Sábado,
20 de junho de 2015
Da
Tribuna da Internet
Pedro
do Couto
O título acima, creio, enfoca bem o impacto político
produzido pelas fortíssimas críticas feitas pelo ex-presidente Lula à
presidente Dilma Rousseff durante encontro com religiosos, quinta-feira
passada, na sede do Instituto que leva o seu nome. As críticas estão
registradas literalmente na extraordinária reportagem de Tatiana Farah e
Juliana Granjeia, na edição de hoje, sábado de O Globo. A matéria é tão
importante que o jornal a divulgou com exclusividade. Isso significa dizer que
não a colocou em seu site as primeiras horas da madrugada, quando ocorre o
fechamento das edições e eles começam a circular.
Me lembrei do título de Hélio Silva: “A História não
espera o amanhecer”. Sim. Porque a reportagem de Tatiana Farah e Juliana
Granjeia possivelmente vai representar um episódio muito intenso do quadro
político brasileiro.
Luiz Inácio Lula da Silva disse aos religiosos, no
encontro de São Paulo, que iria abrir seu coração e acrescentou que cabe a
Dilma Rousseff a responsabilidade pela crise vivida pelos petistas,
enfatizando: “Dilma e eu estamos no volume morto. o PT está abaixo do volume
morto”.
A comparação foi inspirada na crise hídrica que atinge
principalmente o estado de São Paulo, refletindo-se no nível das represas que
abastecem a cidade e a região metropolitana. Por aí se percebe a dimensão da
contrariedade que gerou a revolta do antecessor e grande eleitor da atual
presidente.
LULA ABALA DILMA
As afirmações de Lula abalam Dilma Rousseff, projetando-a
numa faixa de alto risco político, além de pressioná-la para que ela realize
mudanças substanciais na sua equipe de governo e também na política econômica
que colocou em prática traçada, como se sabe, pelo Joaquim Levy.
Lula enfatizou inclusive a ocorrência de um fracasso,
dizendo “aquele gabinete presidencial é uma desgraça. Não entra ninguém para
dar uma notícia boa. Essa coisa se perdeu”. O ex-presidente assinalou que tem
conversado com Dilma e tem dito para que ela vá em frente, ponha o pé na
estrada, e não tema as vaias. “Os ministros têm de falar; mas não falam. Parece
um governo de mudos”. Lula disse também que tem chamado atenção do ministro
Aloizio Mercadante dizendo que ele deveria fazer mais discursos públicos.
Criticou o empenho de Dilma na aprovação do ajuste fiscal. Depois do ajuste,
vem o quê? Perguntou a Dilma: “Companheira você se lembra qual foi a última
notícia boa que demos ao Brasil? Ela não se lembrava”.
FATOS NEGATIVOS
O ex-presidente apontou uma série da fatos negativos no
governo. Primeiro, a inflação; segundo, aumento na conta da água; terceiro,
aumento na conta de luz, que para alguns consumidores triplicou; quarto,
aumento da gasolina, do diesel e do dólar. Neste ponto subiu o tom. O FIES que
era um sistema tranquilo virou uma desgraceira sem precedentes. E o anúncio de
que ia mexer nas pensões e nas aposentadorias dos trabalhadores? Lula destacou
também as promessas da candidata na recente campanha eleitoral e que não foram
cumpridas no governo. Transcreveu, inclusive as palavras da presidente de que
não mexeria no direito dos trabalhadores nem que a vaca tossisse. Entretanto –
ressaltou – mexeu. Afirmou também que não ia fazer ajuste porque isso é coisa
de “tucano”. Apesar disso fez o ajuste. Por este motivo é que os próprios
tucanos estão colocando na TV afirmações de que ela mentiu.
Os destaques alinhados por Luiz Inácio Lula da Silva,
evidentemente, possuem direção certa. Uma espécie de ultimato visando a que o
Palácio do Planalto altere os rumos da política econômica, em particular, e do
governo de modo geral. Com isso, ao deslocar a presidente da República para uma
escala de risco, ele no fundo está propondo, é claro, uma reforma substancial
na atuação do Executivo. Pois não teria cabimento assumir uma postura de
oposição frontal, uma vez que isso prejudicaria sensivelmente seu projeto de
retornar ao poder através das urnas de 2018.
NOVO ESFORÇO
Assim ao colocar de forma tão forte suas discordâncias
Lula está propondo um novo esforço do Planalto para um plano de concordância e
convergência. Por isso o conteúdo de sua manifestação baseia-se num objetivo de
mudança, sem a qual, sob seu ponto de vista, uma atuação positiva do governo
atual a ele parece, tacitamente ser impossível.
As mudanças que ele destacou de forma genérica
dividir-se-ão, é claro, em pontos a serem concretizados na prática. Entre eles,
a alteração ministerial e a mudança do rumo econômico e social. Portanto, a
equipe chefiada por Joaquim Levy sofreu seu grande abalo político desde que
assumiu o comando da economia brasileira. A equipe econômica, dessa forma,
transformou-se em alvo, não só da oposição, não apenas das ruas, mas a partir
de agora também do principal pilar de sustentação de Dilma Rousseff junto a
opinião pública, o que significa junto à sociedade.
A presença política de Lula é extremamente importante para
que o governo possa respirar. Caso contrário poderá submergir num mar das
próprias contradições configuradas nos discursos da candidata e nas ações da
presidente.