Segunda, 2 de março de 2015
Paula Laboissière - Repórter da Agência Brasil
Levantamento
do Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgado hoje (2) aponta o
sucateamento de 952 unidades básicas de saúde fiscalizadas pelo órgão.
Os dados mostram que 331 estabelecimentos tinham mais de 50 itens em
desconformidade com o estabelecido pelas normas sanitárias, enquanto 100
apresentavam mais de 80 itens fora dos padrões. Em 38 unidades
visitadas, não havia sequer consultório médico.
De acordo com o
CFM, foram fiscalizados ambulatórios, unidades básicas de saúde, centros
de saúde e postos dos programas de Saúde e de Estratégia da Família do
Sistema Único de Saúde (SUS), nos quais avaliaram-se questões como
estrutura física das unidades, itens básicos necessários para o
funcionamento de um consultório e condições higiênicas.
"Essa
amostra revela uma tendência. Sabemos, por meio de reclamações e
protestos dos médicos, das dificuldades. Estamos apenas colocando em
números", disse o presidente do CFM, Carlos Vital. "[O quadro] reflete o
descaso, o descuido e a ausência de uma política de recursos humanos
para o Sistema Único de Saúde", completou.
O levantamento mostra
que 37% das unidades fiscalizadas não tinham sanitário adaptado para
pessoas com deficiência; 25% não tinham sala de esterilização; 22% não
dispunham de sala de espera com bancos ou cadeiras apropriados para os
pacientes; e 18% não contavam com sala ou armário para depósito de
material de limpeza.
Dos consultórios visitados, 521 não tinham
negatoscópio (utilizado para visualizar resultados de raio X); 430
estavam sem oftalmoscópio (usado para diagnóstico de doenças oculares);
em 272, faltavam tensiômetros (utilizado para aferir a pressão); 235
estavam sem estetoscópios, que servem para amplificar sons corporais,
como batidas do coração; e, em 106 deles, não havia termômetros.
Quanto
aos itens básicos de higiene, 23% dos consultórios fiscalizados não
tinham toalhas de papel; 21% estavam sem sabonete líquido; e, em 6%, não
havia pia para higienização do médico após a consulta.
O
levantamento também mostrou que 29% dos estabelecimentos não tinham
seringas, agulhas e equipamentos para aplicações endovenosas. Em 74%
dessas unidades, faltavam ainda desfibriladores; em 49%, não havia
medicamentos para atendimento de parada cardiorrespiratória; e 59% não
tinham ressuscitadores manuais do tipo balão autoinflável.
Por
fim, o levantamento revelou que mesmo as salas de procedimentos não têm
condições de atendimento adequado, já que, em 11% das unidades
fiscalizadas, faltava material para curativos e retirada de pontos e 5%
não obedeciam às normas de esterilização sanitárias.
O CFM
alertou ainda que 8% das unidades visitadas estavam sem vacinas e, em
5%, o acondicionamento era feito de forma inadequada – em refrigeradores
sem termômetros externos. Seis por cento dos estabelecimentos estavam
com medicamentos em falta e, em 4%, estavam sendo distribuídos remédios
com validade vencida. Além disso, em 13% dos postos, não havia controle
para a movimentação de medicamentos controlados.
O levantamento será encaminhado aos secretários estaduais de Saúde e ao Ministério Público Federal.
Por
meio de nota, o Ministério da Saúde informou que desenvolve há quatro
anos um programa para construção e melhoria de unidades básicas de Saúde
(UBS). O objetivo do projeto Requalifica UBS, segundo a pasta, é firmar
parcerias com os municípios para que os gestores locais possam
estruturar os postos de saúde e oferecer melhor atendimento à população.
“Desde
2011, quando o programa foi criado, o governo federal já liberou mais
de R$ 5 bilhões para que os municípios pudessem construir ou aperfeiçoar
26 mil UBS em todos os estados brasileiros. Dessas, há 24.935 obras em
execução, das quais 22.782 estão em andamento ou já foram concluídas.
Outras 14 mil unidades entrarão em obras nos próximos anos”, informou o
ministério.
Atualmente, estão em funcionamento no Brasil 40,6 mil
UBS. Ainda de acordo com a pasta, o investimento atual na atenção
básica dobrou nos últimos quatro anos, alcançando R$ 20 bilhões em 2014.
“Cabe reforçar que a gestão do SUS é tripartite, com autonomia dos
entes federados, e que a implementação das ações e serviços de atenção
básica é responsabilidade direta dos municípios. O Ministério da Saúde
cofinancia e apoia tecnicamente a execução e desenvolvimento da política
nacional desse setor.”