo a respeito dos movimentos 
sociais, mas principalmente pela capacitação e pela idoneidade dos 
policiais que comandam a corporação. Além disso, sempre é bom lembrar 
que as investigações foram acompanhadas pelo Ministério Público e feitas
 com autorização judicial. Será que também essas instituições estariam 
criminalizando os grupos organizados que participam de manifestações?
Acreditamos que tanto o governador quanto a polícia estadual, o 
Ministério Público e o Judiciário têm a mesma visão em relação ao 
episódio, que pode ser resumida numa frase: sim aos movimentos sociais, 
não aos delinquentes.
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Fonte: site de Luciana Genro
Leia também: 
Militantes do PSTU e ativistas do Bloco de Lutas do Rio Grande do Sul são indiciados por organizarem protestos
Nota do PSTU RS sobre o indiciamento de militantes do PSTU, PSOL e Bloco de Lutas no inquérito 17/2013
À direita, Matheus Gomes participa de manifestação de rua em Porto Alegre
 Já havíamos denunciado os procedimentos de busca e apreensão na casa 
dos ativistas do bloco em 1 de outubro de 2013, como também o pedido 
negado de prisão preventiva pelo Ministério Público como parte de um 
inquérito com fins políticos para criminalizar os movimentos sociais 
organizado pelo Governo Tarso Genro e a polícia gaúcha
 O resultado do inquérito com o indiciamento pelos crimes de posse e 
emprego de explosivos, furto qualificado, dano simples e qualificado e 
constituição de milícia privada reforça ainda mais nossas opiniões de 
que se trata de uma tentativa de criminalizar os movimentos sociais.
 Todo o inquérito se baseia no papel que os manifestantes cumpriram nas 
mobilizações, ao organizar as manifestações e defenderem publicamente 
alternativas para a questão do transporte público, ou seja, pelo papel 
político que cada um cumpriu durante as grandes mobilizações de junho.
 O inquérito usa o que chama de “domínio do fato” para concluir que os 
ativistas, por organizarem as mobilizações, são os "instigadores" de 
atos criminosos. Não há nenhuma prova concreta no inquérito que só se 
baseia no papel político que os ativistas cumpriram nas manifestações. O
 inquérito chega a justificar a formação de “ milícia” com a afirmação 
de que os manifestantes possuem uma “ideologia perigosa” em comum. 
 Estamos perante a um profundo ataque a todos os movimentos sociais. 
Trata-se de uma perseguição política ao movimento e uma tentativa de 
ferir princípios constitucionais de liberdade de expressão, direito à 
organização e manifestação.