Quarta-feira, 2 de março de 2016
Por Celso Lungaretti
Conforme relatei aqui,
a União tem utilizado todo seu arsenal jurídico para retardar o
cumprimento da decisão do ministro da Justiça, que em outubro de 2005 me
concedeu indenização retroativa por haver tido minha carreira
profissional extremamente prejudicada pela ditadura de 1964/85.
Os leigos podem estranhar a ênfase que a Comissão de Anistia deu ao dano
profissional, colocando-o, na fixação das reparações, em plano superior
aos transtornos de ordem física, psicológica e moral sofridos pelos
resistentes.
Mas, ainda que discutível, o critério tinha lá alguma razão de ser:
quase todos que lutamos contra o arbítrio enfrentamos dificuldades
imensas em nossas trajetórias profissionais, sujeitos a demissões
injustificadas, a uns patrões não nos empregavam por preconceito
ideológico, outros por temerem ser, de alguma forma, prejudicados, etc.
Assim, um Carlos Heitor Cony, escritor e jornalista consagrado, de
repente viu todas as portas se fecharem, exceto uma: só não ficou na rua
da amargura porque o direitista Adolpho Bloch lhe estendeu a mão. Ou
seja, salvou-o a solidariedade judaica, enquanto lhe faltava a dos que
tinham afinidade com seus ideais.
Até o fim da ditadura só consegui trabalhar à margem dos veículos
importantes, tendo de atuar em assessorias de imprensa e revistas de
cinema e música (nas quais era obrigado a utilizar pseudônimo para não
atrair a atenção da censura, e mesmo assim não escapei de um processo
desta ordem, que acabou não dando em nada além de muita amolação).
Minha carreira jornalística foi, ainda, comprometida pela má audição,
pois as torturas me causaram uma lesão permanente no tímpano do ouvido
direito. Impossibilitado de fazer entrevistas ao vivo, jamais pude
trabalhar nas tevês e só atuei em rádio durante um semestre, na
retaguarda.
Os valores que me foram atribuídos pela Comissão de Anistia bastariam
para minha subsistência e para fazer frente aos compromissos com meus
vários dependentes, desde que recebesse tudo que a portaria ministerial
determinou: pensão vitalícia e indenização retroativa.
Quando a segunda se tornou uma história sem fim, passei a me defrontar
com sucessivos apuros financeiros. Minha atuação no Caso Battisti acabou
com qualquer chance que ainda pudesse ter de voltar a atuar na grande
imprensa (preconceitos relativos à idade também pesam contra mim). Mas,
confiante em que o desfecho do mandado de segurança não tardaria, fui
sobrevivendo, do jeito que deu. Algumas pequenas heranças me ajudaram a
manter-me à tona.
Mas, como o processo se alonga muito além do plausível e aceitável, é
cada vez maior minha dificuldade para continuar administrando as
situações críticas.
Então, sou obrigado a, como o saudoso Joe Cocker, pedir a little help from my friends
(e também dos que, mesmo não sendo meus amigos ou companheiros de
ideais, ainda conservaram o espírito de Justiça e a capacidade de
indignar-se com os abusos dos poderosos). Eis algumas possibilidades:
- publicarem e/ou repassarem esta mensagem, pois assim aumentará a chance de chegar às mãos de quem possa solucionar o problema;
- alertarem associações e cidadãos defensores dos direitos humanos;
- enviarem mensagens ao novo titular da AGU, José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União -- Setor de Indústrias Gráficas (SIG) -- Quadra 06 -- Lote 800 -- CEP 70610-460 -- Brasília/DF), na esperança de que, também neste caso, eles coloque o dever funcional acima das considerações de outra ordem; e
- lembrarem/indicarem meu nome a quem estiver precisando de serviços jornalísticos e de assessoria de imprensa. Tenho longa experiência como repórter, redator, editor, editorialista, articulista, crítico e administrador de crises.
Toda ajuda será muito bem-vinda. Iniciei minha militância num momento em
que, enfrentando um inimigo bestial, tínhamos bem clara a necessidade
de unirmo-nos, independentemente de linhas, facções, partidos e
tendências, e até contra as posições mesquinhas de certos dirigentes.
Quando conseguimos reencontrar este espírito, conquistamos uma vitória
épica, salvando o companheiro Cesare Battisti das garras do Berlusconi.
Temos de continuar buscando a união e solidariedade das forças
verdadeiramente de esquerda, pois ela será fundamental na travessia dos
tempos duros que vêm por aí.