Domingo,
26 de abril de 2015
Da
Tribuna da Imprensa
Por
Daniel Mazola

“Esses
programas são desrespeitosos com os cidadãos. Antes de fazer a pesquisa, já
conhecia a estrutura básica deles, mas nunca os acompanhei. No
entanto, no processo de pesquisa, foi terrível ver como os apresentadores, de
modo geral, se dão permissão para serem absolutamente grosseiros com os
entrevistados, os suspeitos, as vítimas, e, inclusive, com a própria equipe dos
programas”, observa o mestre Davi Romão, Instituto de Psicologia da USP.
Com
audiências de números impressionantes, obtidas a partir de um conteúdo
relacionado à violência, os programas de televisão, da mídia corporativa, que
veiculam o chamado jornalismo policial exercem um forte impacto sobre seus
telespectadores. Para compreender como se dá esse processo de influência social
resultante da exposição sistemática à criminalidade na mídia, Davi Romão
desenvolveu a dissertação de mestrado Jornalismo policial: indústria
cultural e violência, apresentada no Instituto de Psicologia da USP.
Durante
cinco anos de pesquisa, a qual envolveu a leitura de uma ampla bibliografia
sobre o tema e a análise de edições dos programas Brasil Urgente,
Cidade Alerta e Balanço Geral, o estudo examinou a
construção dessas atrações, feita sobre três pilares comuns: os clichês, o
discurso autoritário e o sensacionalismo. Os programas de jornalismo policial,
a partir do uso de estereótipos, posicionam-se como referências na temática da
violência e adotam uma estratégia de cunho apelativo para envolverem os
telespectadores, método que contribui para enraizar nas pessoas a perspectiva
de que estão constantemente rodeadas pela ameaça da criminalidade.
Essa
estrutura resulta em uma abordagem superficial da violência e revela aspectos
importantes a respeito da sociedade brasileira. “A grande audiência desses programas
se deve ao fato de que nossa sociedade tem uma cultura autoritária, violenta,
moralista e incapaz de fazer análises políticas e sociais minimamente
profundas”, segundo Romão.
Paranoia e conformismo
Outros
resultados da construção desses programas são o estímulo, na sociedade, de um
sentimento de conformismo e de uma relação de paranoia
com a realidade, a qual se deve, principalmente, ao formato adotado por essas
atrações, que fazem uso do medo para a construção de seu conteúdo. Para Romão, esse
é um dos problemas mais graves desse tipo de programa e é uma questão que
deveria ser pensada atentamente.
“Precisamos refletir sobre como essa maneira
paranoica de lidar com a violência, presente nesses programas e, certamente,
disseminada no imaginário social, é nociva para todos os envolvidos, inclusive
as vítimas imediatas da violência”, ressalta. Outro efeito promovido por
essas atrações é a repulsa em relação ao criminoso, visto que o discurso usado
pelos programas incita o ódio dos telespectadores em relação aos infratores, o
que contribui para a consolidação de estereótipos e atrapalha o processo de
ressocialização daqueles que passaram pelo sistema penitenciário.
No
entanto, é curioso perceber que, antes de qualquer coisa, essas atrações
representam uma violência contra a própria população. “Esses programas são
desrespeitosos com os cidadãos. Antes de fazer a pesquisa, já conhecia a
estrutura básica deles, mas nunca os acompanhei. No entanto, no processo de
pesquisa, foi terrível ver como os apresentadores, de modo geral, se dão
permissão para serem absolutamente grosseiros com os entrevistados, os
suspeitos, as vítimas, e, inclusive, com a própria equipe dos programas”,
observa.
“É uma tristeza ver que esse grau de
desrespeito pelo outro pode ser algo valorizado na nossa sociedade, pode ser
algo que faz com que esses apresentadores construam a imagem de
‘autoridades’ ".
Diariamente
nos deparamos com matérias “jornalísticas” que ferem a ética e maculam a
imagem dos profissionais de Comunicação. Sobretudo quando se está assistindo
Televisão, especialmente os “programas policiais”, ou navegando em portais de
notícia na grande rede. Mas o cerne do problema estará longe de ser
solucionado, porque reside na carência ética e moral a qual o Jornalismo
brasileiro vive.
No
ramo jornalístico sempre tivemos “profissionais” que desonram a profissão, é
perceptível que ainda há “picaretas” atuando como jornalistas, seja no
jornalismo de mercado ou nos jornais de bairro, bem como há pessoas graduadas
academicamente e habilitadas em Jornalismo que não agem de forma condizente à
sua formação. Prejudicando todos nós.
Por
fim, é principalmente na chamada “grande mídia”, que questões éticas
relacionadas aos jornalistas são deixadas de lado por patrões e chefias, porque
não atraem a tão desejada e necessária AUDIÊNCIA, não geram acesso e lucros
fabulosos, não aumentam pontuação do Ibope.
Até
quando?
*Com informações do Instituto de Psicologia da USP. Em 14/01/2014.