sexta-feira, 5 de setembro de 2014

'Tsunami' Marina?

Sexta, 5 de setembro de 2014
Por Marcello Barra - sociólogo (UnB)
É um equívoco e uma naturalização considerar a candidatura de Mariana como um tsunami. Há bases muito concretas e políticas, portanto não-naturais do fenômeno:
 
- A mídia em geral deu enorme cobertura à morte de Eduardo Campos, ligando o fato à Marina. E, como mostrou pesquisa Ibope, o motivo que mais define o voto são 'Notícias na TV' (55% - Ibope julho 2014, pergunta 09, p. 31. conversa com amigos, colegas, familiares 48%). A cobertura dada não foi acidental, foi completamente deliberada e com o intuito de puxar a candidatura de Marina Silva, que é ainda mais palatável ao Capital do que a de Dilma, porque explicita o retorno ao neoliberalismo, dada a base social da candidatura da acreana ser muito mais amorfa, fluida e menos presa a uma construção de esquerda como foi o PT.
 
- O grande volume de votos em 2010 - 19,6 milhões -, que Marina trouxe como um capital. E que aparecia bem nas pesquisas antes de ela não ser capaz de legalizar o partido Rede.
Em segundo plano, explicativo do 'fenômeno' Marina:
 
- Pesquisas de opinião mostram um desejo de que 'mudasse muitas coisas' (41%) ou 'totalmente' (29%) no governo do país em relação ao da Dilma. (Ibope - julho 2014, pergunta 08, p. 30)
 
- Identidade: mulher negra, ex-doméstica, do Norte, 'Silva'. Padrão da opressão em múltiplas identidades no Brasil. Sem falar o oposto, que é cristã, como a esmagadora maioria do povo brasileiro.
 
Em terceiro plano:
 
- Marina opera a demagogia do não-conflito, numa política obviamente de conciliação de classes, que explora mitos ampla e profundamente desenvolvidos pela burguesia no Brasil como ideologia (de uma suposta 'cordialidade' e harmonia de raças). Deve-se considerar, nesse aspecto, que não foi feita uma revolução ao longo da história do Brasil.
 
Complementa este texto, finalmente, a análise da conjuntura apresentada por Sérgio Granja em O que está em jogos nestas eleições:
http://laurocampos.org.br/2014/08/o-que-esta-em-jogo-nestas-eleicoes/